Criar algo que deixe marca, trabalhar naquilo que os apaixona, ser financeiramente independente e ainda conseguir inspirar outras pessoas pelo caminho: este parece ser o sonho comum à maioria de quem que acaba de sair dos bancos da faculdade para o admirável mundo novo do competitivo mercado de trabalho. Mas que rumo tomar? O que fazer e como podemos destacar-nos entre tantos outros como nós?
Dúvidas comuns à maioria das jovens a começar uma carreira e com as quais se debatiam também Alaina Kaczmarski, hoje com 31 anos, e Danielle Moss, de 34.
Inspirar mulheres reais
Em 2010 Alaina tinha voltado para casa da mãe, em Chicago, depois do curso na Universidade de Syracuse e de ter trabalhado durante um ano em Washington, numa ONG ligada a crianças. Danielle era de Los Angeles, tinha-se se formado em Sociologia das Artes na Universidade de Santa Mónica e já tinha passado pelo mesmo: regressar sem dinheiro a casa da mãe, até conseguir alguma independência financeira que, mais tarde, lhe permitiu mudar para a capital do Illinois. Foi lá que foram apresentadas, numa festa de natal em dezembro desse ano.
A missão do site é dar a mulheres reais de 20 e poucos anos a orientação que as fundadoras gostariam de ter tido aos 23 para entrarem no mundo do trabalho.
Ambas tinham blogues pessoais, muita vontade de dar à volta às suas carreiras e de fazer algo de novo e inspirador. Danielle tinha começado a trabalhar por conta própria enquanto designer gráfica, criando blogs e sites para outras pessoas. “Sempre soube que queria fazer algo de criativo e sentia que o ambiente tradicional de escritório não era o melhor lugar para mim, mas não tinha ideia do que queria de facto fazer”, diz em entrevista ao site Style Me Pretty. “Gostava da liberdade de gerir o meu negócio de designer, mas apesar de adorar design, nunca senti que esse era o meu trabalho de sonho. Finalmente encontrei aquilo de que andava à procura quando lancei o The Everygirl. Sonhei com este site durante dois anos, apesar de a princípio não fazer ideia de como lhe daria forma ou se ele chegaria a materializar-se. Só sabia que queria mais e só quando conheci a Alaina tudo se tornou possível.”
A missão do site seria dar a “mulheres reais” de 20 e poucos anos a orientação que gostariam de ter tido na mesma idade, depois de terminarem a faculdade para entrar no mundo do trabalho, dizem. A tal ‘everygirl’ do título, explica Danielle em entrevista à revista Birchbox é “a rapariga da porta ao lado. Aquela que tem sonhos, esperança, motivação e talento mas talvez esteja com problemas em começar, porque não tinha condições financeiras para aceitar aquele estágio não remunerado em Nova Iorque. Ou aquela que fez sempre o mesmo trabalho toda a vida e não sabe como mudar e tentar algo novo. Gente que quer fazer acontecer coisas incríveis na sua vida mas que ainda precisa de orientações ou de um mentor.” Alaina acrescenta: “Queríamos criar uma espécie de plataforma que destacasse e inspirasse mulheres reais. Nada de imagens irreais de beleza ou looks impossíveis de celebridades, mas sim as coisas fantásticas que as nossas amigas e outras mulheres reais que conhecemos estão a fazer.”
Sucesso reconhecido pela Forbes
Começaram a trocar ideias, arregaçaram as mangas e, em agosto de 2011, fundaram a própria empresa. O site só iria para o ar em fevereiro do ano seguinte, depois de longas maratonas de trabalho quase sem folgas. “Acabou por ficar mais barato do que seria de esperar, mas se não fossemos ambas designers gráficas penso que não teria sido possível”, contava Danielle ao Huffington Post no início de 2013. A dupla diz ter poupado entre 5 e 10 mil dólares ao assumirem elas próprias a tarefa. Contrataram um programador informático para as ajudar na criação do site e começaram-no com um orçamento de menos de 8 mil dólares. Um ano mais tarde, já tinham uma média de um milhão de visualizações.
No primeiro ano, as suas noites e fins de semana foram dedicadas exclusivamente ao The Everygirl. Em três meses tiveram três dias de folga.
O sucesso, dizem, deve-se em muito à divulgação nas redes sociais. “É tudo tráfego orgânico. Nunca pagámos por publicidade… Quando fazemos reportagens, as nossas fontes fazem um ótimo trabalho a passar a palavra e ‘tweetar’ sobre os nossos artigos”, conta Moss. Menos de quatro meses depois do lançamento, The Everygirl já entrava diretamente para duas listas da Forbes: os 100 melhores websites para´mulheres e na lista nos 10 melhores websites para millennials. “Ainda nem acredito que aconteceu.” A paixão de ambas pela decoração e o sucesso do site rendeu-lhes, em 2014, o convite para desenharem uma coleção de sofás para a marca norte-americana Interior Define.
