Depois de 15 anos a trabalhar na Cosmopolitan, sete dos quais como coordenadora-editorial, a revista foi vendida pelo grupo Impresa e Sofia Reis ficou sem emprego. O marido que sempre trabalhou na área financeira, foi sondado para trocar, profissionalmente, Lisboa por Grand Cayman, nas Ilhas Caimão. Sofia decidiu acompanhá-lo nesta aventura. Agora divide o seu tempo entre Lisboa e Grand Cayman, onde se dedica à fotografia em regime de voluntariado e à pagina no Facebook Good Vibes at Cayman Islands, onde todos os dias coloca um post, o que a leva a calcorrear a ilha de máquina fotográfica a tiracolo. Quem melhor para nos guiar neste paraíso caribenho?!
O que faz profissionalmente? Bem, continuo no desemprego. Como jornalista é extremamente difícil arranjar trabalho na minha área. Existe apenas um jornal diário na ilha, Cayman Compass, que tem a particularidade de ser vendido apenas de segunda a sexta, e um canal de televisão Cayman 27. Se podia apostar noutra área? Podia, mas na verdade é um privilégio dar-me ao luxo de trabalhar pro bono e ter tempo para fazer o que mais gosto. Não vai durar para sempre!
Como ocupa os seus dias? Leio a imprensa internacional e nacional e já li centenas de livros. Recomecei a pintar as minhas telas. Frequentei a UCCI – University College of the Cayman Islands e fiz um ano de Espanhol pois não queria perder os conhecimentos da língua que aprendi em Lisboa onde cheguei a fazer o nível B1 no Instituto Cervantes. Também tive aulas de Mandarim e de Árabe, onde aprendi a falar e a escrever algumas palavras e frases. Gosto de desafios. Para manter as antigas rotinas e deadlines, concebi uma página no Facebook: Good Vibes at Cayman Islands, onde todos os dias coloco um post. Desta forma, continuo a escrever e a tirar fotos, dois dos meus hobbies favoritos. Também faço voluntariado, como fotógrafa, para a Cayman National Cultural Foundation, no evento “Red Sky at Night.”
Onde gosta de passear? Na praia, claro. A água é de um azul turquesa misturada com verde e a temperatura fantástica. Adoro nadar, fazer aulas de hidroginástica e caminhadas ao longo de Seven Mile Beach, fazer snorkeling em Cemetery Beach (chama-se assim porque tem um cemitério com vista para o mar que vai quase até à areia). Escusado será dizer que não perco um único evento, seja para fotografar, seja para participar.
Qual o melhor programa na ilha? Uma ida a Stingray City para acariciar as raias, deixar que nos façam uma massagem nas costas, dar-lhes um beijo que dizem, equivale a sete anos de felicidade e oferecer-lhes comida, sempre fornecida pelas companhias que nos levam até lá (adoram lulas pequeninas). Ir de carro ou barco até Starfish Point, uma praia cheia de estrelas do mar tamanho XXL. Fazer uma viagem de helicóptero para ver a ilha de outra perspetiva. Desfrutar de Camana Bay, “uma pequena cidade construída de raiz”, com lojas, bares, cinemas, espaços verdes e fontes de água onde as crianças adoram brincar. Passear pelo Queen Elizabeth II Botanic Park para observar a flora que existe nas Ilhas Caimão (Grand Cayman, Cayman Brac e Little Cayman) e em outros países. E, claro, ver as iguanas azuis que andam à solta pelo grandioso espaço e são uma espécie protegida que só existe nas Ilhas Caimão.
O restaurante de eleição? O Bistro, comida francesa muito bem confecionada. Ai, os mexilhões! Mas também costumo ir ao Heritage Kitchen, uma casinha de madeira com vista para o mar e mesas no exterior. Ali come-se a melhor garoupa com coco ou ananás e ao domingo as melhores costeletas com um molho que é segredo de família. Aliás, sempre comi bem nas Ilhas Caymão, desde os restaurantes de topo, como o Ritz-Carlton até às barraquinhas à beira mar. Não é por acaso que Grand Cayman está a ser publicitado como um “paraíso gastronómico.” Os brunchs de domingo e as Happy Hours, depois do trabalho, também são um must.
