7 regras de etiqueta que todas as executivas devem conhecer

Para que uma viagem de negócios internacional corra na perfeição é preciso dominar algumas regras de etiqueta básicas. Joana Andrade Nunes diz-lhes quais são.

Joana Andrade Nunes é consultora de protocolo, etiqueta e comunicação.

Numa época em que a inteligência artificial está na agenda — e que tem levado vários profissionais a demonstrar a sua preocupação com o futuro da sua profissão e/ou os condicionamentos que iremos vivenciar — reforço o que sustento há vários anos: as nossas competências sociais (as afamadas “soft skills“) são o que nos continuará a diferenciar, não só dos nossos pares mas, acima de tudo, da tecnologia, do software e dos robôs mais “inteligentes” que possam surgir. A capacidade ímpar que apenas nós, seres humanos, dispomos de nos relacionarmos é, agora, a galinha dos ovos de ouro dos executivos de excelência. Assim, para que possamos criar e sedimentar laços com todos os que integram a nossa relação profissional, é absolutamente fundamental que reuniões, almoços e jantares de negócios presenciais tenham, novamente, lugar. Tendo em conta que as regras de etiqueta não são universais nem eternas — variam de cultura para cultura e de acordo com a época — para criar uma boa primeira impressão e sedimentar uma impressão de excelência, é fundamental que tenhamos em mente 7 regras de etiqueta para que a viagem seja um sucesso e não vivenciemos (nem potenciemos) momentos constrangedores que podem arruinar uma viagem que foi meticulosamente preparada.

 

As 7 regras de etiqueta 

1.Em Roma, sê romano

A máxima “Em Roma, sê romano” é a nossa melhor amiga numa viagem internacional.

Adoptar o comportamento que naquela cultura e naquela época demonstre respeito e consideração para com o outro é fundamental para sermos empáticos e não colocarmos uma “bomba atómica” assim que a nossa presença se faz anunciar.

Conhecer as regras de etiqueta basilares de cada cultura é, como tal, fundamental para que nos consigamos integrar e criar conexão com o interlocutor.

Num mundo global, em particular no contexto negocial, se é verdade que estamos todos mais despertos para ser tolerantes com o comportamento do outro  — pois este pode não coincidir com a nossa cultura — não nos esqueçamos que quando visitamos outro país (ou a casa de alguém) somos nós, o elemento externo, que tem o dever de se adaptar e fazer um esforço extra para se integrar.

As nossas preferências, convicções, ares e graças não são o centro do mundo nem o que mais importa: saber que, independentemente das mesmas, devemos fazer um esforço para respeitar os comportamentos que naquela cultura demonstram respeito — ainda que, na nossa cultura, representem exatamente o oposto — é fundamental.

 

2.Postura

Adoptar uma postura elegante, confiante e empática é crucial para transmitir uma boa impressão e começar o evento (reunião, almoço ou jantar) com o pé direito.

Evitar entrar na sala “com o nariz empertigado” ou, pelo contrário, representando a imagem icónica do “Corcunda de Notre Dame” não serão, de todo, as imagens com as quais se quer identificar.

Dividindo este tema em dois grandes grupos — cultura ocidental vs cultura oriental — há que ter em mente que o contacto visual tem interpretações distintas em cada cultura. Se, na nossa cultura, é fundamental estabelecer e manter contacto visual com o interlocutor enquanto comunicamos, em países como a Coreia e a China não se deve estabelecer contacto visual direto com o interlocutor, excepto se o seu intuito for colocá-lo numa posição constrangedora e embaraçosa.

Assim, saiba, de antemão, qual é a postura esperada no país que vai visitar para que não cause uma má primeira impressão sem ter proferido uma única palavra.

 

3.Formas de cumprimento

Falar de postura implica que se aborde o tema “formas de cumprimento” dado que estas não são, também, coincidentes no mundo dos negócios.

Se é verdade que, no contexto empresarial, o aperto de mão continua a ser a forma de cumprimento por excelência — um aperto de mão firme e confiante, e não o afamado aperto de mão “quebra ossos” nem o “aperto de mão morta” — acompanhado-o de contacto visual e de um sorriso genuíno,  saiba que, na Índia, deverá cumprimentar o seu interlocutor com o famoso “namastê”; na Coreia ou no Japão, com uma pequena vénia e sem estabelecer contacto visual direto; em Angola, não se admire se, após ter cumprimentado o seu interlocutor com um aperto de mão, lhe apresentarem um vigoroso abraço e denotarem que desconhecem o conceito de “bolha de privacidade”.

