Women Empowerment Talk: Trabalhar por uma boa causa

Susana Garrett Pinto, fundadora do TEACH How To Fish, e Filipa Pinto Coelho, presidente da Associação VilacomVida e diretora executiva do Café Joyeux em Portugal, foram as convidadas de mais uma Women Empowerment Talk by Executiva, para conversar sobre as causas em que acreditam e às quais dedicam as suas vidas.

Filipa Pinto Coelho, diretora executiva do Café Joyeux, e Susana Garrett Pinto, fundadora da TEACH How To Fish.

A Executiva e a CUPRA promoveram mais uma Women Empowerment Talk, desta vez sobre “Trabalhar por uma boa causa”. O espaço CUPRA City Garage Lisboa acolheu, mais uma vez, uma plateia interessada e entusiasta para assistir a uma conversa inspiradora entre Susana Garrett Pinto, fundadora do TEACH How To Fish, e Filipa Pinto Coelho, presidente da Associação VilacomVida e diretora executiva do Café Joyeux em Portugal.

Na abertura do evento, Teresa Lameiras, diretora de Comunicação e Marca da SIVA|PHS, deu as boas-vindas a todas as participantes que acorreram a este stand de automóveis, único e tão especial, inaugurado há um ano, no coração de Lisboa. A irreverente e desafiadora marca cor de cobre, nascida em Barcelona, claramente comprometida e apostada em fazer crescer a gama de veículos eletrificados, conquistou o mercado português com vendas que triplicaram num ano, ancoradas na performance eletrizante, design diferenciador e sofisticação.

Nesta conversa, conduzida pela Executiva, ficámos a conhecer melhor estas duas mulheres que dedicam as suas vidas às causas em que acreditam, superando inúmeros desafios para prosseguir as suas missões.

 

Como as suas vidas mudaram para sempre…

Desde pequena que Susana Garrett Pinto se recorda de ajudar os outros e de se preocupar com todos os que foram tocados pela pobreza. “Vivia em Almada e quando vinha a Lisboa trazia um porta-moedas com todas as moedas pequeninas que ia guardando para distribuir na Rua Augusta a todos quantos pediam e que precisavam.” Conta que cresceu com esta sensibilidade de dar de si às pessoas que vivem com dificuldades, e percebeu desde cedo o esforço que os pais, de origens humildes, fizeram para que ela e os dois irmãos pudessem estudar e ter uma vida melhor. O que contribuiu para ser quem é.

Voluntária de coração, aos 27 anos fez a primeira viagem de voluntariado e a sua vida mudou. Começou pela Índia, um país que a fascinou desde sempre. Criou um projeto para desenvolver em Bangalore e apresentou-o à Fundação Oriente, que lhe deu uma bolsa de mil euros: “Despedi-me do hotel onde trabalhava e parti para a Índia. As coisas não correram muito bem, mas repetiria tudo novamente.”

Partilhando a sua experiência, Filipa Pinto Coelho estava longe de imaginar a reviravolta que o seu mundo, profissional e pessoal, iria dar quando estava grávida do seu terceiro filho, Manuel, a quem foi diagnosticado Síndrome de Down na 15.ª semana de gestação. Formada em Comunicação Social pela Universidade Católica e com uma especialização em Gestão de Organizações Sociais, na AESE Business School, Filipa Pinto Coelho, dirigia, em 2016, a sua  empresa de consultoria de marketing no segmento lifestyle, depois de quase duas décadas a trabalhar na comunicação e marketing de várias empresas, tendo sido diretora de marketing num grupo de luxo português, durante quatro anos.