Quais os pratos típicos? Conch (lê-se conk), um búzio gigante que no seu interior tem uma espécie de “perceve” gigante em tons rosados e brancos. É confecionado de várias formas: sopa, fritos, panados, ceviche. Estufado de tartaruga, bolo de mandioca (Cassava Cake) e bolo de rum.
Qual o spot do momento? Whiskey Mist, várias salas diferentes todas ligadas entre si. Um típico pub inglês, um recinto com concertos ao vivo e que também funciona como discoteca e bar, e outro espaço tipicamente americano com televisões gigantes onde se pode assistir aos mais famosos campeonatos de desporto.
A livraria imperdível? Books & Books e The Book Nook.
Um museu a não deixar de visitar? A National Gallery of the Cayman Islands, com uma coleção permanente no segundo andar, ótima para descobrir a arte caribenha. No primeiro andar está sempre uma exposição temporária que nunca me desiludiu. Para quem quer ficar a conhecer a história das Ilhas Caimão, o National Museum.
Alguns eventos a não perder? “Taste of Cayman”, perto de 50 barraquinhas onde cada restaurante mostra o que de melhor tem para oferecer. “Agriculture Show”, onde os produtores locais, artesãos e artistas mostram e vendem os seus produtos e obras de arte. Há também a competição onde os legumes e animais superam os requisitos do júri e já têm as suas medalhas no dia em que inaugura o show. “Red Sky at Night”, arte, comida típica, música, no terreno onde está situado a Cayman Cultural Foundation, com árvores, relva e até um pequeno lago. “Batabano Junior” e “Adult Parade“, um festival que celebra o carnaval caribenho. E o “Pirates Week”. A maioria das pessoas (adultos e crianças vestem-se de pirata), para celebrar todos os eventos que acontecem durante vários dias consecutivos.
Onde faz as suas compras de roupa e sapatos? Em Portugal ou Estados Unidos. 🙂 Aqui tudo é caro e a oferta é reduzida. Embora exista a Carey’s Karma Closet, onde encontramos roupa de marca, como se nunca tivesse sido usada, a preços muito em conta. Na Red Cross e na Human Society também se compram muitas pechinchas: roupa, móveis, livros, brinquedos, acessórios para casa… Há quem vá lá entregar o que já não precisa (ou porque se vai embora da ilha ou porque não usa). Tudo se vende a preços simbólicos para angariar fundos para as suas causas. Já comprei um casaco Ralph Lauren, que nunca deve ter sido usado, por $5CI ($1CI cerca de 0,80€). E claro, o site ecayTrade, onde se vende tudo. E quando digo tudo é mesmo tudo, mesmo aquilo que nunca nos passou pela cabeça.
E as compras diárias? Quartas-feiras, no Farmer’s Market, em Camana Bay. Mercado do Peixe, em George Town. E nos supermercados que aqui abrem às sete da manhã e encerram às onze da noite, sendo que aos domingos estão fechados.
Quais os seu beauty spots? Para manicure, pedicure e massagens, Tips n’ Toes. Para cabelo e maquilhagem, Escala Salon Boutique.
O que comprar como souvenir? Uma jóia, ou peça, feita em caymanite, uma pedra semi-preciosa que só existe nas Ilhas Caimão.
O que mais gosta na cidade? É ali que me encontro com os meus amigos pois muitos deles trabalham em George Town. E dos Happy Hours, nomeadamente se escolhermos um local com vista para o porto e a companhia certa.