Dedicação a 100%
Ambas produziam a totalidade dos conteúdos do site, conjugando-o com os seus trabalhos a tempo inteiro. “As nossas noites e fins de semana eram dedicadas exclusivamente ao The Everygirl. Nos primeiros três meses de 2012 tivemos um total de 3 dias de folga. Tem sido entusiasmante, exaustivo e a experiências mais recompensadora que já enfrentámos”, escreviam as sócias no seu site, para celebrar o primeiro aniversário. Danielle retiraria daí uma lição importante: que a conciliação entre vida pessoal e trabalho é uma batalha difícil mas necessária. “Aprendi que é importante darmos a nós próprios algum tempo longe do trabalho, mesmo quando isso não parece possível. Não importa o quanto amemos o nosso trabalho, devotar-lhe todos os momentos da nossa vida acaba por nos fazer pagar um preço alto. Nem que seja só uma caminhada de 20 minutos, um café com uma amiga ou assistir à sua série preferida, arranje sempre um pouco de tempo só para si.”
No início, gerir pessoas era mais uma coisa para a qual não tinham tempo. Por isso, não conseguiram utilizar o talento da equipa tão bem como poderiam.
De uma empresa a quatro mãos, o volume de trabalho e o sucesso pediam mais ajuda e a formação de uma equipa. Depois de contratarem duas estagiárias, Danielle e Alaina enfrentaram rapidamente outro desafio. “Não fazíamos ideia do que estávamos a fazer, na altura, e gerir pessoas era mais uma coisa para a qual não tínhamos tempo. Por isso, não conseguimos utilizar o talento delas tão bem como poderíamos.” Pouco depois recrutaram uma fã dos blogues pessoais de ambas, que já lhes conhecia o estilo e que começou a trabalhar à distância e hoje contam com uma equipa de 10 pessoas, entre redatores para vários temas, editores, uma responsável pelas redes sociais e outra pela parte comercial.
Carreira e finanças descodificadas
Para além dos temas de lyfestyle como moda, beleza ou decoração, tradicionalmente mais caros ao universo feminino, o site conta com uma secção dedicada à carreira e finanças pessoais, como conta Danielle à Birchbox. “Para alguém com uma mente mais criativa, coisas como a Bolsa de Valores podem ser um bocado intimidantes — e falo de uma perspetiva pessoal. Por isso tentamos descodificar e simplificar estas coisas para que não sejam tão intimidantes e ensinar tudo, desde como olhar para o mercado de valores até orçamentar e organizar o nosso salário.” E têm conseguido inspirar outras mulheres que querem mudar de carreira ou de emprego. “As mulheres vêm ao nosso site à procura de confirmação de que isso pode ser feito. Recebemos muitos emails de leitoras que nos dizem ‘ando a pensar largar o meu trabalho sem saber que passos posso dar nesse sentido e li esta entrevista desta pessoa noutro dia que me fez acreditar que era possível. Temos leitoras, e até membros da nossa equipa, que mudaram para o seu emprego de sonho. É sempre um passo assustador mas lerem histórias de outras mulheres que conseguiram fazê-lo é realmente inspirador.”
Siga o seu instinto: Perdida na direção que a sua carreira deve tomar? Danielle Moss encontrou a resposta numa das suas citações preferidas, atribuídas a Steve Jobs. “Tenha a coragem de seguir o seu coração e intuição. Eles sabem sempre, de alguma maneira, aquilo em que realmente quer tornar-se. Tudo o resto é secundário.”
Trabalho árduo e dedicação: Danielle e Alaina precisaram de seis meses de trabalho para construir o site e definir conteúdos, tudo isto enquanto mantinham os seus trabalhos a tempo inteiro. Noites e fins de semana eram passados a trabalhar no seu projeto, mas o esforço compensou.
Popularidade não é tudo: Antes dos seguidores e leitores aparecerem, é preciso algum tempo para fazer experiências até acertar no registo, sem pressões de audiências, diz Alaina. “Não comecem um blogue porque querem logo comentários e seguidores. Ninguém leu o meu blogue durante anos mas ainda assim continuei a gostar de o escrever. Continuem a ser honestos convosco próprios e divirtam-se.”
Mantenha-se fiel à missão: “Publicar regularmente é importante, mas nunca comprometam aquilo em que acreditam ou aquilo de que gostam mesmo só porque precisam mesmo de publicar qualquer coisa”, aconselha Alaina.
Antes de contratar ajuda…: certifique-se primeiro que, enquanto líder, tem o tempo e aptidão para gerir o trabalho da equipa e retirar o melhor do trabalho de cada um.