Há fases na carreira em que ter alguém mais experiente que a escute e a ajude a tomar decisões pode fazer a diferença. Este é um dos papéis que um mentor pode assumir na sua vida. Mas a primeira questão é: como encontrar um?
No seu livro Faça Acontecer, Sheryl Sandberg diz que quando alguém tem necessidade de perguntar a outra pessoa se quer ser seu mentor é muito provável que a resposta seja não. “Quando se encontra o mentor certo, a resposta é óbvia”, explica. A Chief Operating Officer do Facebook e braço direito de Mark Zuckerberg, confessa que não gosta quando lhe fazem esta pergunta, apesar de estar constantemente a ouvi-la. E não está sozinha. No seu livro conta também que “mesmo a magnata da comunicação Oprah Winfrey, que tanto tem ensinado a toda uma geração, confessa que se sente desconfortável quando alguém lhe pede para ser mentora. Um dia explicou: ‘Sou mentora quando vejo qualquer coisa que me faz dizer: ‘Quero ver isto crescer’”.
É importante perceber que não se arranja um mentor ao virar da esquina e que esta relação deve nascer de forma natural. O segredo é tentar obter a atenção dessa pessoa e, se a forma mais fácil é destacar-se pela sua competência, há também outras vias. Sandberg, afirma ter visto “colaboradores de nível base a aproveitar agilmente um momento depois de uma reunião para pedir conselhos a um executivo de topo. Depois de ter recebido o conselho, o aspirante a mentee agradece e aproveita a oportunidade para pedir mais orientação. Sem sequer se aperceber disso, o executivo passa a estar envolvido e a investir na carreira do subordinado. A palavra mentor nunca precisa de ser proferida. A relação é mais importante do que o rótulo.”
Desbloqueia a sua carreira
Esclarecida a melhor abordagem para encontrar um mentor, há que ter as ideias claras sobre o que pode esperar dele. O papel de um mentor é o de apoiar e desafiar. De aconselhar, de escutar e identificar o conhecimento do mentee. É alguém com quem partilha experiências e a elucida da realidade das coisas.
Para Maria Antónia Torres, membro da Comissão Executiva e Diverty Leader da PwC, “um mentor pode ser um elemento acelerador em vários momentos de uma carreira”. Uma visão externa e experiente pode servir como desbloqueador daquilo que, porventura, está a limitar o seu desenvolvimento pessoal e, consequentemente, a retardar a progressão de carreira.
Assim sendo, é expectável que seja alguém com experiência comprovada na sua área de interesse. Não tem necessariamente que ser mais velho, mas deve, acima de tudo, ter uma carreira sólida e uma grande bagagem de conhecimento. Estas características são fundamentais porque vai recorrer a ele em momentos de indecisão ou de mudança e é importante que com base na sua experiência de vida e profissional, o mentor seja capaz de a fazer refletir sobre como atuar e reagir da forma mais adequada e eficaz.
Desafia as suas certezas
Como conselheiro, o mentor conversa, desafia, discute, visando acelerar o seu desenvolvimento, que ao nível do mercado laboral é visto como uma ferramenta eficaz e de grande valia, pois estimula inovação e criatividade com maior segurança.
O mentor vai sobretudo desafiá-la, quando “perante afirmações como ‘não é possível’, ‘não há condições’, ‘não consigo’ ou ‘não posso’, fará com que o mentee questione pressupostos e limitações que nem sempre são verdadeiros”, esclarece Maria Antónia Torres, que é também mentora nos programas da Professional Women’s Network (PWN) e do Connect to Success.
Para Cristina Saiago, general manager no Groupe Clarins e mentora de alunos da Universidade Católica, outro dos objetivos do mentoring é que o mentee “aprenda a incorporar comportamentos que produzem resultados positivos e eficazes – escuta ativa, melhores relações interpessoais, melhor entendimento da cultura das organizações e capacidade de ler nas entrelinhas.”
Ajuda-a a tomar decisões
Encontrar um mentor disponível, com espírito positivo e permeável à mudança é fundamental para que se sinta confortável ao longo do mentoring. A partilha de ideias e opiniões vão ajudá-la a abrir portas para novas realidades, a seguir uma orientação. “Através do acompanhamento consistente, o mentee tem mais clareza na tomada de decisões de carreira”, refere a responsável pela Clarins em Portugal.
Porém, não deve esperar que o seu mentor tome decisões por si ou que esteja sempre disponível, como se de uma sessão marcada se tratasse. “Isso não é um mentor, é um psicólogo.”, alerta Sandberg no seu livro. Até porque a maioria dos mentores têm agendas muito mais ocupadas do que a sua. Não o faça perder tempo. Concentre-se em problemas específicos e evite queixar-se sobre os seus estados de alma.
Poupa-lhe tempo
Não vacile sobre a relevância de contar com este apoio na sua carreira. No livro Lições de Liderança de CEO Portuguesas, de Isabel Canha e Maria Serina, a presidente da PWN Lisboa, Ana Torres, aconselha “todas as mulheres mais jovens a arranjarem um mentor, para que a sua carreira se estruture e se desenvolva mais rapidamente. Sem ele, corre-se o risco de se perder muito tempo no processo de tentativa e erro”.