O que menos gosta? Ao domingo, a não ser que estejam cruzeiros na cidade, o que é raro, está tudo fechado, exceto os restaurantes. Parece uma cidade fantasma. São poucos os vôos directos de Grand Cayman para outros destinos, o que não me permite viajar com a frequência que desejaria pois tenho sempre de contar com o custo da viagem Grand Cayman/Miami/Grand Cayman. É apenas uma hora de vôo mas, por norma, o bilhete de ida e volta nunca é inferior a USD 300. Para quem vem de uma cidade cosmopolita, neste caso, Lisboa, a oferta cultural não é muita, o que acaba por ser um choque. E as saudades da família e amigos batem forte. Bendito Skype, Facebook e e-mail!
Que hábitos adquiriu aí que não tinha em Portugal? Conduzir à esquerda, conviver com pessoas de outras nacionalidades (existem mais de 100 representadas no país), velejar no barco de amigos, andar sempre vestida de modo casual. Tomar o pequeno-almoço a ver o mar, com a praia quase a entrar pela varanda. Mudar o chip para falar durante um dia português, inglês e espanhol. Ter em casa um kit furacão (por norma com lanterna, rádio a pilhas, fósforos, muita água, líquido para lavar os dentes, velas, um pequeno estojo de primeiros socorros, comida enlatada, uma bolsa à prova de água para guardar documentos importantes como os passaportes, etc). A estação dos furacões decorre de 1 de Junho a 30 de Novembro. Em 2004 o furacão Ivan passou por aqui com ventos de 240km/hora e destruiu praticamente a ilha toda. Ah! E fascinar-me com a “lua em forma de balouço” antes de adormecer.
Qual o segredo mais bem guardado de George Town? La Casa del Habano onde se vende todo o tipo de charutos cubanos, humidores e acessórios para quem gosta de desfrutar de um charuto. É ali que trabalha uma das minhas melhores amigas e o espaço é um autêntico museu. O dono, Valerio Cornale, é um dos maiores colecionadores de antiguidades hechas en Cuba e um expert em charutos reconhecido a nível mundial. Além disso, foi ali que conheci as pessoas mais interessantes da ilha. E posso treinar o meu espanhol e inglês com frequência. Ou simplesmente ler um livro ao balcão enquanto bebo uma “bica.”
O que está a mudar em George Town? A cidade foi durante muito tempo o business center de Grand Cayman. Mas tem-se notado, desde há alguns anos, uma mudança em termos de actividade: mais comercial, direccionada aos turistas dos cruzeiros. O centro financeiro está a afastar-se mais para a zona de Seven Mile Beach, nomeadamente para Camana Bay. Pela primeira vez na História, o Governador, nomeado pela Coroa Britânica, é uma mulher: Helen Kilpatrick.
Como define as mulheres que trabalham em George Town? Pode dizer-se que existem duas gerações. A que começou com limitadas qualificações académicas e foi ganhando experiência e formação ao longo de vários anos. Isto é, cresceram com a(s) empresa(s) onde trabalharam. Estas são também o pilar da família em termos financeiros e, por norma, são mães jovens. A nova geração já frequentou universidades nos Estados Unidos, Canadá ou Europa (nomeadamente em Inglaterra) e regressa à ilha muito bem preparada e com bastantes qualificações.
Qual a mulher que retrata o espírito de George Town? Tal como em qualquer parte do mundo, as profissionais que conseguem singrar nas suas carreiras, estando sempre envolvidas em causas sociais e que conseguem gerir carreira, vida familiar ou social, quer tenham ou não filhos. Alguns exemplos de mulheres que nasceram nas Ilhas Caimão e se tornaram role models a nível profissional:
- Kellie McGee-Sandy, 27 anos, Associate, Pharmaceutical Operations and co-founder of Health Consulting Venture, Healthy futures Ltd.. Recebeu o ano passado o prémio “Young Leadership Award.”
- Brittey Parchman, 26 anos, Scenes of Crime Officer.
- Kaneesa Ebanks, 27 anos, advogada na Maples.
