Aos 29 anos, Ana Luisa Neves, market manager do Openbank Portugal, banco digital do grupo Santander, em Madrid, acumula já várias experiências internacionais e em diferentes setores de atividade. A sua carreira levou-a a trabalhar na consultoria, em serviços financeiros e em logística, e deu-lhe conhecimentos de mercados de luxo e de grande consumo.
Durante o curso de Gestão na Nova School of Business and Economics (Nova SBE) participou no Programa Erasmus, em Estocolmo, e no Exchange Program CEMS — The Global Alliance in Management Education, em Praga. Estreou-se na banca, aos 18 anos, com um estágio de verão no Banco Santander. Depois de breves experiências de consultoria enquanto estudante, na empresa do designer Nuno Gama e na Unilever, em setembro de 2015 partiu para Londres onde ingressou no Ivar Capital, fundo de investimento especializado no mercado imobiliário. Entre março e outubro de 2015 foi account manager — change management na Portland Resourcing, em Londres. Em janeiro de 2016, transitou para a consultoria numa das maiores firmas, como risk analyst na Deloitte, em Lisboa, com projectos na área da banca em Portugal, no Chipre e em Angola, até que em setembro do ano seguinte se mudou para Madrid, onde até julho de 2019 desempenhou funções de strategic marketing e pricing analyst na FedEx Express.
Desafiada para integrar o projeto Openbank, não hesitou. “Ia permitir-me combinar tudo o que aprendi do mundo financeiro com a componente de marketing e vendas, que representa o desafio de lançar um banco do zero e no meu país. Desde julho de 2019, é responsável pelo mercado português, coordenando as diferentes áreas, nomeadamente Finanças, Wealth, Jurídica, Atendimento ao Cliente, Produto e Marketing online e offline. A gestora falou à Executiva sobre a sua carreira e o negócio bancário.
Há um ano e meio foi escolhida para liderar o lançamento e a implementação do Openbank em Portugal. Quais os objetivos que lhe foram propostos e o que está a fazer para os alcançar?
Ao longo do último ano a minha principal tarefa foi garantir que todos os processos, prazos e plano de execução para o lançamento do Openbank em Portugal fossem desenvolvidos com base no que tínhamos planeado. Tivemos como ponto de partida grande parte de tudo o que o Openbank oferece em Espanha há 25 anos, sendo que adaptámos a nossa oferta comercial ao mercado português. A minha função é coordenar todas essas áreas, planos e ações para que tudo funcione perfeitamente nos tempos estabelecidos.
Neste primeiro ano em particular, o nosso principal objetivo foi identificar o Openbank como um banco de referência em Portugal, bem como atrair clientes. Temos uma oferta diferenciada em serviços como o Robo Advisor, que é uma plataforma de investimento que permite a qualquer pessoa, tendo ou não conhecimento, investir a partir de apenas 500 euros, com o apoio dos melhores profissionais.
Quais os principais desafios que enfrentou?
É sempre um desafio chegar a um novo mercado, com características e identidade próprias. Temos feito um trabalho árduo para adaptar a oferta ao mercado português, percebendo o que os clientes precisam e como o podemos oferecer.
Fazemos uma aprendizagem contínua com o feedback que os clientes nos dão e é muito enriquecedor vermos que tem impacto. A receptividade do mercado tem sido muito positiva e isso só reforça os nossos planos de longo prazo. Portugal é um país importante na nossa estratégia de expansão devido ao seu elevado nível de digitalização, mas também é fundamental para nós como grupo. Estamos muito satisfeitos com a evolução de Portugal, nomeadamente no que diz respeito ao Robo Advisor, visto ser o país onde temos a maior percentagem de clientes neste serviço.
O espírito do Openbank é o de uma fintech, ligada a um setor de tecnologia em constante evolução e sempre com o apoio de um dos principais grupos financeiros como o Santander.
A banca digital tem registado uma evolução positiva com a pandemia acelerou a relação digital com os clientes. Como vê o Openbank no seio do grupo Santander, nomeadamente dos canais digitais do Santander?
Embora seja claro que os efeitos da COVID-19 e do confinamento se fazem sentir na atividade económica de todos os países, nos últimos meses não parámos de crescer, tanto em Portugal como nos restantes países europeus. onde estamos presentes (Alemanha, Holanda e Espanha).
O Openbank é o banco 100% digital do Grupo Santander e é perfeitamente complementado pelo Santander nos diferentes países em que ambos operam. O espírito do Openbank é o de uma fintech, ligada a um setor de tecnologia em constante evolução e sempre com o apoio de um dos principais grupos financeiros como o Santander. Isto torna o Openbank único e uma proposta 100% digital muito interessante para os clientes portugueses.
É inevitável que as agências tenderão a cada vez mais desaparecer, devido ao aumento dos canais de Internet?
No caso do Openbank sempre fomos um banco 100% digital, sem agências. A digitalização é um processo intersetorial que foi acelerado pela pandemia e, como tal, também o setor financeiro não é alheio a isso. Na Openbank estamos preparados para ser uma entidade de referência entre os bancos digitais.
