“Mais saúde, mais sabor e mais frescura” é o que promete O livro das receitas vegan, em cujas páginas a nutricionista Magda Roma, com o apoio de Mónica Venda, apaixonada confessa pela culinária vegan e vegetariana, desafia a tradicional dieta mediterrânica, criando refeições confecionadas à base de vegetais, legumes, leguminosas, fruta e frutos secos. Servindo em 190 páginas uma centena de receitas apetitosas e nutricionalmente equilibradas, a dupla responsável pelo blogue A nutricionista cozinheira propõe-se ainda a ensinar a quem quer mudar de hábitos e adotar uma dieta mais saudável tudo o que há a saber sobre este modo de alimentação natural.
E porque uma opção alimentar isenta de produtos de origem animal ainda causa hesitações a alguns paladares mais céticos, a desconstrução de uma série de ideias preconcebidas sobre veganismo e vegetarianismo é outro dos pratos cheios d’ O livro das receitas vegan. Conheça aqui os principais mitos e dúvidas que rodeiam este tipo de alimentação e saboreie as respostas com que este livro nos brinda.
Mitos ou verdades
O vegetariano não tem força e rapidamente fica sem energia
Na raça humana, temos vários atletas de alta competição vegetarianos.
Mito. O melhor exemplo que temos de um vegetariano desde nascença é o gorila. Aparentemente é um animal frágil e sem músculos, não acha? Desde que bem acompanhado, o ser humano vegetariano é tão ou mais forte que um ser humano omnívoro. Na raça humana temos vários atletas de alta competição vegetarianos. Quando decidimos ser vegetarianos não é só́ a nossa alimentação que muda, mas também o nosso estilo de vida e prática de exercício físico. Começamos a ser mais ativos e, acredite, não é por termos menos energia. Eu acordo todos os dias com vontade de sair da cama, quem me conhece pessoalmente sabe que a minha energia e positivismo não terminam, dão para mim e para os outros. Executo os exercícios que me proponho, trabalho várias horas por dia e o meu dia – que tem tantas horas quanto o seu – dá para fazer várias atividades. Claramente um mito.
O vegetariano atinge idades mais avançadas com qualidade de vida
Verdade. Acima de tudo envelhecer, sim, mas com a máxima qualidade de vida. De que vale chegar aos 100 anos acamado? Agora o vegetariano, devido ao facto de o seu estilo de vida ser completamente diferente, mais ativo, com conexões à natureza e a práticas como o yoga, meditação, tai–chi, com a ingestão de alimentos anti-inflamatórios e ricos em nutrientes essenciais, apresenta um menor nível de acidez prolongando assim a sua longevidade. A morte natural verifica-se devido ao nível de acidez no organismo, provocado pelo ritmo mais lento dos mecanismos do corpo, o que é próprio do envelhecimento. Se juntarmos a isto uma alimentação rica em alimentos ácidos e comportamentos de vida acidificantes, a qualidade de vida torna-se questionável. Apesar de a ciência nos conseguir prolongar a vida com medicamentos químicos, a qualidade dessa vida é pouca ou nula, o que num registo vegan não acontece.
Os vegetarianos têm défice de vitamina B12
Mito. Conheço duas pessoas com défice de vitamina B12 e não são vegetarianos estritos, são omnívoros. Tive em consulta uma paciente que veio ao meu encontro porque tinha excesso de vitamina B12, mas a história dela é realmente surpreendente e repete-se com mais pessoas, com este e com outros nutrientes. Desde a infância que haviam detetado a esta paciente um défice de vitamina B12, no entanto, apesar desse défice ela cresceu, desenvolveu-se e gerou uma vida. Desde criança que ingeria carne vermelha, fígado, tomava suplementos de vitamina B12 e a vitamina B12 nunca havia aumentado para valores normais. Agora, com cerca de 40 anos, tem excesso de vitamina B12, e eu questionei o que se tinha passado para de défice passar a excesso, pensei que tinha sido após a gravidez, mas não, foi a partir do momento em que eliminou a carne da sua alimentação e reduziu significativamente a quantidade de outros produtos de origem animal que os valores de vitamina B12 aumentaram. E esta?
O que aconteceu, na minha opinião, deveu-se à inflamação sempre presente a nível intestinal que impedia que determinados nutrientes, incluindo a vitamina B12, fossem absorvidos, mesmo que a paciente ingerisse grandes quantidades de produtos de origem animal, ricos em B12, e ainda tomasse suplementos de B12. A inflamação diminuiu, os nutrientes começaram a ser absorvidos convenientemente e a suplementação que tomava aumentou significativamente os valores. Sugeri que deixasse de tomar suplementos de vitamina B12 e que eliminasse os restantes produtos de origem animal, o que claramente lhe agradou.
