Paris, por Leonor Baldaque

Soma 11 anos de vivência na capital francesa. Eis o seu olhar sobre o melhor (e o pior) da cidade

Leonor Baldaque prefere deslocar-se de bicicleta em Paris e caminhar em Roma, cidade a que regressa com frequência

É conhecida por ser neta de Agustina Bessa Luís e atriz dos filmes de Manoel de Oliveira. Nasceu no Porto, e partiu para Paris com 23 anos. Uma década depois, em Agosto de 2009 instalou-se em Roma, onde escreveu o seu primeiro romance, originalmente em francês: Vita – La Vie Légère, publicado na Collection Blanche pela Gallimard. De regresso à capital francesa, reparte o seu tempo entre o filho de um ano e a escrita do segundo romance, inspirado na pintura italiana.

Qual o seu café de eleição? A Palette… Senão aqueles que não têm charme nenhum, onde não se vai para ser visto.

E o restaurante? Yen, decididamente!

A livraria? Eu não adoro frequentar livrarias… Peço ao meu marido para me comprar os livros! Mas eu diria a Librairie Compagnie, a secção de Poesia. Gosto imenso da livraria Galignani, como espaço, e pelos livros ingleses, e pela selecção de livros de cozinha.

A sala de espetáculos? Théâtre de la Ville, pela dança contemporânea. E os museus Beaubourg e Musée d’Orsay, sempre, sempre.

Onde faz as compras diárias ou semanais? Diárias, no biológico Bio c Bon! Cozinho imenso e faço cada dia o meu smoothie. É imprescindível ter elementos frescos. O peixe no Bon Marché.

E onde compra roupa e sapatos? Vanessa Bruno, há anos, para a roupa. Sandálias K Jacques no Marais, há anos. E sabrinas, as Porselli, que trago de Roma… há anos também.

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Jardin das Tulleries, um dos locais onde a artista portuguesa gosta de passear

Onde gosta de passear nos momentos de lazer? Atravessar o Jardin des Tuileries, ir até ao Louvre, ou então até à Galignani, depois parar um momento no café Angelina.. Um percurso “clássico” para mim! Mas, em geral, não sou uma grande caminhadora em Paris. Prefiro mil vezes a bicicleta. Em Roma, prefiro mil vezes andar a pé. Gosto de atravessar Paris relativamente depressa; e Roma muito devagar.

Qual o segredo mais bem guardado de Paris? Paris não foi feita para os segredos, mas para a exibição de tudo. É por isso que Paris é a cidade no mundo onde os segredos têm a esperança de vida mais curta.

E o local muito recomendado, mas que não vale a pena? Grande parte dos restaurantes.

Qual o spot do momento? Pigalle, Belleville. Uma juventude que se cruza apenas ali.

O que mais gosta na cidade? A elegância das japonesas. A elegância das parisienses. A quantidade de museus. E o peso da História.

O que menos gosta? A superficialidade, um espírito ultra conservador, e o racismo.

Eu acho as raparigas muito felizes em Paris, as mulheres muito menos.

O que está a mudar? Como todas as capitais, cada vez mais Paris se assemelha a um gigantesco centro comercial, o que afugenta os artistas. Inevitavelmente, a qualidade das conversas e encontros diminui. Paris, neste aspecto, mudou muito desde que para cá vim, há 16 anos atrás.

Onde gosta de trabalhar (escrever)? Em que local se inspira? Em casa, sem dúvida. E na biblioteca da École Normale de la Rue d’ Ulm, um sítio onde entro graças a um amigo, mas sem permissão. Mas não resisto, é um local mágico para mim. Trouxe imenso à minha vida. Lembro-me de cada tarde que lá passei, como Svevo cada cigarro que fumou. Inspiram-me os grandes artistas — Pina Bausch, Jan Fabre, Cy Twombly…

Como define o estilo e a personalidade das mulheres parisienses? Magnificamente arrogantes, falsas em tudo, ciumentas e invejosas, ou magnificamente inteligentes, ousadas, espirituais, misteriosas, distantes. Eu acho as raparigas muito felizes em Paris, as mulheres, em geral, muito menos. Em Roma, é o contrário. As mulheres são cada vez mais elas próprias, e felizes de o serem. Há uma força do feminino em Roma fortíssima.

Qual a mulher que melhor retrata o espírito de Paris? Deneuve, por todas as qualidades que citei.

Que hábito ganhou nessa cidade que não tinha em Portugal? Todos ou quase! Um estilo, uma alimentação biológica, o prazer de frequentar os cinemas à tarde e de ir aos museus sozinha. Uma liberdade de expressão.

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