Se na sua lista de desejos para o novo ano não constou o de acabar com atitudes tóxicas que lhe esvaziam a carteira, é pena. É certo que os maus hábitos de gestão financeira, uma vez instalados, são difíceis de quebrar, porque fazem parte da educação recebida ou de falta de informação financeira. Mas é bom saber-se que pondo fim a certos comportamentos se pode viver de forma mais tranquila.
Já cansados da crise, os portugueses começaram a gastar mais com a saída da troika.
Os portugueses começaram a gastar mais, especialmente nos créditos à habitação e automóvel, refere com alguma preocupação Natália Nunes, coordenadora do Gabinete de Apoio ao Sobreendividado da Deco. “Desde o verão passado, com a saída de troika e com a proximidade de novas eleições, regressou um clima de maior euforia e as pessoas, já cansadas da crise, voltaram a consumir mais”, explica esta responsável.
Os números do Banco de Portugal mostram que “a maior parte do financiamento ao consumo foi para o chamado crédito pessoal – despesas de educação, saúde, eletrodomésticos ou viagens – com 175,962 milhões de euros, mais 14,8% em termos homólogos”. Apesar de este ter vindo a recuperar, o total de empréstimos dos bancos a particulares está ao nível mais baixo desde 2007.
Os gastos emocionais não melhoram a vida e põem o cartão de crédito a negativo e um monte de coisas em casa que não servem para nada.
Este aumento no consumo será um bom sinal mas também pode ser preocupante. Como os tempos não estão para brincadeiras, abaixo segue uma lista de erros mais comuns que nos levam a esbanjar desnecessariamente o dinheiro. Lista que devia ser sempre seguida, mesmo nos períodos de “vacas gordas”.
Usar as compras para se animar
Ir às compras não é a melhor forma de lidar com os altos e baixos da vida, mas é uma terapia frequente entre as mulheres. Porém, os gastos por impulso emocional não corrigem nada na vida e até tendem a piorá-la, pondo o cartão de crédito a negativo ou um monte de coisas em casa que não servem para nada. Algumas dicas para lidar com eles: comprar apenas o que consta de uma lista de desejos elaborada num momento de calma e descontração e não quando está possuída pela ansiedade ou tristeza. Esperar pelo menos 24 horas antes de ceder a uma compra fora da lista. Pagar apenas com dinheiro e não com cartões. Se necessário, arranjar alguém a quem tenha de prestar contas.
Ser viciada em promoções e saldos
Por vezes compra-se só porque está em redução de preço e pensa-se que se está a fazer uma excelente compra porque se está a poupar dinheiro. Mas a verdade é que a maior parte dessas compras por impulso não são de bens necessários, ou não fazem falta naquele momento.
Poucos fazem um orçamento mas ele é o melhor instrumento das famílias para gerir o dinheiro.
Comparar a sua situação financeira com a dos outros
Casas grandes e coisas caras não revelam as posses mas sim a forma como alguém opta por gastar o dinheiro. Convém ter presente que muitas pessoas vivem acima das suas possibilidades, por isso as comparações nem sempre são fiáveis. 37% dos americanos, por exemplo, têm dívidas de cartões de crédito superiores ou iguais às poupanças de emergência, de acordo com um estudo da bankrate.com. Os portugueses também já sentiram na pele o problema do endividamento. Dicas para o evitar: definir o que é importante para si (e só para si). Tomar decisões de gastos com base nisso, em vez de decidir de acordo com uma ideia de sucesso. Estipular metas pessoais para daqui a 5, 10, 20, 50 anos.
Estar sempre pronta para pagar
Para algumas pessoas ser capaz de pagar o jantar ou uma rodada de copos aos amigos é uma forma de se sentirem orgulhosos e bem sucedidos na vida. Mas estar sempre a entrar em despesas vai fazê-la pensar que afinal está a ir longe demais. Não se sinta obrigada a pagar só porque pagou a primeira vez. Até porque assim é difícil perceber se os amigos ou os familiares estão consigo pela sua companhia ou para comer de graça. Dê a vez aos outros, também. Ou divida a conta.
Deixar as contas para o final do mês
Um erro muito frequente é o de não cumprir os compromissos financeiros – contas mensais, IMI, seguros de saúde e de automóvel – e esta é, de resto, uma das grandes razões que leva a muitos pedidos de ajuda na DECO. Mas o adiar pagamentos só agrava a situação financeira. Não pagar a tempo só nos faz sofrer com a acumulação de encargos e de juros.
Não fazer orçamento familiar
A maioria dos portugueses tem uma ideia dos custos mensais mas não sabe exatamente onde gasta o dinheiro, o que pode por em causa a boa gestão doméstica. São poucos os que fazem um orçamento mas ele é o melhor instrumento que as famílias têm para gerir o dinheiro.
Os cartões de crédito tiram-nos a real noção do valor do dinheiro e os problemas podem crescer em bola de neve.
Emprestar dinheiro
Pode parecer uma ideia bonita, admirável mesmo, mas também pode prejudicar uma relação e arruinar as finanças. Com o tempo ficará com menos dinheiro e com a amizade comprometida ou mesmo estragada. Há outras maneiras de ajudar um amigo e preservar o seu relacionamento. Comece por tentar encontrar uma solução para o problema: dê-lhe dicas e exemplos para gerir melhor o dinheiro, ofereça-lhe boleia se ela ou ele tiverem o carro avariado. Se ainda assim lhe quiser dar dinheiro, considere-o um presente. Assim não ficará aborrecido se vir a sua amiga a comprar umas botas novas em vez de lhe pagar o que deve. Se não se pode dar a este luxo, não empreste dinheiro, aconselham alguns especialistas.
Não ter a noção do que gasta
Os cartões de crédito pagam tudo ou quase tudo e esse hábito está enraizado nos consumidores. Por prático que seja, ele também tem consequências negativas: deixa de se ter noção do valor do dinheiro porque ele passou a usar-se de uma forma virtual. E muitos problemas financeiros cresceram em forma de bola de neve. Para quebrar esse ciclo negativo pode ser aconselhável parar imediatamente de o utilizar. Definir um orçamento rigoroso para saldar as divídas e, se for caso disso, pedir ajuda para travar e reverter as dívidas.