Mafalda Almeida: “Abandonem comparações que destroem a autoestima”

É Life & Executive coach e especializou-se em desenvolvimento feminino porque se deparou com muitas "situações de desigualdade na realidade diária das mulheres." Falámos com Mafalda Almeida sobre autoestima, o coaching enquanto ferramenta de progressão de carreira e sobre Síndrome da Impostora.

Mafalda Almeida é Life & Executive coach, especializada em desenvolvimento feminino.

Formada em Comunicação Empresarial e com um mestrado em Gestão de Marketing, Mafalda Almeida acumulou uma década de experiência em empresas de recrutamento especializado, até decidir que o que apaixonava mesmo era pôr a sua experiência em gestão de pessoas ao serviço de quem quer progredir na carreira e na vida. Hoje é Life & Executive Coach certificada internacionalmente, autora de livros como Mulheres de Sucesso e Recupere a sua Auto-Estima, e trabalha maioritariamente na área do desenvolvimento feminino.

Este é um tema que lhe diz muito, confessa, pelas desigualdades que ainda vê na sociedade, como o facto de a maioria dos cargos de decisão das empresas estarem ainda atribuídos a homens, ou o gap salarial entre géneros ainda ser uma realidade. Mas “o diálogo interno” que fazemos connosco próprias também nem sempre é o mais construtivo, diz, ao insistirmos em sublinhar defeitos ou descredibilizar potencialidades. Afirma ainda que as mulheres nem sempre são as melhores amigas umas das outras em ambiente de trabalho, um facto que afirma ter já “sentido na pele muitas vezes” e que afeta carreiras, emoções, mas também as próprias empresas. Acredita que o coaching é uma das melhores armas para ajudar a mudar estes cenários, dando ferramentas para cimentar a autoconfiança e delinear objetivos de vida e carreira. Foi sobre estes e outros temas que a coach falou à Executiva.

O que a levou a querer trabalhar no desenvolvimento pessoal e profissional feminino?
Ao longo da minha carreira profissional fui-me deparando com diversas situações de desigualdade na realidade diária das mulheres. Ora porque as diferenças salariais eram notórias — quer se queira, quer não, existe fuga de informação neste sentido e acabamos por saber se o colega ganha mais ou menos, realizando assim comparações inevitáveis que geram desconforto e desmotivação no seio empresarial —, ora porque o número de homens a ocupar cargos de chefia sempre foi e continua a ser bastante superior ao número de mulheres que ocupam tais posições. As soft skills podem ser as mesmas, as hard skills também. Mas a verdade é que a desigualdade ainda existe. As oportunidades são em maior número para os homens, bem como a facilidade de chegarem longe nas suas carreiras e com melhores condições.

Também senti na pele muitas vezes o impacto da má relação entre as mulheres dentro da mesma empresa. Sei que pode parecer cliché, mas trabalhar em equipas maioritariamente femininas pode de facto causar um enorme impacto quer no desempenho das colaboradoras, quer na sua autoestima e motivação nos empregos. As mulheres são de extremos: ou optam pela união e assim constroem uma enorme força e poder, beneficiando todas as partes envolvidas, ou então optam pela crueldade, pelo mau ambiente, o que traz consequências lamentáveis a médio e longo prazo, quer para as mulheres lesadas, quer até para a própria empresa em que trabalham.

Estes factores contribuem muitas vezes para que as mulheres duvidem das suas capacidades e para que a sua autoestima saia fragilizada. Esta é a principal razão que me levou a abraçar esta temática.

O que procuram as mulheres que a contactam para Coaching Executivo?
As minhas clientes de Coaching Executivo procuram-me numa perspectiva de potenciarem as suas qualidades para que assim consigam chegar mais longe a nível profissional. Iniciamos um processo onde, na maioria das vezes, começamos por trabalhar questões como a voz interior, a dúvida, a fraca ou inexistente noção que têm das suas capacidades, dos seus pontos fortes. A tomada de consciência é fundamental para justificar a posterior ação.