- Marzeta Bodden, 30 anos, empresária. É dona do Cayman Food Tours, mas também faz consultoria de marketing para outros pequenos negócios. Muito envolvida em causas sociais foi no passado presidente do Rotaract Blue Cayman Islands e agora representa a organização no Caribe como District Rotaract. Passa parte do ano a viajar para 14 diferentes países onde a organização está representada.
- Alice Ramos, 27 anos, manager na Silver Thatch Pensions.
O que diria a uma executiva que tenha sido convidada para trabalhar nas Ilhas Caimão, nomeadamente em Grand Cayman, a capital? Dava-lhe os parabéns por eleger um pequeno país, onde é possivel conviver e aprender com profissionais oriundos de todo o mundo e aprender a trabalhar com múltiplos backgrounds. Um lugar onde se trabalha muitas horas, mas há sempre tempo para um Happy Hour com os amigos ou colegas de trabalho. E por vezes até dá para sair do emprego e ir até à praia dar um mergulho. Essencial, sair da ilha com alguma frequência para não ficar em modo island sick, como se diz por aqui.
Alguns exemplos de mulheres que deixaram a sua marca na História do país?
Leila Ross-Shier compôs, em 1930, “o hino” das ilhas Caimão. Sendo que as ilhas são um British Overseas Territory, o hino oficial continua a ser God Save the Queen.
Gladwyn K. “Lassie” Bush. Sem nunca ter lido um livro de arte começou a pintar aos 62 anos. Fazia-o em telas, pintadas a óleo, e também pintou a sua casa, por dentro e por fora (paredes, portas, janelas, incluídas). As suas obras de arte integram coleções particulares no mundo inteiro e também podem ser vistas no American Art Museum, em Baltimore. Em Grand Cayman, a National Cultural Foundation tem um vasto espólio desta artista e organiza tours à sua antiga casa, que faz parte da História da ilha. Mind’s Eye – The Visionary World of Miss Lassie é uma visita guiada a não perder.
Julia Hydes, um ícone musical da ilha que sempre lutou por preservar a cultura das Ilhas Caimão. Faleceu recentemente aos 106 anos. Mais conhecida por Aunt Julia é admirada pelo seu estilo único na percussão, que foi objeto de discussão e análise académica, mais recentemente, através de uma tese da artista e música Natasha Kozaily.
Sybil Ione McLaughlin foi a primeira National Hero a receber o prémio ainda em vida, em 1996 quando se reformou. Entre os seus feitos conta-se a sua nomeação como primeira presidente da Assembleia Legislativa, em 199. Sybil Ione McLaughlin entrou ao serviço do governo em 1945, e foi nomeada secretária da Assembleia Legislativa em 1959 – sendo a primeira mulher a ocupar esse cargo na Commonwealth.
Mary Evelyn Wood (1900-1978), uma pioneira que dedicou a sua vida a trazer a mudança à ilha em benefício do povo. Foi a primeira mulher eleita numa legislatura do Parlamento das Ilhas Caimão e foi também a primeira a servir num júri. Tinha apenas 20 anos, quando abriu uma pequena escola em casa do pai, sendo a única professora. Anos mais tarde, após receber formação como enfermeira, visitava as casas das trabalhadoras grávidas e lactantes, além de pessoas doentes em toda a ilha. O seu serviço mais notável ocorreu durante a epidemia de febre tifóide, no final dos anos 30. Em 1957 dedicou-se aos Direitos das Mulheres e conseguiu que centenas de outras mulheres assinassem a petição pelo sufrágio feminino daquele ano. Depois de o sexo feminino ganhar o direito de voto em 1959, juntou-se ao Partido Nacional Democrático de Ormond Panton como tesoureira e presidente do Comité de Bodden Town. Em 1962, era já representante da Assembleia Legislativa daquele distrito.
Tara Rivers, Minister of Education, Employment and Gender Affairs em funções.