Somos iguais ou diferentes?

A personalidade das mulheres e homens no meio empresarial, analisada por Adriano Freire, presidente do STRAT&EGOS Institute e professor da Universidade Católica Portuguesa e do The Lisbon MBA, que acaba de lançar o seu novo livro "Estratégia Criação de Valor Sustentável em Negócios Tradicionais e Digitais".

Adriano Freire é presidente do STRAT&EGOS Institute e Professor da Universidade Católica Portuguesa e do The Lisbon MBA.

Todas as pessoas são diferentes porque cada uma tem a sua própria personalidade, um padrão único e relativamente consistente de sentimentos, pensamentos e comportamentos. E as características distintivas da sua personalidade revelam-se todos os dias nas atividades pessoais e interações sociais, tanto no ambiente doméstico como no meio profissional.

Mas por também haver várias características comuns entre diferentes personalidades, é possível enquadrar as pessoas em quatro perfis EGOS:

  • Perfil Empreendedor (E): Os Empreendedores são orientados para os objetivos e gostam de competir e superar novos desafios. Ambiciosos e dispostos a correr riscos, encaram eventuais insucessos como experiências de aprendizagem e raramente desistem. Graças à sua apurada sensibilidade visual (no lobo occipital do cérebro), são muito imaginativos e preferem trabalhar em ambientes com grande liberdade de decisão. Contudo, a sua autoconfiança, urgência e proatividade são por vezes interpretadas como arrogância, agressividade e egocentrismo pelas pessoas dos restantes perfis.
  • Perfil Governador (G): Os Governadores são orientados para os processos e gostam de ser rigorosos e seguir as regras estabelecidas. Metódicos e perfeccionistas, recolhem e analisam muita informação para minimizar a incerteza. Graças à sua racionalidade (no lobo frontal do cérebro), são bastante lógicos e preferem trabalhar em ambientes estruturados que controlem. Contudo, a sua estabilidade, atenção ao detalhe e necessidade de segurança são por vezes interpretadas como rigidez, conservadorismo e pessimismo pelas pessoas dos restantes perfis.
  • Perfil Operacional (O): Os Operacionais são orientados para a execução e gostam de viver sem pressão e ter rotinas regulares. Pragmáticos e improvisadores, mantêm a calma e adaptam-se às circunstâncias. Graças à sua apurada sensibilidade somatossensorial (relacionada com o tato, o olfato e o paladar – no lobo parietal do cérebro), são muito práticos e preferem trabalhar em ambientes com múltiplas tarefas manuais. Contudo, a sua passividade, humildade e discrição são por vezes interpretadas como indecisão, insegurança e desinteresse pelas pessoas dos restantes perfis.
  • Perfil Social (S): Os Sociais são orientados para as pessoas e gostam de desenvolver novos relacionamentos e partilhar experiências com amigos. Cordiais e persuasivos, promovem a cooperação na equipa e motivam os colegas. Graças à sua apurada sensibilidade auditiva (no lobo temporal do cérebro), são muito comunicativos e preferem trabalhar em ambientes informais e inspiradores. Porém, a sua emotividade, impulsividade e alegria são por vezes interpretadas como inconsistência, superficialidade e irrealismo pelas pessoas dos restantes perfis.

Naturalmente, cada indivíduo integra à sua própria maneira diferentes elementos dos quatro perfis EGOS, de que resulta o seu posicionamento no Mapa EGOS. Assim, o Mapa EGOS representa graficamente a diversidade humana.

 

Mapa EGOS

Fonte: Freire, Adriano (2020). Estratégia – Criação de Valor Sustentável em Negócios Tradicionais e Digitais, Bertrand Editora.

 

De acordo com as estimativas demográficas e psicográficas da população mundial, os perfis Empreendedor e Social representam, cada um, cerca de 10% do total, enquanto os perfis Governador e Operacional representam, cada um, cerca de 40%. A clara predominância destes dois perfis pode estar relacionada com a crescente estruturação das sociedades modernas, que induz as pessoas a aderir às normas de conduta (G) e a adotar rotinas diárias (O) para poderem lidar com a complexidade da vida pessoal e profissional.

A distribuição dos géneros no Mapa EGOS também não é uniforme:

  • Há muito mais mulheres no perfil Social do que homens.
  • Há muito mais homens no perfil Empreendedor do que mulheres.
  • Há um equilíbrio entre mulheres e homens nos perfis Governador e Operacional.

Assim se percebe os estereótipos populares que associam a emotividade e a socialização ao género feminino e a competitividade e o individualismo ao género masculino… Mas cada pessoa deve assumir e desenvolver as suas próprias características de personalidade, independentemente da frequência de género no seu perfil. Importa ainda salientar que os indicadores internacionais de capacidade intelectual não demonstram diferenças estatísticas entre os géneros.

