A missão de Sandra Correia

A CEO da Pelcor foi a única portuguesa selecionada para integrar o restrito grupo de 28 empreendedores do programa A New Beginning. Durante dois anos ajudou a transformar sonhos em projetos viáveis. Em entrevista à Executiva conta o que mais a marcou nesta experiência.

A bem sucedida empresária da Pelcor (que conta com um currículo extenso de peças em pele de cortiça que marcam presença no MoMA de Nova Iorque e conquistaram celebridades como Madonna ou Hillary Clinton), encara o trabalho que desenvolveu nos dois últimos anos no projeto A New Beginning for Portugal (ANBFP) como uma missão. Uma tarefa que entregou recentemente a outros empreendedores que com ela aprenderam a partilhar ideias e conhecimentos e assim mudarem as suas vidas.

No festival A New Beginning Fest 2015, que recentemente organizou, Sandra Correia quis dar a conhecer os sonhos e os objetivos alcançados por várias participantes do New Beginning for Portugal, a versão portuguesa do programa internacional “New Beginning: Entrepreneurship and Business Innovation”, lançado nos EUA em 2010 pelo presidente Barack Obama. Este é um conceito que assenta na existência de uma rede de pessoas onde cada membro, através da sua experiência de vida, dá o seu contributo para ajudar a transformar sonhos em projetos empreendedores viáveis e sustentáveis.

Cada um deu voluntariamente o seu trabalho e esse é o espírito do New Beginning.

O festival quis divulgar o trabalho filantrópico que tem sido desenvolvido pela pequena equipa de Sandra Correia, que trouxe o ANBFP para o nosso país depois de ter estado três semanas nos EUA num encontro onde se promoveu a junção de culturas e a troca de experiências entre 28 empreendedores de todo o mundo. O lema do evento foi “O desafio é mudares a tua vida!” e teve o apoio da embaixada dos EUA.

“Testemunhei casos de mudanças radicais de vida, partilha de experiências na doença, sonhos cumpridos com interajuda e mutualismo. Cada um deu voluntariamente o seu trabalho e esse é o espírito do New Beginning”, explica esta empresária que agora deixou o mentoring do ANBFP para regressar à sua Pelcor.

A realização do festival foi também uma passagem de testemunho. Os seus objetivos foram cumpridos e Sandra vê com satisfação o sucesso de várias empresas criadas ao longo destes dois últimos anos. “Conseguimos mudar a vida de algumas pessoas”, diz. “Hoje são seres humanos muito mais felizes, não têm medo, mudaram radicalmente, e a partir de agora deixo tudo nas suas mãos e nas suas capacidades”.

O festival aconteceu no Mosteiro dos Jerónimos, mesmo em frente à Torre de Belém, em Lisboa, “de onde saiu Portugal para o mundo”. Para reforçar a motivação e a inspiração para o desenvolvimento de um perfil empreendedor e a coragem de mudar o rumo.

Como surgiu esta oportunidade?
Em 2013 fui convidada, por intermédio da embaixada dos EUA em Portugal, para participar numa cimeira repartida por quatro estados americanos onde decorreu o programa New Beginning, promovido pelo presidente Obama. Um programa criado para incrementar a junção de várias culturas (foi lançado em Israel em 2010), a troca de experiências, e até a realização de negócios entre si.

Fui a única portuguesa a estar presente neste programa que reuniu representantes de 28 países.

Fui convidada pelo meu trabalho à frente da Pelcor. Fui a única portuguesa a estar presente neste programa de empreendedores que reuniu representantes de 28 países, um por cada país contemplado. Foi muito interessante estar com pessoas de países como a Grécia, França, Paquistão, India, Bangladesh, Turquia, Indonésia, só para citar alguns. Os 28 apurados foram selecionados de uma lista de 90 países candidatos. O Brasil, o México, a Argentina, a Palestina e o Congo, também estiveram presentes na cimeira.

A visão do presidente Obama era a de promover a junção e o convívio destes representantes, aprender durante algum tempo a cultura americana, e desenvolver depois este trabalho cada um no seu país para potenciar um novo futuro localmente.

Foi o que fez depois?
Sim. Ao fim de três semanas de programa e de um encontro final nas Nações Unidas, onde cada um dos participantes explicou em 96 segundos o que ia desenvolver no seu país, regressámos às origens e cada um começou a mobilizar-se.

Eu consigo concretizar os meus sonhos. Não é sorte, não cai do céu, trabalho muito para o conseguir.

Como desenvolveu essa tarefa aqui?
Nessa altura, em 2013, tínhamos a troika em Portugal. Toda a nossa economia estava desmoralizada e eu, que tenho muitos seguidores que se inspiram no meu trabalho, pedi que partilhassem os sonhos comigo. Foi assim que começou o New Beginning for Portugal, através de um grupo no Facebook onde consegui reunir 400 membros.

