Sidónia Faustino: 119 Wash Stations

Sidónia Faustino fundadora da cadeia de lavandarias self-service Wash Station avançou com o conceito, apesar de "todas as vozes de agoiro em relação o negócio". Hoje a cadeia conta com 119 estabelecimentos.

Sidónia Faustino é fundadora da cadeia de lavandarias self-service Wash Station.

Alguns anos depois de ter transformado um problema de fornecimento de produtos de consumo para a lavandaria da família numa oportunidade de negócio, com a criação da Kitsec, empresa fornecedora deste tipo de produtos e equipamentos para lavandarias e engomadorias em Portugal, Sidónia Faustino lançou, com sucesso, a Wash Station em 2008, numa altura em que a oferta deste tipo de serviços ainda era escassa no país. Hoje a cadeia de lavandarias self-service conta com 119 estabelecimentos e a fundadora é presidente da Associação de Lavandarias Ecológicas Self-Service (Aleco), fundada recentemente com o objetivo de dinamizar, consolidar e promover a rede de lavandarias automáticas em Portugal e no mundo.

Sidónia Faustino nasceu em Leiria. Cresceu na vizinha aldeia de Chãs, onde a sua família desenvolvia um negócio de criação de gado. Talvez por isso tenha optado por tirar o curso de Produção Animal no Instituto Politécnico de Santarém, em vez de Psicologia, a área de que mais gostava. Fê-lo sem percalços, apenas com um momento marcante para a sua vida, no final da primeira de duas etapas que o compõem. Na defesa do trabalho final que fez para a primeira, um dos arguentes comunicou-lhe que não tinha categoria para estar ali, porque falava mal português. “Eu empreguei, na discussão, termos que habitualmente usava na minha aldeia e ele mandou-me para casa ler jornais e revistas”, conta Sidónia Faustino, com alguma amargura. No entanto, acrescenta: “ele tinha razão, mas, nesse dia, fiquei de rastos e a pensar que não conseguia fazer mais nada na vida”. Mas não foi isso que aconteceu.

Concluiu a segunda fase da licenciatura já a trabalhar com o pai. Quando apresentou o trabalho final de curso ao mesmo júri da primeira, alcançou a nota mais elevada desse ano, 18 valores, numa demonstração inequívoca de resiliência. Conta-nos que, nessa altura, já ia 100% preparada, porque tinha aprendido que “saber e perceber tudo relativo a determinada situação é o princípio certo para demonstrar segurança e para as coisas correrem bem.”

Da dificuldade surge um negócio

Continuou a trabalhar com o pai, que decidiu diversificar os seus negócios com a aquisição do traspasse de uma lavandaria de limpeza a seco, devido a uma crise que afetou a suinicultura em Portugal, atividade principal da família nessa época. “A mãe de Vitor Hugo, o meu marido, meu namorado na altura, tinha uma loja similar e, a certa altura, ficámos sem a disponibilidade de produtos de consumo diário, como tira nódoas e detergentes, porque a empresa fornecedora fechou”, conta Sidónia Faustino. Foi, por isso, que ambos decidiram criar uma empresa nessa área e surgiu a Kitsec, há cerca de 18 anos.

É um negócio especializado no fornecimento de produtos e equipamentos específicos para lavandarias e engomadorias, que também presta serviços de formação neste campo. “Somos distribuidores oficiais de várias marcas e, mais recentemente, passámos a produzir e a comercializar uma central de pagamento criada por nós, que coordena todos os equipamentos de lavandarias self-service”, diz Sidónia Faustino. Também foi uma falha de um fornecedor que a levou, em conjunto com o marido, a procurar, com sucesso, uma solução para assegurar a continuidade do projeto. De tal forma que, hoje, para além de equipar a cadeia de lojas Wash Station, o equipamento é exportado para empresas do setor na Bélgica e Itália.

Nos primeiros anos, Sidónia Faustino e o marido desenvolveram o negócio da Kitsec sozinhos, apenas com o apoio de parceiros, até que o crescimento da empresa os obrigou a contratar mais pessoas. Hoje são 11 e o número de clientes em todo o país ascende a cerca de mil, em que se “inclui lares de idosos, Santas Casas da Misericórdia, clubes de futebol, lavandarias particulares, tradicionais, industriais e engomadorias, para além de fornecedores de equipamentos hoteleiros”, como explica Sidónia Faustino.

Oportunidade de negócio

Nas diversas viagens que, entretanto, foram fazendo a feiras da especialidade realizadas em países como a França, a Alemanha e a Itália, Sidónia e Hugo observaram que existia uma oferta crescente de lavandarias self-service, tendência que ainda não chegara em Portugal. “Foi, por isso, que pensámos em oferecer o mesmo tipo de serviço em Portugal”, afirma Sidónia Faustino. A empreendedora conta que, quando começaram, apenas tinha conhecimento de uma loja deste tipo em Leiria e de outra nas Caldas da Rainha, ambas propriedade de ex-emigrantes.

O conceito que criaram, as lojas Wash Station, oferece aos clientes a possibilidade de lavar e secar maiores volumes de roupa em menos tempo que o habitual, com máquinas de lavar e secadores com diversas capacidades. “Em cerca de uma a hora e meia podem tratar da sua roupa, evitando a necessidade de lavar, em casa, durante a noite, para estender de manhã, ficando sujeitos às oscilações do clima”, explica Sidónia, acrescentando que esta opção, “para além da comodidade, otimiza recursos, já que as lavandarias acabam por ser mais sustentáveis por permitirem lavar uma quantidade maior de roupa por ciclo, poupando, também, no consumo de detergentes”.

