Licenciada em Gestão de Empresas pelo ISCTE e com uma pós-graduação no IPAM, exerceu sempre funções em grandes multinacionais, mas foi em 2016, inspirada pelo novo papel de mãe, que se iniciou a verdadeira revolução na sua vida. Apaixonou-se pelo método KonMari ao descobrir o primeiro livro em 2017, pouco antes de se mudar para uma casa maior em Sintra e de viver, de forma leve, o seu despedimento. Seguindo a sua intuição, rumou para Londres, em 2019, para fazer a Certificação com Marie Kondo. Criou a Happy Routines e é hoje uma das primeiras consultoras certificadas em Portugal. Divide os seus dias em sessões individuais, workshops e a autoria de artigos e conteúdos sobre o poder da organização. Afirma que “estar ao lado dos seus clientes neste acto de coragem de transformar as suas vidas através das suas casas é a sua maior realização.”
“Entrou nas tendências de bem-estar há muito pouco tempo, mas é uma tarefa que nos acompanha desde o tempo da pré-história. Na verdade, no dia em que Homem guardou o seu primeiro instrumento de caça, surgiu, simultaneamente, a necessidade de o arrumar num sítio seguro e acessível. Há medida que os objectos e as coisas foram ganhando forma e espaço na nossa vida, esta tarefa ganhou complexidade. Todos arrumámos, melhor ou pior, o nosso quarto enquanto crianças e adolescentes, e aprendemos que se trata duma tarefa doméstica como tantas outras que nos tiram tempo para nos dedicarmos ao que mais gostamos.
Esta íntima relação entre o nosso espaço e o nosso interior veio desconstruir tudo isto. Hoje, já não há grandes dúvidas de como somos influenciados pelo ambiente que nos circunda e que, também, é ele próprio um espelho do que se passa dentro de nós.
O mundo divide-se em dois no que toca ao gosto pela organização. Por fazer parte do dia-a-dia de todas as casas, é também um dos temas mais comuns no que toca a diferendos relacionais entre quem partilha o mesmo tecto. A probabilidade de vivermos com alguém que vive e sente a organização duma forma diferente da nossa é, pelo menos, de 50%. Esta elevada hipótese, atribui ao tema uma relevância grande, e é um convite a um autoconhecimento e à partilha de visões, valores e emoções.
Para os mais cépticos, começo por dizer que há mesmo necessidade de criar espaços pessoais dentro de cada casa, em que o responsável é livre de viver, aí, a organização como entender. Por outras palavras, a confiança entre duas pessoas estabelece-se também através da aceitação do outro e da sua forma de cuidar das suas coisas. E este é um tópico importante para as mães de crianças que começam a mostrar a sua forma pessoal de se relacionarem com os seus pertences.
Organização ensina-se, mas não se deve impor, sobretudo aos mais novos. Imagino que possa não ser fácil de entender e concordar à primeira vista, mas dedico as próximas linhas a um exemplo que vos fará perceber esta perspectiva. Sempre que uma criança afirma que não quer vestir determinada peça de roupa, os pais tendem a racionalizar a escolha (porque ainda serve, porque foi cara, porque os avós ofereceram e têm de o ver vestido com ela,…) e obrigam-na a fazê-lo. Vive-se uma situação momentânea de choro e frustração, a que apelidamos, do alto da nossa sapiência adulta, uma birra. O que estamos, na verdade, a transmitir à criança, e assim a ancorar uma crença que a seguirá para a vida adulta, é que a opinião dela não interessa, não conta. E fazemos este tipo de afirmações muitas vezes ao longo dos primeiros 6 anos de vida. E assim, duma forma inconsciente, estamos a ensinar os nossos filhos a não saber escolher o que realmente gostam.
Quando dedicamos uns dias das nossas vidas a escolher o que queremos guardar, começamos uma viagem de confrontação ao nosso passado. Começamos a curar por fora para depois curar por dentro.