Nos últimos anos, criou-se um ecossistema muito aberto ao mundo digital, razão pela qual a chegada do Openbank a Portugal foi um passo natural na nossa expansão internacional.
Como é a relação dos portugueses com os bancos digitais?
Portugal é um dos mais importantes pólos tecnológicos da Europa, com uma presença muito importante de startups, e isso não é casual ou que aconteça de forma imediata. Nos últimos anos, criou-se um ecossistema muito aberto ao mundo digital, razão pela qual a chegada do Openbank a Portugal foi um passo natural na nossa expansão internacional. Os portugueses receberam-nos de braços abertos, conquistámos a sua confiança e até produtos que a priori podem parecer mais complicados, como o nosso serviço automatizado de investimento Robo Advisor, estão a revelar-se um sucesso.
Neste momento, vive e trabalha em Madrid, mas esta não é a sua primeira experiência internacional. Quais as principais aprendizagens que traz das missões anteriores em Londres e em Madrid?
Ter uma carreira internacional sempre foi um dos meus objetivos, por isso fiz o Master em International Management — CEMS com o qual complementei os estudos na Nova School of Business and Economics (NOVA SBE). Sou fluente em três línguas e falo um pouco de francês, por isso, desde muito jovem, sempre quis sair de Portugal. Morar e trabalhar em Londres, além de me enriquecer profissionalmente, permitiu-me descobrir que… pode demorar um mês para abrir uma conta num banco! É uma experiência da qual me lembro muitas vezes desde que estou no Openbank, um banco que permite abrir uma conta a partir de qualquer lugar e em poucos minutos. Este é um mundo totalmente diferente.
A verdade é que comecei a minha carreira executiva muito cedo e isso permitiu-me trabalhar noutras cidades como Nicósia e Luanda, antes de “aterrar” em Madrid, onde me sinto muito confortável, porque continuo intimamente ligada a Portugal, onde vou com regularidade.
Mais de 54% dos cargos de gestão do Openbank são ocupados por mulheres, algo incomum no mundo bancário. Por exemplo, dos três gestores dos países em que lançámos o banco este ano, Portugal, Holanda e Alemanha, dois são mulheres. A diretora-geral do Openbank, Patricia Benito, é mulher.
O que fazia antes e como surgiu o convite para liderar o banco digital do Santander para o mercado português?
Depois da formação em Portugal, decidi alargar os meus horizontes e complementar os meus estudos em Estocolmo e Praga. Rapidamente surgiu a oportunidade de trabalhar em Londres num fundo de investimento especializado no mercado imobiliário, onde tive o meu primeiro contacto com o mundo financeiro. Daí, passei para outra empresa dedicada à gestão de mudanças organizacionais, onde adquiri competências importantes para resolver e facilitar problemas complexos – uma experiência muito útil para resolver os desafios de lançar um banco digital em plena pandemia da Covid-19. Entretanto, fui contactada por um headhunter para uma posição na área financeira da Deloitte e, embora adore Londres, a oportunidade de continuar a minha carreira numa das big four de Auditoria e Consultoria pesou mais.
As circunstâncias da vida (e do amor) fizeram com que mudasse drasticamente a minha carreira e ingressasse na FedEx em Madrid, onde aprendi a parte mais comercial do negócio, desenvolvendo e coordenando uma força de vendas e pricing totalmente integrada com os sistema da TNT. Foi realmente uma oportunidade única que me permitiu crescer e enfrentar o desafio de integrar dois sistemas diferentes, um projeto em que a divisão espanhola foi pioneira.
Quando fui contactada para fazer parte do projeto Openbank, não hesitei. Ia permitir-me combinar tudo o que aprendi do mundo financeiro com a componente de marketing e vendas, que representa o desafio de lançar um banco do zero e no meu país.
O banco Santander é liderado por Anita Botín que tem feito ouvir a sua voz acerca das virtudes de mais mulheres em posições de chefia e liderança. Qual o retrato que faz em termos de composição de géneros do Openbank?
Mais de 54% dos cargos de gestão do Openbank são ocupados por mulheres, algo incomum no mundo bancário. Por exemplo, dos três gestores dos países em que lançámos o banco este ano, Portugal, Holanda e Alemanha, dois são mulheres. A diretora-geral do Openbank, Patricia Benito, é mulher. Assim como é relevante ter diversidade cultural numa organização, também é importante criar e manter um equilíbrio entre homens e mulheres.
Qual o balanço que faz deste período?
Acredito que a entrada do Openbank em Portugal está a ser um sucesso, apesar do ano complexo que todos vivemos. Estamos a caminho de cumprir os objetivos que nos propusemos. Em todo o caso, esta é uma corrida de longa distância e, como tal, pensamos no longo prazo e que há ainda muito pela frente. Já temos projetos e muitas ideias para 2021.
Este ano, todos nós aprendemos a nos adaptar à pandemia e às suas circunstâncias. Os bancos não são exceção e acredito que este novo ambiente fortalecerá um banco 100% digital como o Openbank.