Maria Helena Souto e a criatividade no feminino

A professora do IADE é uma estudiosa da história da criatividade no feminino em Portugal e da sua importância para as novas gerações.

Maria Helena Souto nota mudanças com as novas gerações.

Maria Helena Souto é especialista em História de Arte portuguesa no feminino e o seu trabalho sobre a História do Design Português está já na Bloomsbury Encyclopedia of Design. Apaixonou-se pelo tema no final do curso e não mais o largou.

É doutorada em Ciências da Arte, pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Mestre em História da Arte pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e Licenciada em História pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa. Coordenadora de projetos de investigação e autora de vários livros e artigos sobre História do Design e da Arquitetura em Portugal (séculos XIX e XX), é atualmente responsável científica pelo IADE-U no projeto de cooperação Women’s creativity since the Modern Movement (MoMoWo). Este projeto, que se vai estender até 2018, pretende homenagear o trabalho e carreira de mulheres no design, arquitetura, arquitetura paisagística, planeamento urbano e engenharia civil, através de um conjunto de atividades dinamizadas pelos seis parceiros europeus do MoMoW.

Dos anos que tem dedicado à presença das mulheres no design, Maria Helena Souto realça uma ideia-chave: falta igualdade de oportunidades em função do mérito.

Quando se interessou pelo papel das mulheres na Arte?
Como trabalho de final da minha licenciatura em História na Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, desenvolvi uma investigação para o Seminário de Historiografia da Arte em Portugal, regido em 1980 pelo Prof. Manuel do Rio-Carvalho, sobre “A Mulher na pintura portuguesa (1840-1940)”.
Recentemente, para o projeto de investigação financiado pela FCT e co-financiado pelo COMPETE, sobre o Design em Portugal, 1960-1974, estudei um grupo de designers portuguesas com um papel muito relevante na institucionalização do design no nosso país, com destaque para a ação da escultora e designer de vidros Maria Helena Matos, responsável pelo Núcleo de Design Industrial do antigo INII.

Só há uma mulher distinguida com o Prémio Pritzker e ele é atribuído desde 1979…

Do seu trabalho ao longo dos anos que três ideias-chave pode destacar sobre este tema?
Antes, uma ideia-chave: o que é necessário é igualdade de oportunidades em função do mérito. As mulheres já estão em todas as profissões, mas ainda são poucas as que atingem os lugares cimeiros, isto é, continua a ser verdade que os lugares de topo nas grandes empresas ou nos grandes ateliers, são ainda na sua maioria dominados por homens. A título de exemplo, observe-se como apenas uma mulher em nome próprio recebeu o prémio Pritzker de arquitectura – Zaha Hadid em 2004 -, prémio que é atribuído desde 1979.

Quais os casos mais surpreendentes que descobriu no levantamento que fez sobre a criatividade no feminino em Portugal?
As ações desenvolvidas por Maria Helena Matos à frente do Núcleo de Design Industrial do antigo INII, nomeadamente, o ter conseguido realizar em 1965 a primeira Exposição de Design Industrial em Portugal e, posteriormente, ter também organizado em colaboração com as designers gráficas Alda Rosa e Cristina Reis, as 1ª e 2ª Exposições de Design Português em 1971 e 1973.

Na pintura portuguesa os dois nomes mais reconhecidos são de mulheres.

Por que razão as mulheres continuam a ter uma presença mais apagada na Arte?
Porque o mérito não conhece géneros, lembro que na pintura, os nomes portugueses mais reconhecidos internacionalmente são os de Maria Helena Vieira da Silva e Paula Rego.

Nota alguma mudança nas novas gerações?
Sim, inclusive porque com o alargamento do acesso ao ensino superior no pós-25 de Abril de 1974, o número de jovens mulheres nos diferentes cursos tem vindo a crescer exponencialmente o que teve repercussões em todas as áreas, nomeadamente nas áreas da Arquitetura e do Design.

Que conselho deixaria a uma jovem que pretenda dedicar-se à Arte em Portugal?
Criatividade e resiliência.

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