Tail event

Houve momentos da minha vida em que a estatística me salvou de enlouquecer. Um deles foi quando comecei o meu negócio e estava a desbravar mercado. Das 100 chamadas e contactos que fazia, apenas 10 encontravam uma resposta, e destas talvez apenas 2 se concretizassem em vendas. Ter estes números na cabeça ajudou-me a não desesperar e a continuar o caminho. Hoje, olho para trás e percebo que o que mantém a empresa a funcionar foram negócios que se concretizaram e que se mantêm todos estes anos, mas também acasos proveitosos que deram a força necessário para continuar a investir e a desenvolver mercado.

Histórias como a Disney, que até ao sucesso da Branca de Neve e dos Sete Anões realizou 400 desenhos animados que não pagavam as despesas, ou da Amazon, cujo crescimento advém da Prime ou das vendas online depois de tentativas em dezenas de outros produtos que não resultaram (como o Fire Phone ou as agências de viagens), são exemplos do que se chama de tail events.

Tail events nos negócios são eventos com uma probabilidade muito pequena de ocorrência, mas ao mesmo tempo com um enorme impacto caso ocorram. Ou seja, representam um grande risco, mas se correrem bem, terão um enorme retorno.

Esta definição é usada correntemente pelas capitais de risco e no modo como gerem os seus investimentos. A maioria destas organizações sabe que 50% deles vai falhar, 10% talvez se safem e, otimistamente, 1% pode ter um sucesso tal que garantam a vida de todos por mais tempo.

Acredito que o sucesso de muitas empresas está na capacidade de gerir um portfolio de ideias e investimentos muito distintos: uns, que pagam as contas, mantêm a posição de mercado, aguentam crises e momentos de stress, paralelamente com outros onde se vai aplicando um esforço relativo, com um risco de insucesso grande. Gerir essa expectativa, de que pode, ou vai mesmo, correr mal, é o segredo de não perder muito tempo com a perda e passar ao projeto seguinte. Porque, eventualmente, talvez um corra bem e faça a diferença necessária para, por exemplo, investir no negócio corrente e fazê-lo crescer.

Tail events depreendem que, de repente, se realize um enorme retorno. São por isso extremamente raros e podem nunca acontecer. Muitas vezes, senão quase sempre, são momentos de sorte.

Mas, muitas empresas podem enumerar um ou outro “mini tail event” que lhes mudou o paradigma, ajudou a sair de um momento de aperto, ou foi o empurrão necessário para um salto no crescimento.

Talvez possamos dizer que as empresas que se aguentam ao longo de décadas sejam aquelas que tiveram um tail event memorável ou alguns mini que aproveitaram vigorosamente.

Lembram-se de mais alguns conhecidos? Se procurarem, acreditem que o sucesso de muitas das maiores empresas mundiais dependem de algum!

 

Inês Brandão é fundadora e Global Business Manager da Frenpolymer. Leia mais artigos de Inês Brandão.

Publicado a 30 Janeiro 2025

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