Digo-vos que não saber quem somos, o que realmente nos faz vibrar, pessoal e profissionalmente, é o que mais encontro no meu dia a dia profissional enquanto consultora de organização. E é também um dos factores que origina a tão conhecida “crise de meia-idade”, que não é mais do que o gritar “basta” a uma vida preenchida de pilotos automáticos e decisões tomadas sem Intenção. É aqui que a Organização ganha o seu papel determinante no nosso bem-estar.
Quando dedicamos uns dias das nossas vidas a escolher o que queremos guardar, começamos uma viagem de confrontação ao nosso passado. Começamos a curar por fora para depois curar por dentro. Uma organização intencional leva-nos a pegar em cada peça de roupa, livro, documento, objecto, fotografia e a questionar-nos sobre qual o seu papel na nossa vida actual. E, acreditem, que não é fácil fugir às respostas vagas e racionais do “posso vir a precisar” ou do “foi tão caro e nunca usei” como justificações para permanecer com coisas que não nos trazem alegria. Sempre que o fazemos, estamos a deitar fora a oportunidade de deixar entrar energia nova na nossa vida e adensamos o pântano de coisas sem sentido à nossa volta, que nos impedem de avançar, de crescer, de viver.
Através duma pesquisa de imagens, vamos perceber quais são os valores, as pessoas, as cores, os cheiros, as actividades, os gostos que, ao estarem presentes na nossa vida, proporcionaram o ambiente ideal para que, cada um de nós, possa manifestar o que de melhor e mais feliz tem dentro de si para dar ao mundo. E sempre que tivermos dúvidas sobre se determinado objecto deve permanecer na nossa vida actual, olhamos para o painel e sentimos se ele responde a alguma das nossas descobertas.
É exactamente por ser tão difícil conseguir descobrir e sentir a alegria que os objectos nos podem trazer, depois de tantos anos de vida autómata, que a organização intencional nos convida a começar com a criação do nosso Quadro de bordo, um painel de valores. Este exercício tem uma ligação directa ao nosso bem-estar emocional, à nossa saúde mental, porque nos proporciona um mergulho ao fundo de nós. Através duma pesquisa de imagens, vamos perceber quais são os valores, as pessoas, as cores, os cheiros, as actividades, os gostos que, ao estarem presentes na nossa vida, proporcionaram o ambiente ideal para que, cada um de nós, possa manifestar o que de melhor e mais feliz tem dentro de si para dar ao mundo. E sempre que tivermos dúvidas sobre se determinado objecto deve permanecer na nossa vida actual, olhamos para o painel e sentimos se ele responde a alguma das nossas descobertas.
É apenas quando nos começamos a conhecer, verdadeiramente, que conseguimos visualizar a casa, o espaço, a ambiente em que queremos viver no dia-a-dia. E quando o sabemos, podemos partilhar com os nossos, e assim conversar sobre o sonho da organização de cada um, criando sinergias e entendimentos nos espaços que definirem como “espaços comuns” da casa e deixando os espaços individuais às regras que fazem de cada pessoa um ser excepcional a viver pelas suas regras.
Volto ao exemplo da criança que não quer vestir a camisola. Todos nós acedemos a fazer algo que não desejamos ao início quando nos inteiram sobre os motivos de determinado pedido. Vestir a camisola será provavelmente um exercício mais feliz e menos tenso para todos se partilharmos os motivos que nos levam a insistir: “os avós vão ficar muito contentes por te verem com esta prenda” ou “um dia vens comigo à loja escolher uma que gostes, mas agora esta é uma camisola quentinha que temos aqui e está muito frio lá fora”. Vai demorar mais tempo, vai ser mais exigente, mas vai ajudar na construção dum adulto que saberá honrar as suas escolhas, que não terá receio de partilhar as suas emoções e que terá a capacidade de ceder ao outro em entendimento e amor. Este é só um dos papéis transformadores que a organização do nosso espaço (seja casa ou trabalho) tem na nossa vida. Imaginem tudo o que poderá acontecer ao começarem a abrir uma simples gaveta…”