Outras vezes também me procuram para ajudar a estabelecer objectivos de carreira. Hoje em dia ainda existem bastantes empresas que não oferecem planos de carreira aos funcionários. Podem dizer que o fazem, mas de facto, e operacionalmente, isso acaba por não acontecer. Isto leva a que as minhas clientes sintam a necessidade de estabelecerem os seus próprios objectivos profissionais a curto, médio e longo prazo. Ajudo-as a “arrumar as ideias”, a descobrirem o que querem, e a traçarem um plano de acção que as ajude a lá chegar. Ajuda-as a evoluir profissionalmente, a saberem o que querem.

Ainda estamos longe de uma participação feminina paritária em cargos de liderança. Que atitudes podemos adotar para mudar este cenário e promover a progressão profissional de mais mulheres?
Resiliência, persistência, foco. O amor próprio marcará a diferença, e é aqui que muitas vezes falhamos. A igualdade chegará, mas a seu tempo. Abandonem as comparações que fazem constantemente com as outras pessoas, quer sejam elas homens ou mulheres. Na grande maioria das vezes quando optamos por nos compararmos com alguém, estamos simplesmente a diminuir a nossa autoestima, porque raramente vamos concluir que somos melhores do que essa pessoa. A comparação diminui. Somente nos devemos comparar connosco mesmas, numa perspectiva de sermos sempre um pouco melhores todos os dias, numa perspectiva evolutiva, de crescimento. Os níveis de excelência deverão ser mantidos, porque somos de facto brilhantes no que fazemos, qualquer que seja a área, tarefa ou profissão. A chave aqui é reconhecer as nossas qualidades e assumi-las sem medos. Como? Aceitando e agradecendo os elogios que as outras pessoas nos fazem, por exemplo.

Fale-nos de 2 ou 3 grandes erros que cometemos nas nossas interações pessoais e profissionais quotidianas, que podem até parecer completamente inofensivos, mas que prejudicam a nossa confiança e imagem.
Há poucos dias fiz uma transmissão ao vivo nas minhas redes sociais sobre a importância da comunicação: verbal, não verbal (física), e acrescentei uma terceira forma de comunicação – a comunicação connosco mesmas (a chamada “voz interior”). Se melhorarmos as três formas de comunicação, conseguiremos sentir um impacto directo na nossa autoestima e no nosso desempenho em contexto de trabalho e social. Assim, digo sempre às minhas clientes para substituírem no seu discurso a palavra “difícil” por “desafiante”. Ao fazermos esta troca, estamos a transmitir ao nosso cérebro a ideia de que, sendo um desafio, existem hipóteses de termos sucesso, apenas temos de trabalhar para isso. O cérebro interpreta o “difícil” como algo impossível, o que nos leva a desistir logo à partida.

Depois, temos a comunicação física. De que forma? Coisas tão simples como andar de costas direitas, queixo erguido e olhar em frente. Isto só por si aumenta a nossa autoestima e torna-nos também mais confiantes. Outra frase que costumo dizer e que gosto bastante: dress for the job you want to have. A forma como nos vestimos diz muito sobre os nossos objectivos e ambições.

Um dos fenómenos de que muito se fala em relação a mulheres em cargos de responsabilidade é o Síndrome da Impostora. Na sua experiência, é mesmo mais comum encontrar mulheres com este problema?
Sim, é comum encontrar mulheres com esta questão por resolver. Esta minha resposta baseia-se não só na minha experiência com as minhas clientes mas também no meu círculo pessoal e social. Este “síndrome” surge numa perspectiva de traduzir e explicar a situação daquelas mulheres que têm sucesso e que de facto chegam longe, mas que mesmo assim dizem que não são boas o suficiente para serem merecedoras desse sucesso e desse reconhecimento. São aquelas mulheres que dizem que só o conseguiram porque trabalharam muito, e não porque têm características para isso, entre elas o carisma por exemplo. São aquelas mulheres que acham sempre que se outra pessoa estivesse no lugar delas, faria bem melhor.

Este tema é o reflexo de um problema social, de toda uma educação que nos é imposta desde a nossa infância. Como resolver? Idealmente trabalhando desde muito cedo com as nossas crianças (meninas), potenciando as suas qualidades, mostrando que é tão válido ser-se uma boa Nutricionista, por exemplo (profissão tipicamente feminina), como uma engenheira automóvel ou mecânica de topo. Em idade adulta, trabalhando questões como a autopercepção, a ideia que temos de nós e das nossas características, através de ferramentas de Coaching, por exemplo.

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