Enfermagem tal como a Medicina são cursos que geralmente se tiram por vocação. Não é comum ver um enfermeiro ou um médico deixar para trás uma carreira para abraçar outros desafios. Mas foi mais ou menos isto que fez Rita Filipe quando já levava seis anos de profissão. A vontade de evoluir falou mais alto do que o receio de mudar e a então enfermeira de bloco operatório é hoje uma comercial realizada na Johnson & Johnson Medical, na área da Neurocirurgia e Neurorradiologia de intervenção.
Por que decidiu deixar a carreira de enfermagem após seis anos de atividade?
Exerci Enfermagem entre 2003 e 2009, sempre em bloco operatório, até que senti a necessidade de mudar. As especialidades em enfermagem em Portugal não estavam bem definidos, a de bloco operatório não existia e eu precisava de desenvolver outras competências. Em termos financeiros é do conhecimento público que um enfermeiro ganha em média mil euros por mês, e para ganhar mais dinheiro tem de acumular com um segundo emprego. Na altura vi um anúncio no Expresso para comercial de uma empresa que eu já conhecia (e com a qual já trabalhava no bloco operatório) e decidi enviar a minha candidatura.
A possibilidade de trabalhar por objetivos foi determinante. Ganhar de acordo com o desempenho é algo que defendo.
O que equacionou antes de concretizar esta mudança?
Tendo em conta que trabalhava numa área muito técnica, questionei-me se me adaptaria ao trabalho de um comercial. Afinal de contas iria trabalhar do lado da indústria dos dispositivos médicos. Os médicos e enfermeiros que até então faziam parte da minha equipa cirúrgica seriam os meus futuros clientes. Teria de mudar o mindset.
Tinha uma licenciatura em enfermagem, trabalhara como enfermeira seis anos, por isso mudar de área implicava arriscar numa profissão para a qual não sabia se iria ser bem sucedida. Mas eu gosto de arriscar e adapto-me bem à mudança.
O que a atraiu na área das vendas?
A possibilidade de trabalhar por objetivos foi determinante. Os incentivos de vendas/prémios que existem para além do vencimento de acordo com o desempenho é algo que defendo e em que acredito.
Quando senti que não tinha competências de gestão, fui fazer um mestrado nessa área.
Que competências tinha que a levaram a acreditar que teria sucesso nessa área?
A capacidade de relacionamento com as pessoas, a forma de comunicar, a determinação, e a capacidade de trabalho para concretizar objetivos.
Foi difícil conseguir o emprego nesta nova área?
Respondi ao anúncio, passei por várias entrevistas e fui a candidata escolhida. Passaram 6,5 anos desde que entrei na área comercial e estou satisfeita com a decisão.
Que desafios enfrentou nas vendas?
Vivemos todos os dias com a pressão dos números. Existem objetivos muito concretos que sabemos que têm timing para serem cumpridos. Existe uma concorrência forte, empresas com produtos e serviços igualmente muito bons e temos de ter a noção de que não basta ter um bom produto, temos de nos reinventar a cada dia.
Quanto mais skills tivermos e melhor capacidade de adaptação, maior a probabilidade de sucesso.
Qual o momento da sua carreira de que mais se orgulha?
Não existe um momento específico. Existem vários. Orgulho-me essencialmente de ter conseguido mudar de trabalho cada vez que decidi que era o momento para o fazer (já tinha mudado de hospital quando era enfermeira). Existe em mim a necessidade permanente de evoluir. Quando senti que não tinha competências de gestão, fui fazer um Mestrado nessa área porque venho de uma formação muito específica na área da saúde.
O que mais gosta neste trabalho?
Não existem dias iguais.Conheço muitas pessoas, tenho tido muitas oportunidades para fazer formação dentro e fora do país. Sinto que evolui imenso pessoal e profissionalmente.
Que conselho deixaria a uma mulher que está a pensar mudar de carreira?
Não ter medo da mudança. Eu não me imaginava a fazer o mesmo durante 20 anos. A mudança leva-nos para fora da zona de conforto e obriga-nos a crescer. Tenho evoluido imenso a cada mudança. Consegui sempre situações financeiras mais confortáveis e de maior realização profissional.
Fazendo alusão à teoria da evolução da espécie de Darwin, acredito que aquele que se adapta melhor ao meio é o que sobrevive. Por isso, quanto mais skills tivermos e melhor capacidade de adaptação, maior a probabilidade de sucesso. As empresas procuram pessoas versáteis, multitasking, e com uma capacidade rápida de adatação às funções.
A OUTRA MUDANÇA NA VIDA DE RITA
A meia maratona é mais um objetivo cumprido.
“Tenho 34 anos e comecei a correr há um ano. Queria superar-me, desafiar-me. Não tenho disciplina para ir ao ginásio. Sentia que devia fazer desporto. Então comprei uns bons ténis e comecei a correr. Step by step. Foi difícil começar. Mas a receita é mesmo insistir e não desistir. Quando em Maio de 2015 corri os primeiros 5 kms seguidos sem parar fiz uma festa enorme. Quem diria que a 20 Março 2016 estaria na Meia Maratona? O importante é definir objetivos. Inscrever-se numa corrida e começar a treinar. No início andamos mais do que corremos, mas há um dia em que passamos naturalmente a correr.Já participei em várias corridas mas a mais desafiante foi a Meia Maratona de Lisboa. Correr 21 kms é um sensação incrível. Diria que a corrida é terapêutica. Os problemas ficam no asfalto.”
