Women Empowerment Talk: “Mulheres na tecnologia”

Sara Caetano, diretora de vendas (EMEA) da PwC, e Cláudia Quaresma, coordenadora do 3D Printing Center for Health, foram as convidadas de mais uma Women Empowerment Talk by Executiva para conversar sobre mulheres na tecnologia.

Sara Caetano, da PwC, e Cláudia Quaresma, do 3D Printing Center for Health.

A Executiva e a Cupra promoveram mais uma Women Empowerment Talk, desta vez sobre “Mulheres na tecnologia”. Uma plateia entusiasta e interessada acorreu e encheu o espaço CUPRA City Garage Lisboa para assistir à conversa inspiradora entre Sara Caetano, diretora de vendas (EMEA) da PwC, e Cláudia Quaresma, coordenadora do 3D Printing Center for Health.

Na abertura do evento, Teresa Lameiras, diretora de Comunicação e Marca da SIVA|PHS, deu as boas-vindas às participantes que se reuniram neste espaço único, distintivo e acolhedor, inaugurado há um ano, em pleno centro de Lisboa. Congratulou-se pelos 5 anos de história desta marca irreverente, desafiadora e sofisticada, nascida em Barcelona, que conquistou o mercado português, com vendas que triplicaram num ano, ancoradas na performance eletrizante, design diferenciador e identidade própria, destacando ainda a forte aposta nos novos veículos eletrificados, uma gama preparada para crescer.

 

O mundo está mais tecnológico do que nunca, mas a representatividade das mulheres nas STEM (o acrónimo de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) ainda é muito reduzida. Uma das principais dificuldades começa logo na atração de talento, em que os estereótipos de género desincentivam estas escolhas académicas e profissionais. Mas mesmo para as mulheres que ingressam nestas áreas, por vezes o ambiente é hostil e isso leva-as a desistir. O desafio de equilíbrio de género nesta área é decisivo para o desenvolvimento económico. E é decisivo para as próprias mulheres, pois estas são as áreas em que há mais oportunidades de emprego e em que as remunerações são maiores.

Juntámos duas mulheres com percursos distintos, mas que partilham a paixão de usar a tecnologia para melhorar a vida dos outros, seja na forma de trabalhar ou na qualidade de vida.

 

A emoção e a razão na escolha das carreiras

Logo no início da conversa ficou claro que Claúdia Quaresma tem duas vidas, uma primeira na área da saúde, e uma segunda, na qual se encontra, na tecnologia. Conta que foi uma história familiar que a motivou a enveredar pela área da saúde. “Tive a sorte de estar incluída numa família que promovia a inclusão, e quando há 50 e tal anos, nos Açores, de onde sou natural, uma tia minha ficou cega, e quase sem movimento, tendo passado por um processo de reabilitação que lhe permitiu ir viver sozinha, isso inspirou-me e levou-me a fazer uma licenciatura em Terapia Ocupacional, na Escola Superior de Saúde de Alcoitão.”

Ao fim de 15 anos a trabalhar no Hospital Curry Cabral, queria aprender e fazer mais. Agarrou a oportunidade de fazer um doutoramento em Engenharia Biomédica, na NOVA FCT, onde é professora no Departamento de Física, na área da Engenharia Biomédica, e descobriu a sua paixão pela investigação e tecnologia. “Encontrei os meus dois melhores mundos: continuo a desenvolver a tecnologia, que é uma paixão, e a aplicá-la à reabilitação, que é a minha vida anterior”, explica. Além da carreira académica, é investigadora no Centro de Investigação LIBPhys e coordenadora do inovador 3D Printing Center for Health, que cria próteses e dispositivos de apoio em 3D, para pessoas com dificuldades motoras. A combinação de conhecimentos e experiências em Reabilitação e Engenharia Biomédica tem sido extremamente valiosa para compreender as necessidades dos pacientes, por um lado, e desenvolver as tecnologias inovadoras e eficazes para os ajudar a superar os desafios que enfrentam.

O caminho de Sara Caetano até à tecnologia não foi nem emocional nem estruturado. Tinha várias apetências, mas a Matemática e a Física eram as mais desafiantes. Havia, no entanto, algo que a guiava na sua decisão: “passei durante anos à porta do Técnico [Instituto Superior Técnico] e imaginei sempre que seria ali que queria fazer um curso. Ponderei três engenharias e acabei por escolher Engenharia Eletrotécnica de Computadores, estávamos em 1999 e era o boom das telco.” Além disso, e seguindo a sua parte mais racional “achei que me daria um leque de opções profissionais variadas.” Uma escolha que a conduziu às tecnologias de informação “e aqui estou há dezassete anos, nesta área.” Trabalhou em empresas de fabrico de hardware e software (Siemens, Oracle e Opentext), em consultoria (Altran) e na integração de sistemas (Novabase). Foi responsável pelo negócio da OpenText em Portugal, e, atualmente, é diretora de vendas para a Europa, Médio Oriente e África, na PwC.

