O sedentarismo e as alterações do comportamento alimentar com maior consumo de alimentos demasiado calóricos e pobres em nutrientes, são fatores determinantes no aumento da prevalência da obesidade e maior risco de Diabetes Tipo 2. Na prevenção da doença, educar para assegurar desde cedo hábitos de alimentação equilibrada e saudável, é um importante desafio para os pais/educadores e escolas.
A Diabetes é uma doença crónica de elevada prevalência (em Portugal 13,1% em adultos dos 20 aos 79 anos) caracterizada pelo aumento dos níveis de açúcar (glicose) no sangue, um fenómeno denominado hiperglicemia. A Diabetes Tipo 1 é geralmente diagnosticada em crianças e jovens, e resulta de uma falência total de produção de insulina pelo pâncreas. Por isso, as pessoas com Diabetes Tipo 1 dependem da administração de insulina para sobreviver. Já a Diabetes Tipo 2, mais frequente (90% dos casos) e de etiologia diferente, resulta geralmente de uma resistência do organismo à ação da insulina e é mais comum em pessoas com excesso de peso ou obesidade, principalmente a partir dos 40 anos.
“Existe uma correlação entre a obesidade e o risco de Diabetes Tipo 2. A alteração do padrão alimentar nos últimos anos (alimentação mais calórica, rica em gorduras e açúcares) associado à redução da atividade física diária, têm contribuído para a crescente prevalência do excesso de peso na infância e adolescência, aumentando o risco de estes virem a ser adultos obesos e o risco de diagnóstico de Diabetes Tipo 2. É necessário investir na prevenção”, refere Maria João Afonso, Nutricionista da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP).
A importância da educação alimentar: a família e a escola
“Os bons hábitos alimentares devem ser criados desde cedo”. Maria João Afonso sublinha o papel fundamental da família, sobretudo quando a variedade de alimentos aumenta e a oferta da denominada fast-food é tão vasta, ao que se junta a facilidade na aquisição destes alimentos e a baixo custo. “O consumo de alimentos demasiado calóricos, ricos em gorduras e açúcares, torna-se preocupante quando é excessivo e não apenas ocasional. Apesar de a adolescência ser um período vulnerável, a educação alimentar recebida desde a infância pela família pode funcionar como um fator protetor, facilitando melhores escolhas alimentares e o equilíbrio nutricional. Planear a ementa semanal e preparar as refeições em casa é o ideal. As crianças devem fazer as refeições juntamente com os familiares ou outras crianças, num ambiente calmo e tranquilo, sem TV, computadores ou outros focos de distração. Os jovens portugueses precisam de aumentar o consumo de vegetais. Uma boa estratégia pode ser envolver as crianças e os jovens na elaboração de refeições saudáveis em casa como, por exemplo, sopas e saladas”.
Para a nutricionista da APDP, as escolas também desempenham um papel fundamental na promoção de hábitos de vida saudáveis e na prevenção da obesidade. “Este é um tema que já faz parte do programa escolar e deve continuar a fazer. A escola é o local ideal para a implementação de programas de educação alimentar, onde alunos e professores podem desenvolver projetos e trabalhar este tema de diferentes formas mais ou menos lúdicas, com a participação ativa dos alunos. Se envolver também os encarregados de educação, melhor”. Na opinião de Maria João Afonso, as cantinas escolares, onde diariamente muitas crianças fazem uma ou duas refeições do dia, devem dar continuidade a este trabalho. “A qualidade e a quantidade dos alimentos consumidos nas cantinas e bufetes escolares têm um grande impacto no desenvolvimento e na saúde atual e futura das crianças. Como tal, devem proporcionar a todos os alunos ementas equilibradas, variadas, bem confecionadas e servidas num espaço agradável que ajude a promover ativamente a aquisição de hábitos alimentares saudáveis.”
Saúde vs Sabor?
“A preocupação dos pais/cuidadores em assegurar uma alimentação saudável e equilibrada inicia-se no momento da seleção e aquisição dos produtos alimentares. As embalagens são uma importante fonte de informação sendo indispensável a sua leitura e interpretação”. De acordo com o Regulamento 1169/2011 da União Europeia, passou a ser obrigatório mencionar nos rótulos dos produtos alimentares embalados a declaração nutricional (DN), que deve mencionar o valor energético, a quantidade de lípidos, ácidos gordos saturados, hidratos de carbono, açúcares, proteínas e sal. Estas informações são expressas por 100g ou por 100 ml, podendo adicionalmente ser referidas por porção. “Esta informação é fundamental para as pessoas com Diabetes, mas também para a população em geral, pois permite ao consumidor comparar a composição de diferentes produtos alimentares (por exemplo, comparar teores de açúcares e de sal) e fazer as suas escolhas de forma esclarecida e consciente”, defende a nutricionista.
É possível conciliar o sabor, a criatividade e o equilíbrio nutricional e integrar este conhecimento no dia-a-dia.
Para contribuir para a educação alimentar, beneficiando da colaboração de especialistas na área da gastronomia e da nutrição, a Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal criou os Cursos de Cozinha APDP. “Com esta iniciativa, pretendemos, de uma forma lúdica, sensibilizar e levar as pessoas a praticarem uma alimentação mais saudável. Os cursos estão abertos a pessoas com Diabetes, aos seus familiares, e a pessoas sem Diabetes que procurem informação sobre alimentação equilibrada”, explica Maria João Afonso. “É possível conciliar o sabor, a criatividade e o equilíbrio nutricional e integrar este conhecimento no dia-a-dia, no ambiente familiar ou de convívio”, acrescenta.
O QUE LEVAR NA LANCHEIRA
Os lanches, a meio da manhã e a meio da tarde, são uma forma de complementar o fornecimento de energia e de nutrientes necessários para um crescimento e desenvolvimento saudáveis, mas também de evitar o cansaço, o menor rendimento escolar e a falta de concentração durante os longos intervalos entre as principais refeições. Deixamos algumas ideias:
Lanche 1: Pão de mistura ou de centeio com uma fatia de queijo e alface e 1 porção de fruta
Lanche 2: 1 iogurte, 2 colheres de flocos de aveia e ½ maçã
Lanche 3: 1 iogurte e 3 bolachas Maria
Lanche 4: 1 cenoura e pão de mistura ou de centeio com uma fatia de queijo