Isabel Reis é managing director da Dell Technologies Portugal, desde Fevereiro de 2020, tendo anteriormente ocupado um cargo internacional como managing director enterprise – Spain & Portugal Dell Technologies. Integra a equipa da EMC desde 2000 (adquirida pela Dell em 2016), onde desempenhou várias funções; de 2009-2016 foi country manager da empresa e anteriormente ocupou o cargo de channel & commercial sales manager.
A executiva iniciou a sua carreira profissional na área de marketing como marketing communications specialist na Oracle Portugal, passando posteriormente pela Software AG Portugal. Antes de integrar a equipa da EMC, desempenhou ainda o cargo de Marketing Director da Informix Portugal. Com uma vasta experiência no setor das tecnologias, Isabel Reis possui uma pós-graduação em Marketing, da Universidade Católica Portuguesa.
Toda a sua carreira tem sido feita em empresas de tecnologia. Como entrou nesta área e o que a fez ficar?
Entrei nesta área por acaso. A minha formação académica é de Marketing e respondi a um anúncio para trabalhar na área de Marketing & Comunicação na Oracle, que estava a abrir uma subsidiária em Portugal. Tive de pesquisar muito na altura para saber o que fazia a Oracle. O mundo das TI’s era totalmente novo para mim, mas suficientemente fascinante e intenso para me manter lá, até hoje. A dinâmica e a inovação que caracterizam esta indústria, o estar sempre a aprender coisas novas e a chance de trabalhar com os melhores, foram alguns dos fatores que contribuíram para me manter nesta indústria.
A experiência de trabalhar em Espanha, foi a mais difícil e a mais enriquecedora da minha vida profissional. Não me receberam de braços abertos, porque naturalmente há que lhes ganhar a confiança e o respeito.
A grande mudança na sua carreira acontece quando entra na EMC e deixa de ter funções de marketing. O que a levou a fazer essa transição e como evoluiu a sua carreira a partir daí?
É verdade. Foi todo um novo ciclo que se iniciou com a minha entrada no mundo das vendas. Já tinha 7 anos como diretora de Marketing entre a Software AG e a Informix e comecei a achar que precisava de mudar e de fazer coisas diferentes. Sempre trabalhei muito perto da equipa comercial e tinha também relação direta com muitos clientes e parceiros, por questões de ações de marketing. Não andava no mercado à procura de nada, mas tive um convite da EMC para as funções de BDM (também estavam a abrir a subsidiária em Portugal) e o convite era muito aliciante em vários aspetos, mas principalmente no desafio que representava a função. Foi a minha primeira experiência no mundo das vendas e adaptei-me bem à pressão dos números. Gostei mesmo muito deste novo mundo e nunca mais o deixei. Fazer parte novamente de uma empresa que acabava de abrir o escritório em Portugal, é uma experiência única e inesquecível e extremamente enriquecedora.
Nos últimos anos foi responsável pelos mercados português e espanhol. O que mais a surpreendeu em relação à forma de trabalhar dos espanhóis e o que de mais importante aprendeu com esta experiência?
A experiência de trabalhar em Espanha, foi a mais difícil e a mais enriquecedora da minha vida profissional. Desfiz muitos mitos, (“Ui, vão-te fazer a vida negra, ainda por cima és mulher e portuguesa”) nada disso. O espanhol não têm nada contra os portugueses e muito menos contra as mulheres. Aliás estão bem à frente de nós nas questões da diversidade. Não me receberam de braços abertos, porque naturalmente há que lhes ganhar a confiança e o respeito. Mas depois de conseguirmos passar essa fase, são muito leais e dedicados. Ganhei uma equipa e aprendi imenso. Aprendi que o ‘portinhol’ está muito longe do espanhol ?, aprendi que adoram viver e é difícil acompanhá-los, que adoram Portugal, que têm um mercado imenso e que são muitíssimo mais emocionais que nós, os portugueses. São bastante diretos e afetuosos. Mas também constatei que os portugueses quando querem não ficam em nada atrás dos espanhóis, em garra, em dedicação, em tenacidade e em profissionalismo. Tivéssemos cá nós esse mercado…
Assumiu em fevereiro a direção-geral da empresa em Portugal. Que características considera fundamentais para exercer a função que hoje ocupa?
As mesmas características que fui desenvolvendo nestes últimos 10 anos como diretora-geral da EMC e do Enterprise na Dell. As circunstâncias, o mercado e a equipa são diferentes, por isso a maior característica que temos de ter neste momento, é a capacidade de adaptação. Resiliência para manter o foco e a equipa motivada em tempos tão desafiantes e onde a gestão humana se faz virtualmente, uma forte componente de inteligência emocional e conseguir estar perto dos clientes e parceiros apesar das circunstâncias.