 

A tecnologia tem o poder de mudar vida

Cláudia Quaresma, que soma vários prémios no seu currículo e uma patente internacional de dispositivo médico, recorda que foi o desafio de criar um glúteo em 3D, há dez anos, que levou à fundação do centro 3D Printing Center for Health, por um grupo de investigadores que integram as Unidades de Investigação Laboratório de Instrumentação, Engenharia Biomédica e Física das Radiações – (LIBPhys), a Unidade de Investigação e Desenvolvimento em Engenharia Mecânica e Industrial – (Unidemi), e o FCT FabLab. Desde maio deste ano que é uma associação sem fins lucrativos.  “O centro está apoiado em três pilares – responsabilidade social, inovação e investigação. Temos como foco ser um centro de referência nacional e internacional para a saúde.” E, destaca: “oferecemos às instituições e aos doentes os dispositivos impressos em 3D que desenvolvemos.”

Cláudia Quaresma não tem dúvidas de que a tecnologia tem o poder de mudar a vidas das pessoas. A prova disso está nas histórias, com final feliz, que tem acompanhado ao longos destes anos. Destaca uma que marcou toda a equipa, a de uma menina, que nasceu sem uma mão, quando, pela primeira vez, usou os dispositivos desenvolvidos, um para usar o garfo e a faca ao mesmo tempo e outro para andar de bicicleta: “Escolheu tudo em cor de rosa (é importante referir que os nossos doentes participam no processo de criação dos dispositivos) e  quando os veio experimentar e viu que movimentava o punho, a prótese fechava a mão e abria os dedos, a primeira coisa que fez foi olhar para os pais e fazer um coração com as duas mãos.” Recorda uma mais recente, de uma menina de três anos que quando olhou, espantada, para a prótese “a primeira coisa que fez, foi mexer no cabelo e bater palmas.” São pequenos gestos que marcam, como a história do senhor Arlindo que queria escrever um romance, mas “por ter uma tetraplagia não conseguia pegar na caneta. Desenhámos em conjunto com ele, o dispositivo e quando começou a escrever disse-nos que quando tivesse o livro escrito nos convidaria para o lançamento.”

A coragem de mudar

Em todas as organizações onde trabalhou, Sara Caetano passou por vários desafios, onde a sua competência nunca foi posta em causa, “tinha excelente feedback entre pares e liderança e avaliações, era altamente elogiada, mas nada acontecia, e eu queria que acontecesse.” Percebeu que ser boa naquilo que fazia não era suficiente para progredir na carreira. Reconhece que não verbalizar o queria fazer foi o seu maior erro: “tinha o desejo de fazer mais coisas, mas não dizia a ninguém, achava que estava implícito. Afinal, se todos viam que era tão boa profissional, como é que não percebiam que eu podia fazer mais…” Essa, afirma, é a diferença entre homens e mulheres: “os homens verbalizam com mais facilidade, as mulheres não, e temos que normalizar esta diferença, começando a comunicar e a descobrir caminhos.”

Não percebendo que era a sua incapacidade de comunicar que a estava a impedir de progredir “achei que o que precisava era de adquirir mais competências e ter um currículo extraordinário”, aos 37 anos, foi fazer um MBA, na AESE. “Foi das melhores decisões que tomei na vida. Ganhei mais competências, sinto-me hoje mais segura e confortável nos processos de tomada de decisão, de liderança.” Este caminho só por si não se mostrou suficiente, “poderia fazer todas as formações, mas continuando sem saber verbalizar, iria continuar no mesmo estado.”

 

De mentee a mentora

O MBA foi muito importante para uma nova abordagem à sua carreira, mas a mentoria também foi fundamental: “candidatei-me, já fora de prazo, ao programa de mentoria da PWN, porque precisava de ajuda. Conheci o mentor, que hoje é meu coach. Passados três anos, continuamos a trabalhar juntos e ele ajudou-me a perceber que por mais preparada que esteja, se não partir para a ação, que começa com esse primeiro ponto da verbalização, de assumir que quero fazer algo diferente, nada irá acontecer.” Ser mentee exigiu-lhe muito trabalho, pois precisou de estar aberta ao que ouvia e motivada para seguir as pistas que lhe foram lançadas. “Temos de estar dispostas à mudança. O mentor pode dar-nos a mão e guiar-nos, mas não nos leva a lado nenhum. Só nos dá as ferramentas, o caminho é feito por nós.” Neste processo, enfatiza, há muitas dores de crescimento, “temos de confrontar o que sabemos e não sabemos. Passei muitas noites sem dormir, sem saber qual o caminho. Mas, assim que identificamos o que queremos fazer, torna-se mais fácil e direto.”

A mudança surtiu efeito, tornou-a mais consciente no processo de tomada de decisão, “ganhei clareza sobre quem eu era, o que é que eu gosto realmente de fazer, o que não gosto de fazer e onde é que eu me quero focar.” A partir desse momento, canalizou toda a sua comunicação nesse sentido, e explica que “quando falava com alguém dizia que queria fazer três coisas: estar envolvida num projeto internacional, numa função de liderança, e que seja mais estratégica que operacional. Esta era a minha verdade e é o que faço hoje.” A mentoria levou Sara Caetano a ganhar mais visibilidade para o exterior e maior exposição, o que lhe permitiu chegar ao lugar de liderança na OpenText . “Criei a minha oportunidade e ofereci-me para outras funções.”

