“Preciso de uma bebida e de um cabeleireiro” foram as primeiras palavras da aviadora britânica Tracey Curtis-Taylor logo que aterrou na Austrália, no sábado passado, e desceu do cockpit do seu avião vintage, um Boeing Stearmen de 1942 chamado ‘Spirit of Artemis’ (video). Acabara de completar uma viagem de 21 mil quilómetros, de Inglaterra a Sydney, com a estóica missão de emular a aviadora britânica Amy Johnson, que foi a primeira mulher a voar sozinha da Grã-Bretanha à Austrália, em 1930.
Antes de iniciar esta viagem de três meses, em outubro passado, Tracey confessou à Press Association que sempre se sentiu atraída e motivada por ações pioneiras como a de Amy Johnson, e que este voo para a Austrália é a realização de um sonho antigo: “conduzir o meu querido Boeing Stearman à volta do mundo e seguir os seus passos”.
Os mais novos precisam de saber o que os pioneiros passaram para alcançarem os seus recordes.
Aos 53 anos, a piloto aventurou-se numa viagem por 23 países que a obrigaram a 50 paragens de reabastecimento, desde que partiu de Farnborough, em Hampshire, no sul de Inglaterra. As partes mais difíceis da viagem: aguentar o mau tempo e ultrapassar as políticas de navegação necessárias ao arranque e à conclusão da viagem. Mas algumas paisagens compensaram as frustrações: “como olhar para baixo e ver o Uluru”, o colorido rochedo na parte central da Austrália, no Parque Nacional de Uluru-Kata Tjuta, “e sobrevoar o Mar Morto em formação com um F16 israelita. Isso foi incrível!”.
A admiração de Tracey por Amy Johnson é grande, de tal forma que recreou “a essência da era de Johnson”: voar com um cockpit aberto e com os equipamentos básicos da época. “Não se faz isto sem se sentir uma grande empatia e simpatia pelo que ela passou. Tiro-lhe o chapéu por ter chegado aos limites da resistência. A história de Johnson é uma incrível história de sobrevivência. Uma jovem de 26 anos, com pouca experiência de voo, que ficou à beira de um esgotamento quando terminou a viagem. Os mais novos precisam de saber o que os pioneiros passaram para alcançarem os seus recordes”.
O próximo desafio é uma expedição costa a costa pelos Estados Unidos.
Agora, acrescentou Tracey, “quero sentar-me com uma grande bebida, descansar, e refletir sobre tudo isto”. E destacou outros interesses desta emocionante viagem, como voar sobre o deserto da Arábia, sobre as montanhas da Birmânia, e sobre o litoral da Tailândia. “Tive o privilégio de experimentar tudo isto mas não tive ainda tempo para o processar”. Ao The Guardian disse ainda: “Esta experiência pode ser viciante. Por que não continuar? A vida deve ser feita de grandes projetos”. Mas antes disso, assegurou, vai à Nova Zelândia visitar a mãe, que em breve completará 80 anos, e só depois irá para Seattle ao encontro do seu avião ‘Spirit of Artemis’ para iniciar uma expedição de costa a costa pelos Estados Unidos. O nome do avião é uma homenagem ao aviador norte-americano Charles Lindbergh, que ficou famoso por ter atravessado sozinho o oceano Atlântico, no seu ‘Spirit of St Louis’, sem escalas, em 1927.