Há um ano que Susana Schmitz, Mestre em Psicologia das Organizações e Recursos Humanos, coordena um projeto inovador em Portugal: o Projeto R, um programa de desenvolvimento e de formação que quer preparar os colaboradores das empresas para a passagem à idade da reforma e contribuir para que esta seja uma etapa da vida cheia de otimismo e de realizações. Uma novidade que vem ao encontro de dados demográficos surpreendentes (veja caixa) e que quer motivar as empresas a ajudar os seus colaboradores nessa transição. Porque, apesar da reforma estar muito associada à ideia de férias, ela é um período de grandes mudanças que obrigam a lidar com novos desafios como as alterações no quotidiano familiar e social e a utilização do tempo livre de forma construtiva, esclarece esta especialista.
Em países como Holanda, França, Estados Unidos e Brasil é comum as entidades empregadoras auxiliarem os seus colaboradores nesta fase. Mas em Portugal quase não se fala dessas dificuldades, apesar de elas frequentemente conduzirem muitos trabalhadores a problemas graves como a depressão clínica.
A liderar o Projeto R está uma equipa feminina de empreendedoras que, para além de Susana Schmitz (Fundação EDP), é composta por Maria dos Anjos Machado (com mais de 40 anos de carreira nas áreas de Contabilidade e Logística da EDP) e por Marlene Martins (consultora em Recursos Humanos).
Um programa em duas fases
Dirigido a profissionais que estejam a entrar na reforma ou na pré-reforma, o Projeto R assenta em três pilares: Informação, Autoconhecimento e Projeto de Vida, e é implementado em duas fases: Desenvolvimento e Concretização. A duração é de 21 horas, divididas em duas fases.
O Desenvolvimento consiste em sessões formativas em grupos de até 15 pessoas e conta com o testemunho de keynote speakers, que partilham as suas experiências de vida ativa na reforma, entre os quais Maria da Conceição Zagalo, ex-membro do Conselho Diretivo da IBM e presidente da Assembleia Geral do Grupo de Reflexão e Apoio à Cidadania Empresarial (GRACE). Na fase da Concretização é realizada uma reunião individual para orientar a implementação do projeto de vida. No final do programa de formação do Projeto R os participantes deverão conseguir: “identificar as mudanças que a reforma traz nas principais áreas da vida e as estratégias que podem usar para lidar com elas; reconhecer os interesses e motivações atuais e as competências que gostariam de desenvolver; desenvolver um projeto de vida para a reforma definindo os objetivos para as principais áreas da vida; e estabelecer com quem, como e onde se concretizarão os objetivos definidos. Os participantes passam a pertencer à Rede Alumni do Projeto R, cujos encontros regulares incluem experiências culturais, estimulando a ampliação de redes sociais.
Onde estão as vantagens
As mais valias do programa Projeto R estão na conquista de ferramentas para lidar com uma nova fase, na construção um projeto de vida, no contacto com atividades enriquecedoras, e no alargamento da rede de contatos. Podem parecer vantagens evidentes mas nem sempre são valorizados os verdadeiros benefícios. Para as empresas, apoiar os seus colaboradores na transição para a reforma será uma forma de colocar em prática o seu papel socialmente responsável e reconhecer o trabalho desenvolvido pelos seus funcionários ao longo da carreira.
Susana Schmitz conta que sempre quis desenvolver um projeto próprio nesta área e para isso pegou nalguns exemplos internacionais, como o do Congresso Nacional Brasileiro de Preparação para a Reforma, que quer continuar a replicar em Portugal. Em breve irá realizar mais uma iniciativa do Projeto R, em parceria com as consultoras Mercer e a Pedra Base, no Greenfestival, chamada “Gray is gold: porque a Gestão da Idade/Age Management é estratégica para as organizações”, que se realizará no próximo dia 8 de Outubro (15h-16h30), no Centro de Congressos do Estoril (inscrições em [email protected]). O objetivo deste evento é o de promover a partilha de boas práticas de forma a sensibilizar as empresas para a adoção de medidas de gestão da idade e de gestão do talento sénior como estratégia de Recursos Humanos para a sustentabilidade. Entre os convidados oradores estão a Galp, GRACE, Montepio (Projeto DAR – Desenvolvimento Ativo e Responsável), a EDP (Programa Valorizar a Experiência) e a Mercer (Sustentabilidade financeira na reforma).
OS NÚMEROS DA DEMOGRAFIA
- A tendência entre a população ativa da União Europeia aponta para um crescimento de cerca de 16,2% (9,9 milhões) do grupo etário dos 55-64 anos entre 2010 e 2030.
- Em numerosos países os trabalhadores mais velhos (55-64 anos de idade) representarão 30% ou mais da população ativa (Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho).
- Em 2060 a proporção de pessoas com mais de 65 anos passará de 17,4% para 32,3% da população portuguesa total, segundo o INE (Instituto Nacional de Estatística).