Dora Nunes Gago sempre quis ser professora. Com a leitura e a escrita presentes ao longo da vida, a área que viria a lecionar, literatura, surgiu de forma natural. “A leitura e a escrita sempre foram essenciais na minha vida, tanto como formas de evasão como de interpretação do mundo”, confessa. É doutorada em Línguas e Literaturas Românicas, com especialização em Literaturas Comparadas pela Universidade Nova de Lisboa e atualmente é Professora Associada de Literatura e vice-diretora do Departamento de Português, na Universidade de Macau, onde dá aulas de línguas, cultura ou tradução. Pelo caminho, foi professora do ensino secundário, passou por Montevideu, onde abriu o Leitorado de Português do Instituto Camões na Universidade da República Oriental do Uruguai, fez pós-doutoramento em Estudos Literários na Universidade de Aveiro, foi “pós-doutoranda visitante” na Universidade de Massachusetts, Amherst, desenvolveu vários projetos de investigação e frequentou um curso de verão do Institute for World Literature na Universidade de Harvard.
Apesar da passagem pelo continente americano, Dora Nunes Gago acabou por rumar a Macau. “Conclui o meu doutoramento em 2007, mas não estava a ver grandes hipóteses de crescimento profissional em Portugal. Quando vi o anúncio do concurso internacional para o departamento de Português da Universidade de Macau na internet, decidi concorrer e fui selecionada”, explica. Já tinha visitado Macau em 1991, quando ganhou um concurso de escrita promovido pela Comissão dos Descobrimentos Portugueses, cujo prémio era uma viagem a Macau e Hong Kong. “Essa viagem marcou-me imenso, pois foi a primeira vez em que viajei de avião, além do mais, num voo tão longo. Nessa altura, Macau parecia uma vila portuguesa transplantada para um lugar completamente estranho e rodeada de elementos exóticos, mas fascinantes”, descreve.
Vinte anos depois, ao regressar a Macau para prestar provas para o departamento de Português, confessa ter tido dificuldade em reconhecer a cidade. “Em nada se parecia com a imagem que guardara na memória. Os casinos tinham-se propagado como cogumelos, assim como os arranha-céus, os néons, um mar de gente parecia ter invadido tudo.” De Portugal, além das pessoas, dos amigos e da família, Dora sente saudades do mar, das planícies alentejanas e dos cerros algarvios.
Pedimos-lhe que partilhasse os locais preferidos que qualquer executiva que visite Macau, em trabalho ou em férias, deve conhecer.
O café ou casa de chá?
O CUPPACOFFEE, na Taipa, pelo espaço e ambiente acolhedor e pela localização, para além de uns deliciosos “cinnamon rolls”.
O restaurante para um almoço de trabalho
A escolha é difícil, dependendo também do local onde se está e do tipo de restaurante que se preferir (chinês, português, italiano, japonês). No caso dos restaurantes portugueses, na Taipa, o Adega Velha e o Santos são boas opções. Para quem preferir comida mexicana, recomendo o Tacos. Em Macau, a Mariazinha, perto das icónicas Ruínas de São Paulo, também será uma boa escolha. Em relação aos restaurantes chineses, destaco o North, no Venitian, e o Noodle and Congee, no Grand Lisboa. No caso de se pretender um almoço de trabalho mais tranquilo, fora das zonas mais movimentadas, com uma paisagem muito agradável e também comida de excelente qualidade, recomendo a Pousada de Coloane.
A melhor pastelaria da cidade
Macau é um território cujas fontes de rendimento principais são o jogo e o turismo. Por isso, não encontramos propriamente o conceito de “pastelaria” que temos em Portugal e em muitos países da Europa. Geralmente as que existem encontram-se localizadas nas áreas dos grandes centros comerciais e casinos.
