Investir com… Vera Eiró

Para Vera Eiró, counsel da Linklaters LLP, o dinheiro é uma "forma de alcançar a liberdade" e, por isso, também procura que não seja ele a prendê-la. Não é de estranhar que já em pequena se responsabilizasse por tarefas caseiras para garantir a sua semanada.

Vera Eiró é advogada na Linklaters e professora de Direito na Universidade Nova de Lisboa.

Vera Eiró é advogada na Linklaters LLP, responsável pela equipa de Direito Público, e tem uma prática focada sobretudo no Direito Administrativo, aqui se incluindo a assessoria ao desenvolvimento de projetos e transações em setores regulados como seja o dos transportes, dos recursos mineiros, da saúde e da energia, entre outros.

Formou-se em Direito na Universidade Nova de Lisboa e concluiu, em 2008, uma pós-graduação em Direito do Ordenamento e do Ambiente na Universidade de Coimbra. Em 2012 doutorou-se em Direito Público também pela Universidade Nova de Lisboa e, desde então, tem conciliado a sua atividade na advocacia com o ensino universitário. Desde 2011 que é professora auxiliar convidada na Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa e na Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa tendo sido regente de disciplinas como o Direito do Urbanismo e Direito dos Contratos Públicos.

Deu formação a técnicos superiores da Administração Pública, a juízes, em Moçambique e na Europa, e a auditores de justiça, em matérias relacionadas com o contencioso administrativo e a contratação pública. A par destas atividades, foi designada árbitra para litígios relacionados com contratos administrativos e com serviços públicos essenciais.

Para Vera Eiró, a educação — a sua e a dos filhos — terá sempre prioridade em matéria de investimento e confessa que, regularmente, faz planos para reorganizar a sua vida se, de repente, tiver que viver com um orçamento mais reduzido.

Qual foi o seu primeiro emprego? Recorda-se de como gastou o seu primeiro salário?
Desde que me lembro de mim que trabalho, mas confesso que não sei bem a partir de que momento é que o meu trabalho passou a qualificar como “emprego”. Recordo-me bem dos contratos que celebrava com os meus pais para ficar responsável por ir buscar todos os dias o pão, durante as férias, ou por lavar o carro no jardim de casa ao fim-de-semana. Não sei exatamente se fazia muito bem estas tarefas mas sei que daí retirava um complemento relevante para uma semanada bastante curta (achava eu…).

Seguiram-se os trabalhos de babysitter, de responsável por stands em feiras setoriais na antiga FIL de Lisboa, membro de coro amador em casamentos e batizados, explicadora de matemática e organizadora de festas de crianças. Tudo isso era feito com gosto, ainda antes de ter alcançado a idade adulta, e estas atividades permitiam um complemento da semanada e, sobretudo, permitiram-me perceber o valor inestimável da autonomia financeira. Mais relevante talvez tenha sido o meu trabalho como assistente de investigação, enquanto aluna universitária. Creio que terei poupado estes salários para viajar.

Quando iniciei o meu estágio de advocacia na Linklaters LLP, em Lisboa, aí sim, enquadrei os meus primeiros honorários como o resultado da minha atividade profissional e do esforço académico que fiz para ser boa aluna e poder ter a oportunidade de estagiar no sítio que escolhi. Nessa altura, percebi claramente que os meus resultados académicos foram também fruto de um esforço grande dos meus pais e fiz questão de comprar um presente para a minha mãe. Foi uma carteira da Longchamp, que entretanto herdei, e que ainda hoje guardo.

Como define a sua relação com o dinheiro?
Gosto de pensar no dinheiro como uma forma de alcançar liberdade e procuro, por isso mesmo, que o dinheiro também não seja a premissa essencial das minhas escolhas e, sobretudo, que não me prenda. Na verdade, o que acontece é o seguinte: posso tomar algumas opções porque o dinheiro mo permite mas, simultaneamente, procuro que o dinheiro não me prenda para que possa, a todo o momento, escolher o que pretendo fazer sem que o dinheiro seja o principal critério de escolha.

“Faço com frequência o exercício de saber como poderia adaptar a minha vida caso tivesse uma redução substancial de vencimento.”

Qual foi o melhor conselho que recebeu em matéria financeira?
Não me recordo de nenhum conselho muito preciso que tenha recebido e que possa enunciar. Vi sempre os meus pais a tomarem decisões criteriosas quanto à forma como usavam o seu dinheiro e procuro seguir esse exemplo. Faço com frequência o exercício de saber como poderia adaptar a minha vida caso tivesse uma redução substancial de vencimento e evito o recurso ao crédito para satisfazer necessidades diárias (nunca recorri ao crédito ao consumo, por exemplo).

Como escolhe os seus investimentos?
O meu principal critério de investimento funda-se na família. A educação dos filhos, o bem estar da família enquanto todo é, nesta fase da vida, o critério base para todas as decisões de investimento.

Qual o melhor investimento que fez até hoje?
Numa fase em que poderia progredir rapidamente numa carreira de advogada numa sociedade de advogados internacional de primeira linha, optei por largar tudo e dedicar-me ao doutoramento. Isso implicou uma redução efetiva dos meus rendimentos (na altura, creio que terei tido uma redução de cerca de 60% do rendimento anual) e, sobretudo, um investimento financeiro enorme em todos os anos em que me dediquei à atividade académica de investigação em exclusivo, abdicando de outros rendimentos, além do retorno à carreira de advogada em passo mais lento do que os meus pares.

Foi o meu melhor investimento até agora: investi, de forma simultânea, na minha liberdade atual, na minha família e no conhecimento.

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