A inovação e o empreendedorismo estiveram em foco na segunda edição do prémio Simões Lopes (uma iniciativa da Ordem dos Economistas, em parceria com o Diário Económico e com a PwC), que distinguiu duas teses de Doutoramento em Economia e Gestão: “Three Essays on Innovation: The Moderating Roles of Reputation for Innovation, CSR Principles and Managerial Perceptions of Environmental Turbulence”, de Cláudia Costa e “Entrepreneurship Dynamics: Entry, Survival and Firm Growth”, de Vera Barros Rocha.
Três faces da inovação
Cláudia Costa, doutorada em gestão e investigadora da Nova School of Business & Economics, elegeu a inovação como tema para a sua tese. Na base da escolha esteve, segundo a própria, “ o gosto pelo dinamismo do marketing, em particular a sua capacidade de lançar novos produtos”. A base da sua investigação é a inovação empresarial, que não é um conceito estanque. Embora o objetivo último da inovação seja, numa perspetiva empresarial, o crescimento e o lucro, as suas consequências são mais vastas. É por este facto que a investigadora optou por abordar “três questões pertinentes na realidade empresarial do século XXI: turbulência dos mercados (no sentido de mudança constante), responsabilidade social e novos modelos de inovação (em particular o novo papel do consumidor no desenvolvimento de novos produtos)”.
O trabalho de Cláudia Costa mostra o poder da inovação para o crescimento empresarial
Em termos gerais, Cláudia Costa mostra que a inovação está ao alcance de todas as empresas, dado que estudou um leque muito alargado de serviços e de produtos, grandes e médias empresas, com maior e menor vertente exportadora. “A questão está na ambição e na compreensão por parte das empresas, e dos gestores, do seu contexto (realidade). Diria que o meu trabalho mostra o poder e flexibilidade da inovação para o crescimento empresarial”, acrescenta.
Ao longo dos cinco anos de investigação, com o nascimento de duas crianças entretanto, Claudia Costa não tem dúvidas de que o maior desafio foi conciliar a maternidade com as exigências profissionais e académicas. Mas o resultado compensou. Para além da “satisfação e motivação para prosseguir”, Cláudia Costa tem já publicação assegurada na revista científica International Business Review e revela ter ainda “um desejo (secreto) de conseguir financiamento para continuar a investigar fenómenos ligados à inovação”.
Aos 41 anos, casada, com 3 filhos, Claudia Costa optou por seguir uma carreira académica, lecionando na Nova Business School e na Catolica Lisbon School of Economics, o que lhe permite prosseguir com a sua investigação. Enquanto estudante, manifestou sempre preferência pelas áreas ligadas ao Marketing/Gestão, “mas também gostava muito da vida boémia de estudantes!”, revela. Teve experiências internacionais, que muito a enriqueceram: “ainda hoje valorizo conhecer outros investigadores e maneiras de olhar a investigação por esse mundo fora”. No seu percurso académico foi encontrando perfis académicos e empresariais, nacionais e estrageiros, que lhe serviram de inspiração. “Apesar de as capacidades analíticas e críticas serem necessárias, o espírito inquiridor, persistente e lutador e a inteligência emocional são requisitos fundamentais a uma bom investigador”, acrescenta. No final da licenciatura, teve uma experiência na indústria que, segundo afirma, foi determinante para uma melhor apreensão da realidade empresarial que agora estuda.
Dinâmica do empreendedorismo
O empreendedorismo está na ordem do dia. Porém, apesar de muito se falar acerca do tema, Vera Rocha, investigadora (pós-doutoramento) na Copenhagen Business School, e doutorada pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto, verificou que havia pouca investigação a nível micro, nomeadamente quem são os empreendedores, o que explica a sua entrada e o seu sucesso, que tipo de empresas criam e que fatores contribuem para a sobrevivência e crescimento das mesmas.
A tese de Vera Rocha revela os fatores de sucesso e insucesso dos empreendedores
Em termos básicos, “a tese consiste no estudo da dinâmica do processo de empreendedorismo (entrada, sobrevivência, crescimento e encerramento da empresa) e dos fatores de sucesso e insucesso dos empreendedores e das start-ups”, explica Vera Rocha. Foram quatro anos de desafios, sobretudo de ordem metodológica, “para tirar o máximo partido dos microdados disponíveis e obter resultados robustos”.
Com 27 anos, Vera Rocha tem tido um percurso académico exemplar. Licenciatura em Economia e mestrado em Economia da Empresa, ambos pela Universidade de Aveiro, doutoramento em Economia na Faculdade de Economia da Universidade do Porto, com bolsa da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, tendo dedicado grande parte da sua investigação às áreas de empreendedorismo. A distinção da sua tese, “teve um valor muito especial, pessoal e profissional. O trabalho desenvolvido tem sido muito bem recebido internacionalmente, em conferências académicas e em revistas. Contudo, é intenção de qualquer investigador em Economia tirar implicações reais do trabalho de investigação e contribuir para melhores políticas. Creio que esta distinção em Portugal poderá contribuir para alertar para a importância das questões relacionadas com o empreendedorismo”, acrescenta.
Atualmente, trabalha como investigadora (pós-doutoramento) na Copenhagen Business School (Department of Innovation and Organizational Economics). Uma experiência internacional que será uma mais-valia para o seu principal projeto futuro, que “inclui a construção de uma carreira de investigação sólida nas áreas das dinâmicas dos empreendedores e das empresas”, revela. Espera, contudo, voltar um dia a Portugal e alimentar estes projetos.