Carruagens só para mulheres, sim ou não?

O lançamento de carruagens só para mulheres numa linha ferroviária de Colónia está a ser contestado porque se entende que é um retrocesso na evolução da igualdade e as críticas resultam da decisão tomada por uma operadora ferroviária alemã.

Uma medida que muitos apontam como um regresso ao passado.

“Marcha atrás na igualdade”, “Depois de tanta luta pela igualdade inventam isto” ou “Só falta voltarmos a andar de saia até aos pés”, são alguns comentários de cibernautas a propósito da decisão da empresa ferroviária alemã Mitteldeutsche Regiobahn de lançar carruagens só para mulheres (que podem fazer-se acompanhar por crianças até aos 10 anos). Na base desta decisão estarão os crimes ocorridos na última passagem de ano no centro da cidade alemã de Colónia e a primeira acusação formal, ocorrida recentemente, de um dos agressores. A empresa, porém, não quer relacionar estes factos.

A ideia é que estas carruagens se destinem a mulheres que viajem sozinhas ou com crianças pequenas e assim se sintam mais seguras. Mas é difícil não se pensar na última passagem de ano em Colónia, onde consta que mais de mil homens participaram em crimes de assédio sexual, roubo e violação a mulheres que se encontravam na praça da estação central da cidade a participar nos festejos de Ano Novo. O governo alemão prometeu mão pesada e a contestação foi grande. Agora as redes sociais estão também a reagir à decisão desta empresa de comboios que veem nela um passo atrás na liberdade e na igualdade das mulheres.

Alemanha será o primeiro país europeu a adotar este tipo de medida.

Colónia é a primeira cidade europeia com carruagens reservadas a mulheres. Na Índia, no México, no Brasil e na Indonésia, há comboios com carruagens femininas para prevenir estas agressões. Na Europa esta medida ainda não tinha sido aplicada, apesar de o líder do Partido Trabalhista do Reino Unido, Jeremy Corbyn, já ter sugerido uma semelhante, em 2015, que foi rejeitada por grupos defensores dos direitos das mulheres que consideraram regressivo este projeto.

Há uns anos, noutros países, alguns homens também se manifestaram dizendo que uma medida destas é “discriminatória e não impedia a excessiva lotação das carruagens”. A este propósito, uma das maiores companhias ferroviárias de Tóquio – a Odakyu Electric Railway – esclareceu: “Não há muito que possamos fazer quanto ao facto de as carruagens irem cheias. Este tipo de crime é difícil de impedir, mesmo em cooperação com a polícia, e várias passageiras já tinham pedido carruagens só para mulheres. Essas carruagens são as da frente das composições e tem-se vivido nelas um ambiente mais descontraído e mais colorido”.

Na Alemanha, estes lugares vão situar-se logo a seguir à composição do maquinista e junto do revisor e numa primeira fase eles estão apenas disponíveis no percurso que liga Leipzig a Chemnitz, que tem uma extensão de 90 Km. A localização das carruagens foi escolhida deliberadamente, afirmou o porta-voz da empresa. Resta aguardar pelos primeiros resultados desta medida em Colónia.

Parceiros Premium
Parceiros