Entre o ontem, o hoje e o depois de amanhã

Passo muitos dias do mês a viajar, entre reuniões, a resolver aquilo a que eu chamo de “imediato”.

Tenho uma lista de situações, projetos, apresentações para fazer rapidamente, e sinto-me realizada por cortar os assuntos da lista, à medida que os vou tratando.

Quando paro no meu escritório, normalmente, sinto-me cansada. E a preguiça instala-se. Não posso viver sempre em alto nível de energia, tenho de repor a velocidade das semanas e nesses períodos vou mantendo a rotina e a caixa do correio limpa de perguntas por responder. Com essa aparente calma, sinto algum tédio, o que invariavelmente me traz uma enorme frustração e me leva a pensar nos objetivos maiores que tinha e, acredito, assim não chegarei lá.

Falo muito e tenho muitas opiniões. Leio livros da especialidade, artigos técnicos, programas e documentários. Viajo e estou atenta a todas as culturas, absorvendo tudo o que a vida me dá. Sei como se deve reagir a determinadas situações, instruo pessoas quanto a isso, dou-lhes força e genica. Apoio.

Principalmente, se forem temas sobre igualdade de género, progressão na carreira, desenvolvimento de negócios, estimados leitores, conheço a teoria toda, ajudo a pôr em prática no caso específico, se for preciso até organizo currículos, corrijo emails, oriento conversas e negociações. E, depois, apanho-me a cometer exatamente os mesmos erros que tento evitar aos outros.

Para prevenir que isso aconteça, escrevo, escrevo, escrevo. Todos os dias olho para a lista dos afazeres a médio e longo prazo. Se estou a viajar ou assoberbada, sei que não posso pegar neles e tenho boa desculpa. Se aterrei e estou acometida da necessidade física real de viver uns tempos em slow motion, envergonho-me por não lhes tocar ou por adiar para o próximo regresso.

É muito difícil manter uma visão a longo termo, quando o mundo vive no curto prazo. Os clientes querem o hoje, os parceiros querem o ontem, a estratégia quer o amanhã. Eu quero o que vem depois.

Estou a vê-lo, tenho-o escrito, a visualização é quase perfeita, mas não consigo chegar lá. Entre o cansaço do hoje, a viagem de amanhã e as rotinas de sempre, a lista dos meus objetivos maiores vai-se deixando ficar para último plano e, com ela, a energia que me alimenta o presente e o futuro imediato.

Vou ali à lista agora, se me permitem. Vou passar alguns dos itens a planos. Pode ser que acelere o mundo que me rodeia, para vir comigo ali, à frente, um bocadinho.

 

Inês Brandão é fundadora e Global Business Manager da Frenpolymer. Leia mais artigos de Inês Brandão.

Publicado a 27 Junho 2024

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