Preparar a ausência por maternidade

Nem sempre é fácil para as mulheres desligarem-se totalmente do trabalho durante a licença parental. Veja como duas executivas se preparam para esta fase.

Apesar do ritmo exigente da McKinsey, Rita pondera gozar cinco meses de licença parental.

Marissa Mayer, da Yahoo, tem sido frequentemente apontada como um mau exemplo para as colaboradoras por regressar ao trabalho poucas semanas após os partos dos filhos. Chegou à Yahoo! em 2012 grávida de seis meses e ficou poucas semanas afastada quando o primeiro filho nasceu. A 10 de dezembro de 2015 anunciou o alargamento da família com a chegada das duas gémeas e comunicou que regressaria ao trabalho até ao final desse mesmo mês.

Hoje, muitas executivas e empreendedoras sentem dificuldade em ficar muito tempo afastadas da empresa. Mas com a ajuda da tecnologia e uma boa organização do trabalho há mulheres que conseguem desfrutar dos primeiros meses do bebé com alguma tranquilidade, mesmo quando têm carreiras intensas. Saiba como duas executivas, que já vão na terceira gravidez, se preparam para viver esta fase com o mínimo de stresse.

Os bebés de Rita Gonçalves têm nascido nos períodos mais calmos do seu trabalho na McKinsey.

Passar bem o trabalho

O ideal é passar o trabalho com tempo e dar à equipa e aos clientes todas as informações de que podem vir a precisar. “Passar o ‘meu bebé do trabalho’ é o principal desafio”, diz Rita Gonçalves, da McKinsey. A professional development manager tenta deixar fechadas as partes mais complexas dos projetos que tem em mãos e instruções claras sobre como resolver os principais desafios que podem surgir. Por sorte, ou talvez não, as suas três licenças parentais têm coincidido com os períodos mais calmos da sua atividade, o que facilita a ausência.

Assegurar um ponto de contacto

Hoje é quase impossível ficar a leste do que se passa no escritório. Deixar o trabalho com alguém de confiança dá-lhe a tranquilidade de que precisa durante a licença e facilita no regresso ao trabalho.

Mafalda Teixeira de Abreu, Abreu Advogados

Mafalda T. de Abreu realça o apoio que a Abreu Advogados dá às advogadas na licença parental

Mafalda Teixeira de Abreu, advogada associada da Abreu Advogados, diz que por princípio tenta desligar-se das tarefas profissionais durante este período. “Tentei usufruir ao máximo dos primeiros meses de vida de cada uma das minhas filhas”, diz a mãe de duas meninas, que se prepara para receber um rapaz no início do verão. No entanto, admite que continua a ser copiada nos emails relativos aos processos que acompanha e que já teve de ajudar em “urgências”.

Nem todas as advogadas podem tirar cinco meses de licença de maternidade como Mafalda Teixeira de Abreu.

Tirar o tempo que lhe parecer adequado

Cada vez há mais mulheres que optam por não tirar todo o tempo previsto na lei. Mafalda e Rita apesar de terem carreiras muito absorventes contrariam a tendência, em grande parte graças ao apoio das empresas onde trabalham. Mafalda, que está na Abreu Advogados há 15 anos, tem visto a política de maternidade da sociedade adaptar-se ao longo dos tempos. “No escritório 64% dos colaboradores são mulheres e desde 2005 que é aplicada uma política de auxílio às mães advogadas, que de outra forma não poderiam usufruir de apoio financeiro nos meses de ausência por maternidade”, explica. Isso permitiu-lhe gozar cinco meses de licença no nascimento de cada uma das filhas.

Rita Gonçalves, que também está a caminho do terceiro filho, tem-se ficado pelos quatro meses, mas agora equaciona esticar a licença até ao quinto mês. “A McKinsey dá-me toda a flexibilidade para escolher o que for melhor para mim”, justifica. Com uma passagem tranquila do testemunho uma ausência mais prolongada torna-se mais viável, mesmo em empresas com ritmos de trabalho muito intensos.

Permitir às colaboradoras trabalhar a partir de casa facilita o seu regresso ao trabalho.

Estar presente nas reuniões mais importantes

Por que a vida nas empresas não para e porque o que acontece pode impactar o trabalho no regresso da licença, Rita Gonçalves prefere manter-se com um pé no escritório mesmo enquanto está em casa. Admite que não consegue desligar-se completamente da McKinsey e “se o fizesse não seria feliz”. Por isso, embora seja raro ligar o computador nos primeiros meses de vida dos bebés, todos sabem que está disponível para urgências no telemóvel e no email, até os clientes. E quando é necessário, prefere participar nas reuniões que podem influenciar o seu trabalho. “Prefiro estar envolvida no processo e na tomada das decisões do que ter depois de implementar decisões nas quais não participei”, explica.

Negociar flexibilidade no regresso

Em algumas empresas é possível negociar alguma flexibilidade quando retoma o trabalho. Outras, como a McKinsey e a Abreu Advogados, permitem às colaboradoras trabalhar a partir de casa, o que faz com que não cheguem a ponderar negociar mais do que as duas horas de amamentação ou aleitação previstas na lei.

“Temos um sistema que nos possibilita o acesso a todas as ferramentas informáticas do escritório e em completa segurança, no que respeita à utilização dos dados”, explica Mafalda, admitindo que trabalha cada vez mais em casa e fora de horas. Por isso, e apesar de a Abreu Advogados ter várias alternativas de flexibilidade para as advogadas que regressam de licença parental, Mafalda não recorre a nenhuma delas. “Nunca pensei nisso”, justifica, “porque ou faço uma coisa ou faço outra e acho mais fácil gerir dessa forma”.

 

ATUALIZE O CURRÍCULO

Se decidir interromper a carreira durante uns tempos para se dedicar aos filhos deve incluir essa opção no currículo e no perfil do LinkedIn. De outra forma, a razão de uma ausência prolongada do mercado de trabalho não será imediatamente entendida por potenciais recrutadores e pode prejudicá-la.

 

Parceiros Premium
Parceiros