Licenciada em Engenharia e Gestão Industrial pelo Instituto Superior Técnico, Gabriela Fabião trabalhou na Noruega, de 2011 a 2016, na gestão de projectos em multinacionais do sector de Oil & Gas. Ao regressar a Portugal fez o The Lisbon MBA, que a levou a fazer parte da equipa de gestão das Clínicas Dentárias Santa Madalena.
“Uma das primeiras medidas tomadas pelo Governo, mesmo antes da declaração do Estado de Emergência, foi o encerramento das clínicas dentárias, que se viram obrigadas a cessar a sua actividade por despacho governamental no início desta crise (Despacho nº 3301-A/2020 de 15/03), com a excepção de situações clínicas comprovadamente urgentes e inadiáveis.
Como é sabido, a actividade de medicina dentária representa actualmente um dos maiores riscos de contágio, quer para os próprios médicos dentistas e assistentes, quer para os pacientes, devido à proximidade entre as pessoas durante o tratamento e também pela pulverização de gotículas (aerossóis) gerada durante alguns tratamentos dentários.
Neste contexto, e também de acordo com as indicações da Direcção Geral de Saúde, toda a actividade de medicina dentária viu-se forçada a fazer uma travagem brusca, de um dia para o outro. No nosso caso, a bordo temos mais de 300 médicos dentistas, 360 colaboradores, 140 gabinetes nas nossas 14 Clínicas. Suspendemos totalmente a nossa actividade de acordo com o despacho governamental, e optámos por aceitar as condições excepcionais oferecidas pelo regime de lay-off simplificado, não deixando de salvaguardar o atendimento a todos os pacientes que necessitem de ser tratados com carácter de urgência, após um rigoroso processo de triagem telefónica com o nosso corpo clínico.
Nas Clínicas Dentárias Santa Madalena, somos responsáveis pela saúde oral de mais de meio milhão de pacientes por ano, e tivemos de nos adaptar rapidamente para corresponder totalmente à expectativa e confiança que os pacientes depositam em nós. A nossa capacidade de adaptação foi, sem dúvida, um factor crítico de sucesso para manter todas as pessoas em segurança, procurando os Equipamentos de Protecção Individual adequados para assegurar as urgências, colocando os colegas que garantem a continuidade da actividade em teletrabalho (contact-center, back-office, equipa de gestão), e todos os restantes colaboradores em lay-off. Podemo-nos orgulhar de não ter dispensado nenhum colaborador. Outro importante factor crítico de sucesso foi a estreita relação entre a Direcção de Gestão e a Direcção Clínica, em que os Gestores e os Médicos Dentistas trabalharam em estreita sintonia para viabilizar um plano que permitisse garantir a qualidade da consulta com total segurança, neste novo contexto de responsabilidade social.
Temos vivido diariamente grandes desafios pessoais e profissionais. Enquanto gestora, a minha missão é encontrar soluções para continuarmos a trabalhar, manter o ânimo das nossas equipas e a satisfação dos nossos pacientes, aproveitando as oportunidades que surgem para pensar de forma diferente, já que estamos sem dúvida perante uma alteração do nosso paradigma: “ir ao dentista poderá não voltar a ser igual”. Este é um bom exemplo da frase do Darwin: “Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças”, principalmente neste novo contexto mais VUCA que nunca!
O meu trabalho diário deixou de ser fisicamente nas 5 clínicas de Lisboa que coordeno, para passar a gerir as 5 equipas à distância, em frente ao computador e telefone, com acesso às diferentes plataformas que a internet nos disponibiliza. As telereuniões deixaram de ser ocasionais para passarem a ser o modus operandi, e assim diariamente reúno com as Equipas, bem como com a Direcção da empresa. Adaptámo-nos todos muito rapidamente e também o processo de tomada de decisões acelerou. Actualmente estamos de facto mais próximos e em contacto a todo o tempo.
Do meu ponto de vista, o maior desafio é confiar que estamos a tomar as decisões correctas a cada momento, uma vez que estamos a explorar caminhos novos. Qualquer resposta terá sempre de acomodar o ponto de equilíbrio entre duas responsabilidades sociais distintas: salvaguardar a saúde das nossas pessoas e indirectamente das suas famílias; e salvaguardar o atendimento de todos os pacientes que necessitam de tratamento urgente.
Para mim que não trabalho na “linha da frente”, esta fase de perigo iminente do Covid-19 tem-me permitido admirar ainda mais algumas pessoas, em particular os meus colegas que eventualmente se arriscam diariamente, e que com o seu profissionalismo e altruísmo, me deixam cheia de orgulho e satisfação por fazer parte de uma equipa com valores humanos de grande dimensão. Claro que todos nós #EstamosJuntos mas de facto uns estão mais do que outros… e os Dentistas também merecem o nosso aplauso. Acredito que esta é uma oportunidade rara para podermos tomar pequenas decisões com grande impacto no nosso futuro. A nível pessoal, isolei-me como quase todos os restantes cidadãos do mundo, e resta-me a internet e a esperança para viver cada dia mais próximo do que é o nosso mundo. Espero em breve poder voltar a abraçar e poder dançar a vida.”