Inês Teles, de 31 anos, divide-se entre o Atelier Concorde, onde é artista residente, e o Espaço Amoreiras, onde funciona o Edge Arts, projeto cultural sem fins lucrativos do The Edge Group (TEG), que apoia a arte contemporânea em Portugal. Desde 2014 que coordena a actividade cultural, promovendo exposições, debates e workshops. De momento está a preparar uma exposição e debate sobre a crise de refugiados, um projeto de Pedro Pires intitulado 3.041,19 km. No final do dia poder ter uma inauguração, mas ainda arranja tempo para a leitura e o desporto.
Licenciada em Pintura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, completou uma pós-graduação em Artes Plásticas na Byam Shaw School of Art e o mestrado em Pintura na Slade School of Fine Art, na UCL – University College London, em Londres. Com um grupo de amigas, criou o coletivo artístico Tempos de Vista, com o objetivo de mostrar o seu trabalho após sair da faculdade. Desenvolveu várias iniciativas de exposições na Mãe D’Água, no Observatório Astronómico de Lisboa e no Museu da Carris.
7h15
O despertador toca. É hora de vestir, tomar o pequeno almoço, pegar nos sacos e correr para o dia. O meu tempo divide-se entre o Espaço Amoreiras e o Atelier Concorde, por isso os meus dias nem sempre são iguais. Até chegar ao trabalho não vejo notícias, mensagens ou chamadas. Aproveito para ler ou ver o céu. Agora estou a ler Do Lado de Swann e o catálogo de “Civilizações de Tipo I, II e III”, sobre a exposição do Rui Toscano.
8h30
Chego ao Edge Arts. É a esta hora que ligo o computador, o telefone e começo a ler os emails. Gosto de fazer listas com os assuntos que tenho de tratar, para organizar o dia: próximas exposições a preparar, exposições a visitar, newsletters que têm de ser enviadas, calendários e produção de eventos, inscrições em workshops, atualizações do website. É nesta altura que marco alguns artigos para ler e vejo rapidamente as notícias.
O trabalho do Edge Arts torna-se extremamente gratificante quando vemos o projeto de colegas materializar-se. Entre a inauguração de uma exposição e a primeira reunião com um artista, decorrem muitos meses de trocas de emails, visitas ao ateliê ou conversas via Skype. Gosto de acompanhar a evolução dos projetos, as referências dos artistas, os primeiros esboços e as adaptações ao espaço, que não são desprovidas de interferências. Chegar mais perto de um projeto é acrescentar-lhe também novas relações, contactar outras possíveis colaborações, alargar o seu campo discursivo.
11h00
Faço questão de fazer algumas pausas durante o dia e o lanche da manhã acontece para cumprimentar os colegas do TEG. Perceber a realidade do outro é importante. Quando comecei a fazer a coordenação cultural do Edge Arts, como trabalhava sozinha, diziam que era muda. Hoje em dia acontecem sinergias entre os projetos: com a Origem através dos cursos e workshops, com a Majora, na gestão da coleção de brinquedos e com o auditório LEAP, que acolhe as conferências e debates que promovemos.
13h00
Costumo preparar a minha marmita em casa e na maioria dos dias almoço entre colegas. Por vezes, quando recebo visitas de amigos ou familiares, almoço fora do escritório e experimento novos restaurantes na cidade. No regresso, mostro a todos a exposição atual. De momento estamos a preparar uma exposição e debate sobre a crise de refugiados. É um projeto de Pedro Pires intitulado 3.041,19 km, com a curadoria de Inês Valle, que se inicia a 28 de Setembro.
15h00
Fico a trabalhar no Edge Arts caso tenha reuniões, visitas ou outros assuntos para tratar. Se não for o caso, o meu destino é a Graça, o Atelier Concorde. É aqui que estão as tintas, experiências com materiais e suportes. Estamos noutra dimensão. Não há tempo. Ou está suspenso.
Quando chego troco de sapatos e visto outra pele. É uma pele que me permite cortar madeira, pregar pregos, varrer pó de grafite, mexer a tinta, fazer uma cor nova. O processo criativo não é constante, às vezes nada acontece. Nesses dias dedico-me à pesquisa de outros artistas e referências ou a terminar trabalhos que tenho de entregar e cujo processo me é mais automático.
20h30
Quando saio do atelier já quase esgotei as energias. No entanto, tento aproveitar o final do dia para ir a inaugurações e jantares ou para me dedicar ao desporto, sendo que gosto de variar entre ginásio, yoga e barra de chão.
22h00
Já estou por casa. Preparo o dia seguinte, rego as plantas e ouço música. Normalmente deito-me cedo, depois de ler algumas páginas do livro.