Susana Carvalho veio parar à publicidade muito jovem, mas a sua intenção original nem era essa. “Por altura do 12º ano fui para os Estados Unidos fazer o programa APS (American Field Service) e achei que tinha descoberto a vocação: o jornalismo. Publicidade nem pensar, era tabu em minha casa. Os meus pais não me deixavam ver os anúncios na televisão”, contou à Executiva em novembro de 2015. Ao regressar a Portugal, confrontada com o facto de não existir ainda curso de jornalismo, opta por Comunicação Social e Turismo. Entrou depois como trainee na McCann Erickson Portugal, onde chegou a account executive, e já não saiu mais da publicidade, passando também pela Unitros e Park Publicidade, onde foi account supervisor.
Há 27 anos entrou na J. Walter Thompson Portugal, onde fez um percurso singular: primeiro foi diretora de Serviço a Clientes, depois diretora de Marketing e de Recursos Humanos, diretora executiva, diretora geral e, desde 2002, é CEO desta agência.
Em 2009, e depois de um período profissional difícil, voltou à universidade, onde fez um curso pioneiro sobre alterações climáticas e sustentabilidade.
Susana Carvalho foi ainda vice-presidente e presidente da APAP (Associação Portuguesa das Agências de Publicidade) durante 9 anos.
Na 2ª Grande Conferência de Liderança Feminina, é oradora no painel “Lições de Liderança de CEO”, onde irá partilhar a sua experiência e conselhos para uma carreira de sucesso.
Que atitudes proactivas devem ter as mulheres para alavancarem a sua progressão profissional? O que está a falhar neste sentido?
Em primeiro lugar, acredito que é preciso ouvir mais o coração e a razão em conjunto, saber o que se quer efetivamente, o que acreditamos que possa fazer sentido na nossa vida; procurar a interseção entre os estudos, as competências e a vocação, a motivação — todos precisamos de trabalhar, claro está, mas podemos combinar melhor a necessidade com a paixão. Ainda que a descoberta não aconteça logo, não desperdiçar a vida, saber voltar atrás, ao lado, ou mesmo acumular, e recomeçar.
Para o bem e para o mal, o trabalho e o emprego, tal como o vivemos até hoje, está finalmente a desagregar-se, a tomar novas formas. Isto traz verdadeiras oportunidades de equilíbrio pessoal e profissional, pois estamos a começar a escolher o horário que mais nos serve, a poder trabalhar em qualquer lado, sem termos que estar oito horas num escritório e mais duas no trânsito.
Em segundo lugar, penso que o que falta às mulheres é um pouco mais de autoconfiança e de ousadia. Esta prudência e exigência são características muito femininas, que as impedem de progredir mais rapidamente dentro de uma empresa ou de agarrarem uma nova oportunidade de emprego sem pensar muito. Sem querer generalizar, a atitude masculina é regra geral a de aceitar novos desafios muito mais facilmente ou até de se proporem a um cargo ou uma função sem serem convidados, ainda que tenham menos competências que uma colega sua.
Acredito que esta é uma das razões pelas quais se estão a impor quotas nas empresas e instituições. Mas há outras formas possíveis de procurar soluções que não sejam impostas. Penso que quem lidera — das chefias intermédias, aos decisores de topo e empresas de executive search —, deveria estar mais atento e promover formatos de entrevista e de testes muito mais holísticos do que os atuais. Isto devia começar desde o ensino básico até à universidade e mesmo nos cursos profissionais, testando e adaptando os métodos de ensino dos diferentes países à realidade empresarial, com mais sucesso.
Quais as competências para ser um bom líder num mundo em constante mudança?
Acredito que a liderança se aprende e se pratica continuamente. Resiliência e curiosidade são características fundamentais. Um bom líder deve também ser um crente na natureza humana e nas suas possibilidades, deve ser humilde, perceber e completar as suas limitações, ter a coragem de testar novos modelos, combinando equipas experientes e jovens, com uma multiplicidade de vivências e backgrounds pessoais, académicos e profissionais.
É verdade que hoje tudo é mais incerto, mas também por isso, tudo é mais possível. Deve acreditar que pode fazer a diferença, assumindo a responsabilidade última e o compromisso de equilibrar o curto e o longo prazo na sua caminhada – essa é para mim a tarefa mais difícil. É a diferença entre um emprego e uma missão, independentemente da dimensão da empresa, da natureza do negócio ou da geografia.
PROGRAMA
9h00 Receção
9h30 Boas vindas Isabel Canha, diretora da Executiva
9h45 Mesa redonda: Liderança 4.0 – o mindset do novo líder
Reflexão sobre as mudanças tecnológicas e o mundo do trabalho, e os desafios do líder do futuro.
Marta Alarcão Troni, administradora Liberty Seguros, Carla Baltazar, senior manager Accenture, Sara do Ó, CEO Grupo Your, Rui Paiva, CEO WeDo Technologies, Isabel Viegas, docente Católica Lisbon, Teresa Cardoso de Menezes, diretora-geral Informa D&B (moderadora)
10h45 Dueto de líderes
Dois CEO à conversa, sem filtro e sem moderador, sobre liderança feminina.
Isabel Vaz, CEO Luz Saúde, e Filipe de Botton,chairman Logoplaste
11h30 Coffee break
11h50 Mesa redonda: Lições de liderança de CEO
Partilha de experiências, em que se revelam as dificuldades e a forma como foram ultrapassadas, e se transmitem conselhos para construir uma carreira de sucesso.
Carlos Rodrigues, presidente BiG, Susana Carvalho, CEO J. Walter Thompson, Ana Paula Rafael, CEO Dielmar, Soledade Carvalho Duarte, managing partner Invesco Transearch (moderadora)
Garanta o seu lugar na 2.ª Grande Conferência Liderança Feminina, que vai regressar ao Auditório Cardeal de Medeiros, da Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa, no dia 23 de novembro, entre as 9h e as 13h.