Frida Kahlo e Carmen Miranda foram as ‘musas’ que inspiraram o conjunto de trabalhos e o título da nova exposição de Ana Mesquita, ‘Frida Miranda’, que estará patente de 8 de março a 8 de abril no Museu de História Natural, em Lisboa. Dois ícones do século XX e duas personalidades carismáticas que a artista assume como influências marcantes do seu percurso. “Sobretudo a Frida, mas também a Carmen Miranda, foram duas mulheres que se foram cruzando muito ao longo da minha vida pessoal e profissional. Sou formada em Design de Moda e qualquer uma delas foi designer de si própria e criou o seu estilo. Sendo uma mais plástica e outra mais densa e mais dorida, são as ambas muito festivas na sua aparência, muito tropicais”, diz a artista nascida em Moçambique há 50 anos. “Sinto uma grande analogia, até na forma como elas tentaram romper com os cânones ético-morais do seu tempo.”
Uma exposição multimédia em que a grande maioria dos trabalhos será apresentada no seu formato digital original — a ferramenta artística de eleição de Ana — e exibida no ecrã do videohall colocado à entrada do Museu de História Natural, a juntar à projeção de obras em outros ponto do espaço, bem como a oito obras impressas em telas grandes. “É o tamanho que em que podem ser reproduzidos com o rigor necessário, sem perderem as características daquilo que é o trabalho em iPad: o brilho e alguma da profundidade que a luz permite. A grande dificuldade é passar um documento digital à impressão e manter esse punch da luz, essa quase tridimensionalidade. Ao todo, são várias dezenas de trabalhos. Desenhei muito estas duas mulheres ao longo destes últimos três anos. O que vai poder ser visto no ecrã do videohall é um acervo imenso, como se pudesse ver uma exposição num único aparelho.”
As pessoas têm que se habituar a viver com a Arte em casa e não contactar com ela apenas nos centros culturais e galerias.
Ana não está sozinha nesta sua preferência pelas novas tecnologias como ferramenta artísticas. Nomes de vulto da Arte contemporânea, como David Hockney, o pintor britânico de 79 anos, fazem o mesmo. “Ele pintou telas enormes durante anos até começar a perder a perder capacidades motoras. Um dia percebeu que havia aplicações num iPad que lhe permitiam desenhar. Começou a enviar desenhos para os amigos logo de manhã e eles ficaram fascinados. As últimas exposição dele são feitas neste formato. Uma vez um crítico perguntou-lhe num programa de radio se não estaria a tornar a sua arte muito efémera. A resposta foi: ‘mas quer mais efémero do que a dança ou o teatro? E vai ver, não vai? Está a ver a maravilha que é mandar as suas exposições por email para o outro lado do mundo?…’”
Ana Mesquita, que tem um carreira de mais de 20 anos como jornalista de moda e apresentadora, hoje também é formadora de desenho em iPad e acredita numa maior proximidade entre a Arte e o público. “As pessoas têm que se habituar a viver com a Arte em casa e não contactar com ela apenas nos centros culturais e galerias. Acho que as próximas gerações vão ter isso, até porque têm um acesso constante a imagens. O formato digital permite também a democratização da Arte e que o tempo que gastamos para fazer um trabalho nos autorize a vendê-lo por um preço mais baixo do que um quadro que demora 3 meses a fazer.”