Nós, tal como outros povos latinos, somos um povo de afetos e com um carácter de (alguma) informalidade que nos corre nas veias. Como tal, continuamos a ser um país “beijoqueiro”, mesmo no contexto negocial, apesar do aperto de mão ser reconhecido como a forma de cumprimento por excelência.

Por sua vez, interlocutores dos países nórdicos apresentam uma postura e presença mais fria, pouco próxima e, sem dúvida, formal. Não se desiluda com a rigidez dos alemães e com a necessidade de irem diretos ao assunto sem “perderem tempo” com conversa de circunstância; espere do seu interlocutor alemão, o cumprimento religioso do horário da reunião (não só para começar, mas também para terminar) e não pense negligenciar a utilização de títulos académicos, sob pena de ser considerada a pessoa mais rude dos últimos tempos.

Tenha, também, sempre em mente que uma das regras de etiqueta básicas é cumprimentar, em primeiro lugar, o anfitrião e as pessoas mais importantes da organização que vai visitar, reservando os cumprimentos dos membros juniores para o final. Não respeitar a ordem de precedências na forma de cumprimento (e apresentações) pode ser uma verdadeira “facada” na relação negocial, em particular em culturas mais formais nas quais a hierarquia tem particular  importância.

 

4.Traje e maquilhagem

Elegantes, discretos e que lhe permitam realçar os seus pontos fortes: são estes os objetivos que o traje e a maquilhagem devem respeitar.

Na cultura ocidental, o traje e a maquilhagem no contexto de negócios não se revelam um tema sensível. Mais discretos ou mais efusivos, a verdade é que não temos propriamente um dilema em saber o que devemos utilizar: o tom do evento será determinante para obter uma resposta concreta não se apresentando como uma dor de cabeça.

Contudo, culturas com regras de vestuário diversas das ocidentais implicam que tenhamos particular cuidado com este tema para não causar uma péssima primeira impressão  demonstrando falta de respeito pela cultura que nos recebe e como tal a quebra de uma das regras de etiqueta relevantes.

A título de exemplo, se, na Arábia Saudita, é fundamental que a nossa postura demonstre confiança e lealdade (além de uma excelente preparação técnica), para que os negócios possam ser levados a bom porto, o traje, em particular no que concerne às mulheres executivas, deve ser cautelosamente escolhido para que respeite o que, naquela cultura, é considerado adequado pelo Corão. Mulheres que lideram negócios não são, propriamente, acolhidas de braços abertos. Assim, é particularmente adequado que se vistam de forma conservadora para que a postura não coloque um entrave nas negociações. Braços ou pernas à mostra, decotes, roupas justas e saias acima do joelho não são consideradas adequadas. Vestidos largos com mangas a ¾, saias pelo tornozelo e, de preferência, fluidas são opções consideradas adequadas neste contexto cultural demonstrando respeito pelo seu interlocutor e pelas suas crenças religiosas — ainda que, para nós, ocidentais, possa parecer verdadeiramente conservador e inadequado para a época em questão. Se é verdade que, legalmente, não é exigido que mulheres estrangeiras utilizem abaya (uma túnica longa que cobre o corpo na totalidade) nem hijab (véu que cobre a cabeça e o pescoço), considere utilizar os mesmos caso pretenda demonstrar respeito pela cultura que a acolhe e com a qual quer estabelecer e manter relações negociais — na verdade, ainda que  possa não ser uma exigência legal, a pressão social que poderá sentir determinarão a sua utilização. Ter uma um lenço de seda grande sempre consigo, pronto a cobrir os seus magníficos cabelos, será, sem dúvida, o seu melhor amigo numa viagem pela Arábia.

Na China, para não ofender o seu interlocutor masculino, coíba-se de utilizar saltos altos (mulheres com estatura superior é tido com “superioridade”). Roupas com grandes decotes e/ou com transparências não são, também, consideradas apropriadas. Contudo, são permitidas saias justas, com aberturas laterais consideráveis, desde que a parte superior do corpo esteja devidamente coberta. Este ponto contrasta com o esperado na cultura africana, na qual é esperada a utilização de saias e vestidos longos mas, pelo contrário, apresentar uma parte de cima mais decotada não é um problema.