Foi aos 40 anos que Filipa começou uma nova vida. Depois de passar pela angústia e medo de ter um filho com Trissomia 21, rapidamente percebeu que “se era estranho para nós, como não o seria para a maioria das pessoas que estão longe desta realidade?” A vontade de querer fazer algo para mudar esta perceção e desbravar esse mundo, levou-a a integrar um grupo de pais de crianças e jovens com dificuldades cognitivas, incitada por uma amiga. E, no ano em que nasceu o Manuel, 2016, nasceu também a Associação VilacomVida, à qual preside, com a missão de dar autonomia a estas pessoas, através de projetos de empregabilidade, e integrá-las na sociedade.

 

“Não lhes dês o peixe, mas ensina-os a pescar”

A experiência de voluntariado de Susana Garrett Pinto na Índia foi repetida seis anos depois, mas o seu coração prendeu-se no Camboja, para onde partiu em missão, em 2015, e percebeu que a sua vida não seria mais a mesma dali em diante. “Fui por 10 dias como voluntária, mas, na verdade, senti-me frustrada e triste por o meu trabalho não ter tido impacto nem ter mudado a vida de nenhuma criança.”

Inconformada, decidiu que tinha de fazer algo e a resposta, que provocou um “tsunami” na sua vida, veio de um monge budista a quem perguntou como poderia ajudar o seu povo: “não lhes dês o peixe, mas ensina-os a pescar”. Assim nasceu a ideia e o nome do TEACH How to Fish, que teve como inspiração maior uma menina, a So, que a marcou pela sua situação de pobreza extrema. “Quando regressei, criei uma página e grupo no Facebook a que chamei Teach How to Fish, para que todos pudessem partilhar desafios nas suas vidas e contribuir com ideias e soluções dentro do que são as nossas forças e talentos para dar resposta a esses desafios”. No ano seguinte, o projeto arrancou com o acompanhamento de dez famílias numa aldeia no Camboja. Desde essa altura, passou a usar o seu tempo disponível para, ao lado daquelas pessoas, as capacitar e dar autonomia para saírem da pobreza. Licenciada em Publicidade, até há um ano, trabalhava numa fintech, onde tirou um total de 11 licenças sem vencimento para viajar para o Camboja, mas hoje dedica-se a tempo inteiro a esta causa.

 

“O café que trouxe a diferença para o centro das nossas vidas e das nossas comunidades”

Profundamente impressionada com a missão de Susana, que a deixou “arrepiada”, Filipa Pinto Coelho partiu desta premissa para dizer à plateia que para inovar “não é preciso tirar cursos, é só ouvir o coração. Se formos atrás do nosso coração mais vezes, vamos todos conseguir ter muito mais propósito nas nossas vidas, como fez a Susana.”

A experiência como mãe de um menino com Síndrome de Down acabaria por ditar uma transformação na vida de Filipa Pinto Coelho, mas também na sua carreira. Querendo o melhor para a sua família, procurou ajudar muitas outras. Mas queria e precisava de saber muito mais. “Estávamos em 2017, e quis ir conhecer outras realidades europeias para saber como é que noutros países se vivia o problema da exclusão social destas pessoas e fui até Brighton.”

Este foi o momento decisivo, o ponto de viragem para decidir passar à ação e criar o Café com Vida, com uma equipa inclusiva – como todos deveriam ser -, que foi o piloto e preparou caminho para os Café Joyeux  “o primeiro projeto de empreendedorismo que trouxe a diferença para o centro das nossas vidas e das nossas comunidades”, explica Filipa Pinto Coelho, a primeira mulher a internacionalizar esta marca de cafés-restaurantes solidários e inclusivos, criados em França, que empregam jovens adultos com dificuldades cognitivas e de desenvolvimento.

Depois da experiência-piloto com o Café com Vida, em abril de 2021, abria o primeiro Café Joyeux em Lisboa, “por pura coincidência, no mesmo local, onde me reuni com um francês a residir em Lisboa, que acreditou na minha determinação em querer trazer estes cafés para Portugal e levou-me a conhecer Yann Bucaille, em Paris, o empreendedor francês do projeto, que aprovou a primeira internacionalização desta grande missão.” Hoje são já quatro os Café Joyeux portugueses que dão emprego e formação a 29 jovens com deficiência. A próxima internacionalização, revela, já tem destino e data marcadas: Nova Iorque, em janeiro do próximo ano.