A livraria imperdível
A Livraria Portuguesa, onde se encontram também livros estrangeiros. É uma pequena e, na verdade, a única que existe no território com livros em português e inglês. Nas outras existem apenas livros em chinês e pouca coisa em inglês. Costumo lá ir com alguma regularidade, embora aproveite as idas a Portugal (que ocorrem pelo menos duas vezes por ano) para comprar livros ou encomendo online. Os últimos livros que lá comprei foram Pequenos Delírios Domésticos da Ana Margarida Carvalho, Viagem ao Sonho Americano de Isabel Lucas e Requiem para Irina Ostrakoff de Rodrigo Leal de Carvalho, um autor que viveu durante perto de 30 anos em Macau e cujos romances só podemos encontrar aqui.
Um autor macaense a descobrir
A literatura de Macau em língua portuguesa tem sido construída pelos autores portugueses que residiram, residem ou passaram por Macau. Como escritores macaenses de língua portuguesa temos a Deolinda da Conceição e o Henrique de Senna Fernandes.
A sala de espetáculos obrigatória
O teatro D. Pedro V e o Centro Cultural. Alguns dos espectáculos que mais me marcaram foram o bailado Anna Karenina numa adaptação do coreógrafo russo Boris Eifman, pela Companhia de Ballet Eifman de São Petersburgo; a ópera de Puccini intitulada Turandot e dirigida por Giancarlo del Monaco e, mais recentemente, Gisèle pela Companhia Italiana de Ballet Teatro alla Scala. Imperdíveis também são os concertos da Orquestra Chinesa de Macau, pela delicadeza mágica dos instrumentos tradicionais chineses.
Um museu a não perder
O Museu de Macau, pois permite-nos “viajar” pela História e pela cultura de Macau ao longo do tempo. Deste modo, no primeiro piso ficamos a conhecer as origens e o povoamento de Macau, os contactos comerciais, etc; no segundo piso, encontram-se as artes populares e as tradições, as lendas do território, a Luta de Grilos (com muitos seguidores no passado). Por fim, o último piso é dedicado à actualidade e mostra-nos a evolução do território.
Os monumentos a visitar
O templo de Amá, as casas coloniais da Taipa, as ruínas de São Paulo, a Casa do Mandarim, o Jardim de Camões, o Jardim Lou Lim Ieoc…
Eventos a não perder
O Festival de Artes, entre maio e junho, a Rota das Letras, entre fevereiro e março, o Festival de Música e o Festival da Lusofonia, ambos em outubro.
Uma loja obrigatória pela sua originalidade
Talvez a Dora Tam Design. Nesta loja pertencente a uma premiada designer de Hong Kong podemos encontrar peças muito originais de joalharia, mas também de cerâmica e de outros materiais. Outra loja, que abriu recentemente no largo de São Lázaro, em Macau, é a AlmaViva- Portuguese Heritage, que se salienta pela originalidade e qualidade dos produtos que vende. Nela podemos encontrar, desde pequenas lembranças, peças de artesanato, produtos gourmet (por exemplo, conservas e doces caseiros comercializados por pequenos produtores portugueses), licores, peças em cortiça, chás de vinho do Porto e da Madeira, sabonetes artesanais, etc..
Os beauty spots
Para o cabelo, o Touch Hair Studio, na Taipa. Para as massagens, além dos diversos spas de hotéis, recomendo o Tranquil Spa, também na Taipa. E para manicure (também com serviço de massagens e cabeleireiro) a We Love Wax, na Taipa Velha.
O que mais gosta em Macau?
Da diversidade, do insólito e do bom sistema de transportes públicos.
O que menos gosta?
Da poluição do ar, visual e em certos locais também sonora, devido à quantidade de obras que estão constantemente a decorrer e também do “urbanismo selvagem”, que vai devorando cada vez mais a paisagem.
Qual o segredo mais bem guardado de Macau?
Ainda continua a ser segredo, pois está muito bem guardado.
Que hábito ganhou em Macau que não tinha em Portugal?
O hábito de ir a pé para o local de trabalho, pois em Portugal não era possível.
O que diria a uma portuguesa que foi convidada para trabalhar em Macau?
Que aproveite a oportunidade e, sobretudo, que venha de mente aberta para lidar com os mais variados e inesperados desafios.