 

5.À mesa

Porque os (bons) negócios se realizam e celebram à mesa, saber estar à mesa de refeição é um ponto incontornável que não poderia deixar de abordar.

Se é verdade que à mesa de refeição estamos mais descontraídos e a nossa personalidade é revelada com maior facilidade, também é verdade que é das ocasiões “mais sensíveis” em que o constrangimento por não ter a certeza do comportamento se revela “um tema”.

O impacto é (ainda) maior quando estão em causa culturas com regras de etiqueta à mesa não coincidentes com as regras de matriz ocidental.

Sempre que estiver em contacto com culturas muçulmanas, uma das regras de etiqueta básica é não pedir vinho nem bebidas alcoólicas; recordo-lhe também que jamais deverá oferecer vinho, licor ou outro produto que integre bebidas alcoólicas ao seu interlocutor.

Se não é apreciadora de chá e estiver nos seus planos uma viagem à China, aconselho a que se mentalize para degustar a bebida “dos deuses” na China. Familiarize-se com os pauzinhos pois, ainda que lhe sejam servidos talheres ocidentais, causará uma boa impressão se souber prescindir deles. Não se esqueça que não deverá deixar os pauzinhos na posição vertical na tigela do arroz por ser visualmente similar ao ritual em que se “alimentam os mortos”, utilizando incenso.  Não demonstre a sua cara de “choque” se lhe servirem gônadas de ouriço-do-mar (uma verdadeira iguaria), assim que descobrir que representam os órgãos sexuais deste ser vivo. Se não tiver guardanapo na mesa, não peça: utilize as toalhas húmidas que, provavelmente, já foram disponibilizadas.

No Reino Unido, recordo-lhe que o código silencioso dos talheres não é coincidente com o código aplicável nos restantes países ocidentais (salvo países de influência marcadamente inglesa). Para sinalizar que terminou a refeição, coloque o garfo e a faca paralelos, na posição 6h30 (analisando o prato como um relógio), contrariamente ao que sucede na maioria dos países europeus (em Portugal, colocamos os talheres paralelos na posição 4h20).

Se lhe pedirem para passar a pimenta, lembre-se da relação amorosa que o sal e a pimenta têm: passam-se sempre em conjunto, ainda que apenas um nos seja pedido.

Nos Estados Unidos, é habitual que a refeição se inicie com uma oração de Ação de Graças; se não for crente, demonstre respeito pela ocasião participando, silenciosamente, no momento e agradeça o amável convite.

Ainda em relação aos americanos, são se admire se observar o método da “preguiça” (também apelidado de “zig-zag” ou “americano”) pois a faca só é utilizada para cortar o que for necessário; assim que os pedaços de comida estiverem cortados, colocam a faca na parte superior do prato, em descanso, e alteram o garfo da mão esquerda (mão dominante) para a mão direita segurando-o como se de um lápis se tratasse. Por fim, tal como os ingleses e contrariamente ao que sucede entre nós, as mãos devem permanecer no colo durante toda a refeição, excepto quando estão a manusear os talheres.

Se, como bom português, é amante de pão e molho de tomate, seguramente saberá que, entre nós, “utilizar um pedaço de pão para limpar o prato” apenas é tolerado em ambientes verdadeiramente informais, pitorescos e no recato do lar.

Contudo, em Itália, em contextos informais, poderá ser convidado a participar no ritual “fare la scarpetta” que não é nada mais, nada menos, que utilizar um pedaço de pão para que, no final da refeição, não exista prova de que lhe foi servido um delicioso molho de tomate, ou seja, utilizará um pedaço de pão para “limpar”, literalmente, o seu prato.

Por fim, recordo-lhe que, em França, o guardanapo é colocado do lado direito do prato. Assim, não se confunda com o que sucede em Portugal (entre nós, o guardanapo é colocado à esquerda do prato)  e coíba-se de “roubar” o guardanapo do vizinho. Terminando ainda com a bela mesa francesa, saiba que se não quiser provocar um ataque cardíaco no seu interlocutor francês, jamais deverá cortar o “nariz” do queijo: corte o queijo mantendo a sua forma original.

