A medida

E se amanhã de manhã acordassem com uma caixa de madeira à porta de vossa casa onde se lia “dentro desta caixa está o tamanho da tua vida”, abriam ou não abriam?

Esta é a história do livro “A medida”, da Nikki Erlick, que nos envolve na pergunta “preferíamos ou não, saber quantos anos vamos viver?”.

Eu ainda não acabei o livro, mas confesso que o enredo me deixa pensativa — às vezes, até demais. Se eu soubesse que tinha só mais 10 anos de vida, será que mudava completamente a minha maneira de viver? E as decisões que tomo, será que as mudava? Viveria com maior intensidade, ou sempre presa a um futuro certo? Estas são só algumas das perguntas que não me saem da cabeça e para as quais não tenho resposta: acho que a ideia de morrer é tão vaga e irrealista, que não me permite sequer pensar no “plano B” da minha vida. Por isso, eu não abria a caixa. Prefiro viver na incerteza, mas com esperança de uma longa vida, do que com uma certeza com a qual não sei se saberia lidar.

No fundo, a vida não se mede só pelos anos que vivemos, mas como os vivemos, pelas pessoas com as quais a partilhamos e pela intensidade com que aproveitamos os dias. A felicidade não é necessariamente proporcional ao comprimento, e é isto que me assusta: pensar que podia estar a viver de outra maneira.

E vocês, abriam ou não abriam a caixa?

 

Ana Cadete @ncscientist é cientista em Boston. Doutorada em Nanomedicina e Inovação Farmacêutica, foi viver para os EUA em 2016 para fazer o seu postdoc no MIT. É atualmente Project Leader na área de produção de vacinas de RNA mensageiro no mRNA Center of Excellence da Sanofi e a fundadora da The Non-Conformist Scientist (NCS), uma associação sem fins lucrativos que tem como objetivos partilhar conhecimento científico a nível global, impulsionar a carreira dos cientistas e motivar mais mulheres na ciência a serem líderes. 

Leia mais artigos de Ana Cadete.

Publicado a 17 Janeiro 2025

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