Ter esta orientação alimentar é dispendioso
Ficará surpreendido com o quão económica esta alimentação pode ser.
Depende. Quando iniciamos uma dieta com orientação alimentar diferenciada é como se mudássemos de casa e não levássemos a nossa despensa, ou seja, teremos de comprar tudo de novo e a conta da mercearia será́ elevada. Mas depois da primeira compra, e com uma boa gestão, acredite que irá ficar surpreendido com o quão económica esta alimentação pode ser. Agora, se comprar de forma aleatória tal como se vê̂ nos supermercados a pessoa omnívora com uma lista de compras curta, mas um carro cheio de disparates, então sairá́ caro.
Os vegetarianos têm dificuldades de concentração
Mito. Esta é daquelas afirmações que a «formatação» a que estamos sujeitos nos leva a acreditar e que nos leva a incentivar as crianças a consumir produtos de origem animal com receio de não serem bons alunos, mesmo que a criança faça «bola» com o bife que lhe damos ou que sinta dores de barriga quando ingere produtos lácteos. A alimentação de um vegetariano estrito é rica em minerais, vitaminas, ómegas, hidratos de carbono complexos e aminoácidos essenciais. Novamente, não há́ nada em défice se esta alimentação estiver bem programada e, acredite, os vegetarianos que acompanho já́ há́ algum tempo são excelentes alunos sem dificuldade de concentração e com grandes capacidades de memorização.
A magreza é sinal de debilidade física
Desde que a dieta esteja bem programada, a perda de peso e volume será saudável.
Mito. Uma das consequências do inicio de uma alimentação vegan é a perda de peso e de volume significativa e não é porque a pessoa passe fome ou não esteja equilibrada nutricionalmente, mas sim porque o organismo «livra-se» de mucosidades, inflamações e toxinas acumuladas. Além da desintoxicação e equilíbrio que se adquire, mas que a nossa sociedade associa a debilidade física, adquire-se também um aumento significativo de energia e vitalidade que até então não se tinha. Desde que a dieta esteja bem programada, acredite que a perda de peso e volume será́ saudável.
Os vegetarianos só́ comem vegetais
Mito. Os vegetarianos ingerem fruta, vegetais, legumes, leguminosas, frutos secos, sementes, produtos fermentados como iogurtes probióticos, ou seja, ingerem todos os alimentos que um omnívoro ingere exceto os que são de origem animal. Além de que, ao contrário de um omnívoro cuja alimentação é pouco variada, o vegetariano inventa, cria e evolui sempre em busca de uma nova textura e um novo sabor.
A comida vegetariana não tem sabor
Podemos e devemos usar os temperos, variando-os nos pratos vegetarianos.
Mito. Eu costumo perguntar se a pessoa já experimentou comer um bife sem tempero e ao que sabe. Com esta abordagem normalmente qualquer pessoa reflete sobre esta questão. Claro que podemos e devemos usar os temperos, variando-os nos pratos vegetarianos. Hoje coloca paprica, amanhã coloca cominhos, no dia seguinte faz um prato doce, no outro dia faz um prato salgado, depois usa o alho, enfim, as abordagens são imensas, temos é de começar a arriscar e confecionar.
A comida vegetariana não sacia
Mito. Por haver uma grande ingestão de fibra, normalmente os pratos vegetarianos são muito saciantes. Eu penso que isso se deve ao facto de as pessoas se prenderem à ideia de que o vegetariano só́ ingere alface e, é claro, mesmo comendo uma alface inteira a saciedade é pouca.
Perde-se muitas horas na cozinha
Em pouco mais de 1 hora, eu e a Mónica conseguimos fazer mais de 6 pratos.
Mito. Acredite que é claramente um mito ou desculpa para não mudar. Veja pelo meu exemplo, nunca tive prazer em cozinhar, nunca quis aprender, mas porque os alimentos que conhecia como ingredientes de pratos para cozinhar nada me diziam. Hoje nada me dá mais prazer que chegar a casa e cozinhar; além disso, dou workshops e faço showcookings de culinária vegetariana e, em pouco mais de 1 hora, eu e a Mónica conseguimos fazer mais de 6 pratos elaborados. Portanto, desde que bem programado, tudo é rápido, económico e com este livro será́, certamente, saboroso.
Uma grávida vegetariana irá dar à luz um bebé desnutrido
Mito. Tanto pode acontecer a uma grávida vegetariana como a uma grávida omnívora quando esta não ingere os nutrientes essenciais ou tem comportamentos de risco. Mais uma formatação que temos desde novos: que é importante a grávida consumir carne por causa do ferro e produtos lácteos por causa do cálcio. Conheço várias mulheres que sempre ingeriram produtos lácteos durante a gravidez e tiveram graves problemas de dentição pós-maternidade.”