Se fazer carreira hoje é difícil, imagine como foi nos anos 60, 70 e 80 do século passado. No livro Memórias de Executivas as fundadoras deste site entrevistaram oito mulheres que nunca tiveram outra ideia senão a de construírem uma carreira nas áreas que mais gostavam. Não foi fácil para nenhuma, mas não desistiram dos seus sonhos, nem abdicaram dos seus ideais. Ao longo de 200 páginas, estas mulheres, que deixaram a sua marca no mundo dos negócios em Portugal, partilham as dificuldades e os desafios que foi preciso enfrentar, e reconhecem que não seriam tão realizadas como profissionais e como mulheres se a vida se não o tivessem feito.
Deixamos uma pequena amostra da fibra de que são feitas as nossas oito entrevistadas. Se quiser saber mais, compre o livro aqui.
Helena Sacadura Cabral, a primeira mulher nos quadros técnicos do Banco de Portugal, sempre quis ter iguais oportunidades e fazer escolhas com a mesma liberdade com que um homem as faz e pautou a sua vida por esta vontade. “Era difícil e doloroso, porque o sentimento de culpa das mães que trabalhavam era, nesse tempo, muito bem explorado. Os momentos mais difíceis passei-os quando os meus filhos eram pequenos e não compreendiam que eu tivesse de ir trabalhar. Nas doenças que tiveram foi terrível. Mas não cedi e fiz bem, creio, porque hoje seria uma mulher muito frustrada se não tivesse a atividade profissional que ainda tenho.”
Rosalina Machado, a primeira portuguesa a liderar uma multinacional, desistiu do curso quando o pai lhe disse que não a deixaria trabalhar e, mais tarde, desafiou o marido para conquistar essa liberdade. “A primeira reunião (internacional) que tive foi em Milão e, quando eu entrava, abriam-me a porta e só se sentavam depois de eu me sentar. Inicialmente aquilo massajou-me o ego, mas depois pensei que se lutava pela igualdade, aquilo não fazia sentido. Na segunda reunião, em Paris, já ninguém se levantou, ninguém veio abrir a porta. Tive pena, mas afinal era aquilo que eu queria. Ser tratada como um deles.”
Maria Cândida Rocha Silva, a primeira corretora de bolsa e a primeira banqueira em Portugal, entrou na banca pela mão do pai, mas o marido nunca aceitou bem a sua atividade profissional. “Quando foi o boom da bolsa em 1986 e o crash em 1987, as minhas filhas eram adolescentes, precisaram muito de mim e eu não estive lá. Sinto que naquela época tive de fazer uma escolha. Tivemos períodos de estar todo o dia no escritório e vir a casa às cinco da manhã tomar um banho. Naquela altura eu tive a coragem de dizer: “Para os dois lados não dá”.”
Maria Cândida de Oliveira, liderou a vidreira Barbosa & Almeida durante quase duas décadas e nunca quebrou, nem quando foi desafiada pelos operários no período revolucionário, nem com a falta de apoio do marido. “Cheguei a receber um telefonema a dizer: “Não venha porque eles [os operários] estão na portaria e dizem que vão metê-la no forno”. “Qual forno?! Não me metem no forno coisa nenhuma!” Claro que fui! Quando cheguei à portaria estava lá uma multidão a gritar. Tentei entrar com o carro e o porteiro não levantou a cancela. Chamei a guarda e entrei. Não se pode mostrar medo.”
Assunção Sá da Bandeira, foi educada para casar e ter filhas, mas acabou por ser pioneira nas relações públicas em Portugal. “Por altura da fusão [entre o Totta-Aliança e Lisboa & Açores] foram chamados uns consultores ingleses para apoiar toda a operação de integração das duas realidades e eu fui destacada para fazer a ponte com os consultores e acompanhar em tudo o que precisassem. Apesar de não ser exercida como atividade autónoma, a ‘comunicação’ neste processo foi crucial. Entendi as potencialidades da comunicação ao vê-los trabalhar. Foi uma boa aprendizagem.”
Teresa Janz Guerra nunca foi discriminada na educação por ser mulher, mas depois de casar teve de convencer o marido a repartir tarefas para poder trabalhar. “Se não fosse o meu marido a apoiar-me seria muito difícil. Tive sempre a sorte – não sei se foi sorte ou se foi trabalho – de o preparar para isto. Quando ele me conheceu eu já trabalhava e sabia o que queria da vida. Ele adoraria que eu ficasse em casa a criar os filhos. Mas nunca aceitei isso.”
Esmeralda Dourado começou a ser posta à prova desde mito nova, e sem dificuldades fez carreira num mundo de homens e tornou-se numa das mulheres mais influentes em Portugal. “Há coisas que no homem se aceitam perfeitamente e na mulher não. Se uma mulher dá dois berros a meio de uma reunião, pensa-se logo: “É uma desequilibrada”. Mas se é um homem, o pensamento é: “É um tipo com autoridade” ou, na pior das circunstâncias, conclui-se “ele hoje está mal disposto!”. Os padrões de avaliação são diferentes… “
Domitília dos Santos é uma self made woman que assumiu a sua educação e o seu futuro e tornou-se uma bem sucedida gestora de patrimónios financeiros em Nova Iorque. “Nunca fui discriminada nem beneficiada por ser mulher. Já fui muitas vezes beneficiada por ser persistente.”