Entretanto, no meio empresarial, tem-se verificado que os perfis EGOS tendem a evoluir na carreira de forma distinta. De facto, em média, os Governadores constituem cerca de 50%-60% dos colaboradores em todos os níveis hierárquicos das organizações, apesar de só terem um peso estimado de 40% na população geral. Já os Empreendedores, que só são cerca de 10% da população geral, representam 30%-40% dos diretores e gestores das empresas. Por seu lado, os Operacionais, que correspondem a cerca de 40% da população geral, constituem quase 30% dos colaboradores de base nas hierarquias organizacionais, mas têm pouca expressão nos níveis de gestão. Finalmente, os Sociais, que têm um peso estimado de 10% na população geral, constituem quase 15% dos colaboradores de base, mas estão praticamente ausentes dos níveis hierárquicos mais elevados das empresas.

Distribuição dos Perfis EGOS por nível hierárquico nas empresas

Distribuição dos perfis EGOS por nível hierárquico nas empresas

Fonte: Freire, Adriano (2020). Estratégia – Criação de Valor Sustentável em Negócios Tradicionais e Digitais, Bertrand Editora.

 

Vários fatores podem explicar esta distribuição assimétrica dos perfis EGOS no contexto empresarial. Desde logo, o maior peso estimado dos Governadores e Operacionais na população geral tende a facilitar a sua contratação maioritária para os níveis iniciais das hierarquias. Contudo, os Governadores mantêm ou até reforçam a sua presença nos níveis superiores, por serem muito metódicos e organizados.

Pelo contrário, os Operacionais perdem representatividade nos cargos de gestão, sobretudo devido à sua necessidade de fugir à pressão, que os inibe de tomar decisões difíceis e os mantém centrados nas rotinas processuais.

Por outro lado, a predisposição inata dos Empreendedores, maioritariamente homens, para competir e alcançar objetivos ambiciosos, justifica a sua ascensão aos níveis mais elevados das hierarquias empresariais, onde conseguem superar 3-4 vezes o seu peso estimado na população geral.

Os Sociais, maioritariamente mulheres, são assim os menos representados nos cargos de gestão, por terem mais dificuldade em se adaptar a ambientes regrados e competitivos, onde a sua sensibilidade emocional não é muito valorizada. Não admira pois que o meio empresarial seja considerado muito «masculino»…

O predomínio dos líderes Governadores e Empreendedores nos níveis mais elevados das hierarquias reflete-se naturalmente na condução das organizações. Como ambos os perfis são bastante diretivos, centram-se sobretudo na tomada das decisões críticas ao futuro da empresa. Já os líderes Operacionais e Sociais têm um papel crucial para a sua efetiva execução.

De facto, os Operacionais conseguem avaliar muito bem se as decisões serão realmente exequíveis pela empresa e têm uma capacidade inata para encontrar soluções práticas que viabilizem a sua concretização. E os Sociais fazem facilmente a ponte entre propostas divergentes para criar um consenso em torno do rumo da organização e conseguem ainda motivar muito bem os colaboradores para a sua implementação.

Em conclusão, as mulheres e os homens são simultaneamente iguais e diferentes. E é por isso que todos são necessários para enriquecer a gestão da empresa: os Empreendedores são intuitivos e criativos, os Governadores analíticos e estruturados, os Operacionais pragmáticos e adaptáveis e os Sociais harmoniosos e comunicativos. Só em conjunto é que as mulheres e os homens estão em condições de assegurar que as organizações são bem-sucedidas!

O novo livro de Adriano Freire

 

Estratégia – Criação de Valor Sustentável em Negócios Tradicionais e Digitais é um manual sobre estratégia empresarial. Dirigido a executivos e leitores interessados nos modernos conceitos de gestão e economia, o livro inclui mais de 1500 exemplos práticos de empresas portuguesas e estrangeiras, figuras, tabelas e mapas explicativos. Esta obra aborda de uma forma prática todos os temas mais atuais de estratégia, aplicando-os não só aos negócios tradicionais, como também aos novos negócios digitais. E a relevância estratégica da sustentabilidade é também reconhecida, e a criação de valor sustentável quantificada.

Adicionalmente, a obra inclui diversos anexos centrados na vertente comportamental da estratégia. As práticas modernas de formulação e execução estratégica valorizam cada vez mais a dimensão humana, tanto na perspetiva interna (cultura, liderança, equipas, etc.), como na perspetiva externa (clientes, marketing, vendas, etc.). Assim, este livro aplica o modelo de personalidade Mapa EGOS, apresentado no anterior livro de Adriano Freire, aos temas comportamentais mais relevantes para a estratégia e liderança.

Para ilustrar algumas das melhores práticas estratégicas internacionais, o livro Estratégia – Criação de Valor Sustentável em Negócios Tradicionais e Digitais contém ainda onze breves casos sobre algumas das empresas e dos grupos económicos de maior sucesso à escala global – Zara, Huawei, Microsoft, Airbus, Airbnb, Toyota, Havaianas, Samsung, Farfetch, Netflix e McDonald’s –, assim como um caso sobre a pandemia do coronavírus.

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