 

118 lojas em Portugal e uma na Nova Zelândia

Mas, como acontece muitas vezes, nem sempre é fácil de passar do papel à prática. E o negócio começou com uma unidade de um cliente situada nas Caldas da Rainha, já que a da empresa, em Leiria, teve de esperar mais oito meses para abrir, devido a problemas de licenciamento. “Depois de um período de espera, tivemos de desmontar a primeira unidade, no espaço que alugámos inicialmente. Por sorte, abrimos na que fica ao lado da loja de empresa de limpeza a seco que já detínhamos, o que ajudou ao seu arranque, apesar de todas as vozes de agoiro em relação ao sucesso do negócio”, conta Sidónia Faustino. Para além das pessoas que quiseram experimentar e depois voltaram, o papel dos emigrantes da região, que fazem férias em Portugal, foi essencial ao bom começo da primeira loja própria. “São aqueles que utilizam este tipo de serviços lá fora e fazem o mesmo aqui, usando as nossas lojas para a limpeza de almofadas, cobertas e restante roupa das suas casas enquanto estão cá”, diz a gestora.

Apesar de o crescimento inicial do número de unidades ter sido lento, já que, em 2012, quatro anos depois da abertura da primeira loja, havia um total de 14, hoje a rede é composta por um total de 119 lojas, uma da quais situada na Nova Zelândia.

Um salto geográfico tão grande na evolução de uma rede deste tipo é explicado pela vontade de um emigrante português, que veio a Portugal há alguns anos. Utilizou os serviços da Wash Station, gostou e quis montar uma loja da cadeia portuguesa nos antípodas, onde vivia. Todos os equipamentos foram enviados diretamente dos fornecedores para o local, e a equipa da empresa procedeu às obras, montagem e formação de técnicos locais para a manutenção. Os detergentes e outros consumíveis continuam a ir diretamente da fábrica para lá, e todos os problemas que vão surgindo vão sendo solucionados com o apoio dos profissionais da empresa, via digital.

 

Um negócio de freeshising?

Desde o início que os fundadores da cadeia de lavandarias self-service optaram por não criar um modelo de negócio de franchising, porque poderia ser menos atrativo para os seus parceiros, que teriam, dessa forma, de pagar royalties. Segundo Sidónia Faustino, a opção pelo modelo que gosta de apelidar de freeshising tornou o negócio mais simples. Implica, por um lado, a cedência da marca Wash Station e a exclusividade da localização aos seus parceiros. A empresa, por seu turno, faz a decoração do interior das lojas, para garantir que mantêm uma imagem comum padronizada, e a instalação de todos os equipamentos. Estabelece, também, um contrato de fornecimento de todos os consumíveis, para assegurar a qualidade do serviço que todas as lojas prestam aos seus clientes. Com isso garante as mais valias que resultam das obras de instalação e da venda dos equipamentos, mais as do negócio da venda de detergentes aos parceiros. “

A Wash Station está atualmente a estudar a introdução de um aparelho na sua rede de estabelecimentos que permita a poupança entre 30 e 40% no volume de detergente usado em cada lavagem. “Queremos, desde o início, oferecer, aos nossos clientes, serviços de qualidade que possam proporcionar aos seus, com menos custos, tendo sempre em conta a sustentabilidade ambiental do negócio”, explica Sidónia Faustino, dizendo que os detergentes que são fornecidos e usados na cadeia são de origem vegetal e biodegradáveis.

Segundo um estudo de 2018 realizado pela Wash Station, quem procura estes serviços são sobretudo mulheres independentes, que trabalham, com idades entre os 35 e os 42 anos, apesar de haver cada vez mais homens a recorrerem a esta opção. As lojas localizadas nas zonas turísticas atraem mais estrangeiros, sobretudo de países europeus, Estados Unidos e Canadá, aqueles onde há maior oferta de lavandarias self-service. Mas o leque de empresas e pessoas que usam este tipo de serviços é muito alargado.

Sidónia Faustino tem, atualmente nove lojas próprias Wash Station, que visita regularmente para observar o movimento e falar com os clientes. Diz que há, inclusive, gente que vai lavar a roupa e fica à conversa, tal como acontecia noutros tempos na sua aldeia, quando as mulheres lavavam a roupa no tanque comunitário. É com base no movimento das suas lojas, aquelas a que tem acesso direto aos dados, que revela que o impacto da pandemia de Covid-19 causou um decréscimo de 30 a 50% na faturação de cada uma. Trata-se de um valor muito variado, que depende da localização da loja e do número de equipamentos disponível em cada uma. Segundo Sidónia Faustino, a faturação de cada uma pode ir dos 30 aos 70 mil euros, num negócio em que cerca de 90% das despesas são variáveis. “Nas minhas lojas o lucro antes de impostos anda entre 20 e 30%”, diz a empresária.

 

À distância de um clique

Segundo Sidónia Faustino, o futuro do negócio das lavandarias self-service é a disponibilidade. É, por isso, que a sua empresa já criou uma aplicação que permite o pagamento do serviço a partir do telemóvel. Incluirá também a recolha e entrega em casa, para um leque de clientes que privilegia esse tipo de situações e pode pagar isso. Para a empreendedora, há um grande potencial de crescimento deste tipo de negócio em Portugal. “Tem de ser feito de forma sustentada e bem gerida, para que beneficie tanto quem usufrui do serviço, como quem o explora”, defende.

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