 

6.Conversa de circunstância

Tal como partilhei consigo no meu artigo de abril, dominar a conversa de circunstância é fundamental para que possamos identificar pontos comuns e passar para o nível de conversação seguinte.

Não se resumindo, de todo, a falar sobre o tempo, a conversa de circunstância é particularmente relevante em países latinos e africanos que, provavelmente pelo calor que os domina, transformam os seus povos em povos calorosos que gostam de dominar a arte de bem conversar.

Pelo contrário, povos nórdicos vão diretos ao assunto não fomentando conversa de circunstância. Assim, não se admire se o seu interlocutor nórdico não lhe perguntar se a viagem correu bem ou se o hotel onde agendou a sua estadia é simpático e vai ao encontro do esperado.

Por sua vez, saiba que há vários temas que, ainda que abstratamente lhe pareçam inócuos, poderão revelar-se um verdadeiro desastre na relação que está a iniciar ou a sedimentar.

Futebol, dinheiro, religião, política, sexo, questões fraturantes e a clássica pergunta “Como está a sua mulher/marido?” estão completamente vedadas.

O tema Direitos Humanos é, também, um tema sensível na China que não deverá ser abordado.

Para não correr o risco de quebrar regras de etiqueta, registe que literatura, cultura, cinema, arte e pontos de interesse da cidade que está a visitar são temas seguros que lhe permitirão conversar sem potenciar um momento constrangedor.

 

7.Ofertas entre parceiros de negócios

Por fim, e na sequência do artigo que partilhei em março, uma das regras de etiqueta que nunca falha é oferecer uma lembrança ao seu interlocutor como sinal de gratidão pelo acolhimento.

Salvo empresas com regras rígidas sobre este tema — que não permitem que sejam oferecidas nem aceites ofertas entre parceiros de negócios, transversalmente ou em determinadas alturas das negociações — na maioria das relações profissionais, é altamente aconselhável oferecer uma lembrança que reflita a nossa cultura.

Saiba, contudo, que Vinho do Porto ou Moscatel de Setúbal, produtos icónicos de Portugal, serão mal interpretados quando oferecidos a interlocutores muçulmanos. O mesmo sucede com chocolates, bombons ou outras iguarias que contenham produtos alcoólicos.

Recordo-lhe, também, que flores brancas são inadequadas quando oferecidas a chineses (são sinal de luto) ou a japoneses (é a cor reservada ao Imperador); oferecer quatro objetos, relógios, abre-cartas ou lenços de mão a parceiros chineses é verdadeiramente inapropriado por representarem a nossa passagem perene pela vida, um eventual corte na relação e lágrimas de tristeza. Ainda relativamente a parceiros chineses, se não tiver um presente para retribuir o que lhe foi entregue, não aceite, caso contrário “perderá a face”.

Por fim, uma palavra relativa a ofertas a interlocutores japoneses: além de vibrarem com marcas de luxo e produtos feitos à mão, levam muito a peito a arte de embrulhar a oferta. Por isso, coíba-se de inventar um embrulho de última hora, com fita-cola visível ou outro ar que não o de absolutamente imaculado: caso contrário, será tida como a executiva mais rude dos últimos tempos e, dificilmente, continuará com o pé direito na relação que pretende construir ou sedimentar.

 

Joana Andrade Nunes é consultora de protocolo, etiqueta e comunicação, membro da Associação Portuguesa de Estudos de Protocolo, colaboradora no programa “Praça da Alegria”, na RTP 1 e autora da rubrica “Etiqueta Profissional”, na Executiva. Mestre e Licenciada em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, iniciou a carreira profissional como docente universitária nesta instituição e, até 2017, conciliou a atividade de docência com a prática de advocacia de negócios. Em 2014, foi distinguida com Menção Honrosa no âmbito do V Prémio Wolters Kluwer de Artigos Jurídicos Doutrinários. O seu livro Quatro Gerações à Mesa foi considerado o melhor livro de culinária de Portugal, pelos Gourmand World Book Awrads (2016) e o 3.º melhor do mundo, pelos gourmand World Book award, 2017. Desenvolve a atividade de consultoria e formação junto de prestigiadas equipas e organizações.

 

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