Enquanto esteve na Opentext, além das suas funções de responsável de vendas no mercado português, foi também responsável, a nível europeu, pela gestão do projeto WoW – Worldwide OpenText Women, focado no desenvolvimento estratégico da carreira das mulheres na organização através de formação e mentoria. O que lhe permitiu desenvolver uma das suas paixões, ter um papel ativo no desenvolvimento e crescimento de outras mulheres.  “As mulheres fecham-se muito na sua concha. Fizemos muitas conversas de networking, e absorvemos e replicámos programas europeus. E já ando à procura do que posso fazer nesta área na PwC, ainda não percebi se existe, porque só estou na empresa há dois meses.” Considera que as mulheres têm de ter uma plataforma segura, “em que o objetivo de colaboração é elevar a carreira umas das outras.” É ainda uma das mentoras do programa One Step Head – Líderes no Feminino, que a Executiva tem em parceria com a AESE Business School. “As mulheres precisam mais do que os homens de mentoria, porque se entregam quando a têm, estão sedentas de mudança.”

Capacitar, atrair e manter as mulheres na tecnologia

Sara Caetano defende que é preciso democratizar o que se faz na tecnologia junto dos mais jovens, para atrair talento feminino para o setor. E não se deve deixar que este tema seja tabu, começando esse trabalho em casa, e sobretudo para quem tem filhas, desmitificar medos, que considera infundados, sobre a matemática ou física. Afirma, convicta, que as mulheres não se devem comportar como homens para serem bem-sucedidas. “Devem dar as mãos umas às outras, e não deixar que nos cortem a voz, é muito fácil numa sala cheia de homens, a nossa voz não ser ouvida.”

Também Cláudia Quaresma partilha a mesma visão de que para se conseguir levar mais raparigas para as tecnologias, há que cativá-las desde o primeiro ciclo: “A Ciência Viva faz muito isso, levando lá crianças para participarem em atividades na área das engenharias. Na NOVA, há programas de embaixadores, em que professores e alunos da faculdade vão às escolas secundárias divulgar cursos, mostrando-se também como exemplo para inspirar jovens.”

A investigadora conta que foi a primeira mulher, não física, a lecionar num departamento de física, da NOVA FCT. E, apesar de ter trabalhado num meio predominante feminino, o da saúde, e agora se movimentar num universo maioritariamente de homens, o da ciência e tecnologia, não sente o peso da discriminação. “É um ambiente competitivo, a competição é feroz, mas devo dizer que não me sinto discriminada, talvez porque não me predisponho a isso. Se existir alguma discriminação, que não houve até hoje e mesmo que a sinta, para mim tem o efeito contrário, dá-me mais força para continuar a trabalhar.”

 

Desafios com grande impacto

Sara Caetano não tem dúvidas que o seu maior desafio tem a ver com o seu processo de crescimento na carreira. “Identificar o que tenho de ultrapassar e de aprender, onde é que quero chegar e quais os caminhos, são as minhas maiores dores. Mas não vou negar que é também o desafio de ser ouvida e reconhecida entre pares e de ter o meu lugar à mesa de decisão.”

As dores de Cláudia Quaresma, que considera serem parte integrante do seu maior desafio, foram o doutoramento e a viragem profissional. “Remexe-nos muito com a alma. Eu que gosto de trabalhar em equipa, era a primeira e única aluna do doutoramento, e estar sentada sozinha a olhar para um computador, foi inicialmente um terror, assim como o foi lidar com as dificuldades e a frustração de artigos que fazia e vinham devolvidos.” Destaca ainda um outro desafio, que não queria nem ambicionava, mas que lhe permitiu ganhar competências e que hoje considera das melhores aprendizagens que teve: “fui coordenadora de uma licenciatura no Politécnico de Beja, um lugar que não desejava, onde aprendi a colocar-me na posição de quem lidera e perceber as dificuldades que isso implica; adquiri competências que hoje são essenciais para mim”.

Seguir os sonhos sem olhar para os estereótipos, é o lema de Cláudia Quaresma que aconselha a todas as mulheres que queiram fazer carreira nesta área, mas que hesitam com receio de não conseguir chegar a cargos de liderança. “É importante termos uma bússola com os nossos valores e interesses, esquecer os preconceitos e seguir os nossos sonhos.”

Sara Caetano partilha o mesmo princípio e reforça, desafiando a plateia: “O nosso limite somos nós próprias. Não se bloqueiem, libertem-se de tabus. Aprendi mais quando fazia perguntas, do que quando me escondia no meu canto. Experimentem, conversem, testem novas áreas, levantem a mão para projetos novos na vossa empresa, e se querem fazer, façam.”

 

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