 

Empresárias em nome de uma missão

A sustentabilidade do projeto é vital e tem sido uma preocupação. Para manter cada café e abrir novos é necessário o apoio da filantropia social e de empresas socialmente responsáveis. “O modelo tem a componente de investimento social, necessário para pagar a formação, e a componente de negócio, pois tem de gerar receitas capazes de pagar os custos. Não somos uma empresa social, por isso temos de pagar os mesmos impostos, o que é um desafio permanente. No nosso orçamento para 2024, queremos que os cafés consigam pagar 70% dos custos inerentes à operação”, disse Flipa Pinto Coelho.

Também Susana Garrett Pinto conhece bem as dificuldades de quem trabalha no setor social e para dar sustento e suporte financeiro ao TEACH How to Fish,  fundou, em 2020 a by THF, a primeira empresa social em Portugal com o objetivo de promover soluções para transformar a dependência de caridade em autossustento, de quem vive em situação de vulnerabilidade. Para as capacitar, a By THF disponibiliza formação em várias áreas. “Trabalhamos os ingredientes das competências humanas, trabalhamos pessoas, a sua autoconfiança, o seu sentido empreendedor. Os nossos parceiros são empresas privadas, queremos trazê-las para estes desafios sociais, dar-lhes um papel ativo.” E acrescenta: “queremos despertar o sentido de corporação, e de equipa com as pessoas que estão à nossa volta na comunidade. Criámos o modelo in-house training para pessoas que estão em situação de desemprego, garantindo-lhes formações dentro das empresas com o objetivo de criar postos de trabalho.”

O seu desejo maior é conseguir incutir nas pessoas que “cada um de nós tem forças e talentos que precisam, muitas vezes, de uma oportunidade para serem trabalhados.” E sublinha que a pequena caridade, “o donativo só por si é muito pouco, não é sustentável nem duradouro.”

Muito pragmática, Filipa Pinto Coelho acalenta o desejo de ver aprovado o contrato emprego-formação para pessoas em situação de vulnerabilidade, explicando que “ao não sermos empresa social, a legislação que existe, é que se contratarmos uma pessoa com deficiência, perdemos o apoio à formação, o que não faz sentido. Se o projeto-lei avançar, uma empresa poderá contratar alguém vulnerável, e manter o apoio para a formar, pelo menos por dois anos, o que criará mais formas de ajudar a pescar. A lógica que atualmente existe é de assistencialismo, ou seja, não ensina a pescar.”

 

“Faria tudo isto mil vezes e mais”

Apesar de ter deixado para trás uma vida confortável com desafogo financeiro, Filipa Pinto Coelho faria “tudo isto mil vezes e mais”. Foi a trabalhar por uma boa causa que descobriu esta sua veia empreendedora, a que antes chamava de teimosia, afirmando que “o coração ajuda-nos a acelerar este ritmo, a acelerar o impacto e o crescimento.” Confessa que o que a move e à sua equipa é poderem mudar vidas e terem o retorno imediato. “Vemos, por exemplo, o Bruno, que, aos 42 anos, nunca tinha assinado nenhum contrato de trabalho e é hoje a pessoa mais feliz do mundo. Estes jovens são os grandes responsáveis de termos a certeza de que fizemos a escolha certa.”

Também Susana Garrett Pinto não lamenta nem mudaria nada nesta sua escolha de vida. Trocou uma posição sénior numa fintech por aquela que é a sua missão de vida e não se arrepende nem por um segundo: “Não podia desistir das crianças e das famílias e não podia ficar conformada com um salário e não ser feliz.”

 

Veja a fotogaleria aqui e saiba mais sobre as Women Empowerment Talk

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