Felizmente, eu consigo concretizar os meus sonhos. Não é sorte, não cai do céu, trabalho muito para o conseguir, mas o sonho acaba por se realizar. E foi o que pedi a outras pessoas.

Aderiram bem à sua iniciativa?
Começaram por ficar um pouco atónitos quando lhes pedi que, em 30 segundos, fizessem a sua apresentação. Em Portugal gostamos de falar muito e não estamos habituados ao método americano, que é dizer pouco mas o suficiente. Mas partilharam o seu sonho, contaram quem eram, e criou-se um grande mutualismo que ajudou muito à concretização dos sonhos individuais.

Tem exemplos para contar?
Tenho o exemplo de uma escritora que queria editar um livro mas não tinha contactos e capacidade financeira para chegar às editoras. Ela partilhou no grupo esse sonho e o livro foi lançado um mês depois. Tudo porque havia alguém no grupo que sabia como é que ela o podia fazer com poucos recursos.

No New Beginning não há intervenção financeira, o programa funciona pelo mutualismo.

Outro exemplo, o de uma jovem engenheira civil que tinha o sonho de criar uma marca de ténis com design próprio. E assim foi. Passados alguns meses a White nasceu, a marca lançada pela empreendedora Paula Mourão, e que um ano e meio depois, está a internacionalizar-se.

Cada um dá voluntariamente o seu trabalho e é esse o espírito do New Beginning. Aqui não há intervenção financeira, o programa funciona pelo mutualismo.

Todos os participantes tiveram bons resultados?
Nem todos criaram empresas, não somos todos iguais, cada um tem o seu caminho. O meu projeto e o da Ollie Halimapussadiah tiveram resultados mais visíveis. A Ollie é uma escritora e empreendedora indonésia que escreve sobretudo para mulheres empreendedoras na área tecnológica, as tekgirls, e que percebeu que no seu país não existia uma editora aberta a todas as pessoas, onde fosse possível publicar a custo zero. Criou uma editora online onde todos são bem vindos e podem publicar sem custos (os royalties resultam das vendas). O que é uma ideia fantástica! Este foi o New Beginning para o país dela.

No Brasil, por exemplo, foi criada uma incubadora para os empreendedores poderem ter um lugar físico para receber apoio e conselhos. Cada um criou à sua maneira.

Os meus objetivos ultrapassaram todas as expectativas e há agora uma nova energia e uma nova maneira de estar.

Não houve desistências?
Não. As pessoas continuam lá mas nem todas chegam ao fim do percurso. O New Beginning também serve para abrir portas para outros caminhos. Para cada pessoa o programa tem uma missão. E isso é que é o bonito deste sistema.

Com que estado de espírito terminou o New Beginning Fest 2015?
De missão cumprida, de que tinha valido a pena. Os meus objetivos ultrapassaram todas  as expectativas e há agora uma nova energia e uma nova maneira de estar. E eu estou muito contente com isso. É impressionante ver a forma como estes empreendedores evoluíram, a forma como os seus negócios se desenvolveram, o profissionalismo com que estão a trabalhar. É impressionante ouvir histórias de quem passou por problemas de saúde e conseguiu dar a volta e transformar isso numa partilha com a sociedade. Ainda recentemente foi a apresentação do livro Eu tive o meu cancro e renasci, das empreendedoras Sandra Martins e Fábia Flores que criaram no Algarve a associação Partilha, com o apoio do New Beginning, e montaram um espaço de estética para doentes oncológicos.

Este programa deu outro sentido de vida a muitas pessoas.

Com a sua saída do ANBFP não deixa órfãos estes empreendedores?
Eu não abandonei o projeto mas já não sou eu que faço o mentoring, que defino orientações. Eles já têm experiência e a decisão agora é deles.

Agora vou avançar com a minha Pelcor. E em breve a empresa vai dar um novo passo.

O presidente Obama sabe da sua saída?
Diretamente, não sei. Quem sabe é o Departamento de Estado Americano que me deu a marca New Beginning para a poder desenvolver em Portugal e a levar para onde eu entender. Neste momento a marca é minha.

O que quer continuar  a fazer com a marca?
Ainda não sei. Tenho de descansar primeiro porque estes dois anos foram muito exigentes. Por enquanto não sei qual é o caminho. Talvez a leve para outros países.

O que vai fazer agora?
Vou avançar com a minha Pelcor, que é o caminho que Deus me deu para chegar a outras pessoas. E em breve a empresa vai dar um novo passo, mas ainda é segredo.

 

Sandra Correia foi uma das oradoras da TEDxBelémWomen, promovida em dezembro de 2013 pelas fundadoras do site Executiva.pt. Veja a sua apresentação onde explica como o projeto ANBFP impactou a sua vida:

 

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