A notícia da morte da indústria do calçado português na década de 90 do século passado foi “claramente exagerada”. As exportações aumentaram mais de 50% nos últimos seis anos. Em 2015, o sector exportou 79 milhões de pares de sapatos, que valeram 2 mil milhões de dólares, com um preço médio de 26,08 dólares, só batido pelo calçado italiano (46,21 dólares) e francês (28,65 dólares).
Tal como o calçado, o turismo vive um bom momento. Numa década duplicou a sua importância no PIB, situando-se hoje nos 8,2% da riqueza criada no país. Entre 2010 e 2014, as receitas turísticas internacionais creseram uma média anual de 8,2% em Portugal, mais do que o aumento registado pelo mercado espanhol (4,5%), mediterrânico e europeu (5,4%) e mundial (6,5%).
A crise económica que Portugal atravessou a partir de 2009, e que levou à intervenção da Troika em 2011, teve, entre outras consequências, o aumento das exportações no Produto Interno Bruto português (PIB). Entre 2008 e 2015, o peso das exportações no PIB cresceu 10 pontos percentuais, passando de 31% para 41%. As exportações portuguesas atingiram sempre valores acima da taxa de crescimento das importações mundiais, aumentando a quota de Portugal no comércio mundial da generalidade dos produtos.
“Mas o facto mais relevante desta última década foram as mudanças na estrutura sectorial das exportações portuguesas, que assumiram uma nova configuração depois de 2005”, como escreve o jornalista Filipe S. Fernandes (que é colaborador e blogger (Leitura Diagonal) da Executiva), no novo ensaio da Fundação Francisco Manuel dos Santos, Made in Portugal – Os Exportadores Portugueses. Nas décadas de 60 a 80, os têxteis, vestuário e calçado foram responsáveis por mais de 50% do crescimento das exportações. Nos anos 90, a maior parte das vendas ao exterior eram dos sectores das máquinas e automóvel. Desde 2005, em simultâneo com o renascimento de sectores tradicionais como o vestuário e o calçado, e a manutenção da importância de sectores como o automóvel e máquinas, o bom comportamento das exportações ficou a dever-se a sectores tão diferentes como a agricultura e a indústria alimentar, a pasta e papel, mobiliários, produtos metálicos, plásticos, produtos petrolíferos, indústria química e farmacêutica.
Como refere Filipe S. Fernandes, “estes números só projectam a importância do fenómeno. Na sua sombra estão empresas e empresários de vários sectores e de várias regiões que têm uma história para contar.” Que rostos estão por detrás das empresas que levam a marca Portugal aos cinco continentes? Que produtos são o el dorado da exportação e o que mudou na sua composição?
Nesta obra fica patente como o aumento das exportações registado nos últimos anos e a “subida na cadeia de valor em sectores como o calçado, os têxteis, a agricultura e a agro-indústria, os produtos metálicos, as máquinas, o automóvel e a aeronáutica, o turismo ou transportes, o software e a saúde passaram por iniciativas empresariais inovadoras em que se coordenaram com empresas e associações, centros tecnológicos universidades e instituições públicas”. “A mais-valia da exportação está cada vez menos nas mercadorias que enviam por contentor para um mercado mas mais, por exemplo, na concepção de um produto ou de uma máquina e na distribuição com marca, a que poderíamos chamar ‘internacionalização”, como escreve o autor. Basta passar os olhos pela lista de empresas portuguesas que são líderes no mercado ibérico europeu ou mundial para se perceber a dimensão desta aventura, em que às empresas portuguesas foi exigido “mais a têmpera dos navegadores do tempo das Descobertas do que a astúcia do Oliveira da Figueira do Tintim”.