Quais os seus objetivos para a Dell em Portugal?
Garantir que somos considerados no mercado, como o principal parceiro das empresas no caminho para a transformação digital. Ser não só a maior, mas a melhor empresa a nível nacional, no fornecimento de soluções multicloud, infraestrutura de armazenamento e backup, soluções disruptivas para postos de trabalho, desenvolvimento aplicacional e segurança.
Quais os principais desafios que se colocam ao seu setor atualmente?
Conseguir num mundo muito competitivo e em que as circunstâncias e os objetivos mudam constantemente, estar mesmo assim, sempre um passo à frente da nossa concorrência, entender melhor que ninguém as dinâmicas de mercado e ter ao mesmo tempo os melhores serviços e as melhores soluções.
Quando surgem oportunidades de promoção continuamos a ter de, muitas vezes, relembrar às mulheres que não tenham medo de arriscar porque têm os skills e o talento necessário para alcançarem outros voos.
Qual o impacto da Covid-19 na vossa atividade?
O impacto é grande e diferente em cada um dos vários setores de atividade. Há setores de atividade que foram muito impactados pelas consequências de uma paragem forçada e total da economia real como nunca ninguém tinha experienciado até hoje e essas empresas, tiveram que adiar os seus planos de transformação dos seus sistemas de IT, tendo alterado as suas prioridades para situações mais básicas e que se prendem com a sobrevivência do negócio.
Outras empresas aceleraram o processo de transformação dos seus sistemas de informação, para serem o mais competitivas possível num mundo cada vez mais digital e que necessitam de um sistema informático, capaz de gerir com eficácia, os dados que vão recolhendo das várias interações com os seus clientes, transformando esses dados em informação altamente relevante para o negócio. Ao mesmo tempo que se preocupam em sustentar o negócio digital, dotando a empresa de sistemas dinâmicos e capazes de responder rapidamente às solicitações de mercado, ter os mecanismos adequados para proteção das aplicações de ataques cibernautas e disponibilidade de recursos, quase imediata.
As tecnologias são uma área onde há carência de talento e, sobretudo, de talento feminino. Porque não há mais mulheres a interessarem-se por esta área?
No mundo das tecnologias de informação há muito talento. Quanto muito podemos falar de escassez de recursos em determinadas áreas, mas num mundo global, o talento e os recursos não se resumem ao território nacional.
Cada vez há mais mulheres interessadas nesta área e a ingressar em cursos de formação mais técnica e a quererem entrar em empresas do ramo informático. No entanto quando surgem oportunidades de promoção, continuamos a ter que muitas vezes, relembrar às mulheres que não tenham medo de arriscar porque têm os “skills” e o talento necessário para alcançarem outros voos.
O que faz na sua empresa para atrair e reter mais talento feminino?
O Michael Dell tem como objetivo pessoal garantir que em 2030 a força de trabalho da Dell é composta por 50% de mulheres e os cargos de administração são compostos por pelo menos 40% de mulheres. Para garantir que cumprimos esse objetivo, existe uma consciencialização interna da necessidade de termos equipas mais diversificadas e promove-se uma busca ativa de talento feminino, por todos os que tem responsabilidade em contratar e reter talento. No fundo passa por dar oportunidades iguais.
Em Portugal as mulheres na liderança de empresas ainda não atingem os 30% e mulheres à frente de grandes empresas cotadas são apenas duas. Na sua opinião, que medidas se podem tomar no dia-a-dia para acelerar a ascensão de mais mulheres ao topo?
Tem de se continuar a trabalhar na consciencialização de que a diversidade não é uma questão de moda, mas sim uma medida fundamental que contribui para uma gestão mais equilibrada e efetiva e que está provado que aumenta o rendimento das empresas. A diversidade de opinião e de pontos de vista, são fundamentais para conseguir consensos mais efetivos e estratégias mais abrangentes e de sucesso.
Que conselho deixaria a uma jovem que equaciona uma carreira na tecnologia mas receia não ter as mesmas oportunidades que os colegas para progredir e chegar ao topo?
Que acredito que cada vez menos esse é um cenário real e que a competência está acima de qualquer outro fator acessório que não sejam as competências e a experiência. Que deve acreditar em si, em primeiro lugar, e não deixar de lutar pelo que acredita. Que deve ir atrás das oportunidades com as mesmas certezas que os seus colegas homens, sabendo que nunca estará preparada a 100% para assumir de início qualquer que seja o lugar, mas que com o tempo e a formação e, principalmente, muita vontade, vai conseguir. Como qualquer um de nós. Está em nós, principalmente, a capacidade e vontade de arriscar.