Paula Franco: “O papel do contabilista é crucial para o futuro do país e da economia”

Ligada à Ordem dos Contabilistas Certificados há mais de 25 anos, Paula Franco é Bastonária desde março de 2018. Ao longo de um caminho com múltiplos desafios, orgulha-se do que conseguiu alcançar à frente da instituição, para elevar e dignificar a profissão de contabilista, que considera crucial para o futuro do país e da economia. A paixão pelo que faz, aliada ao seu sentido de missão, tem marcado a diferença e o sucesso da sua liderança.

Paula Franco é bastonária da Ordem dos Contabilistas Certificados.

A agenda de Paula Franco é hiper-exigente, mas a bastonária da Ordem dos Contabilistas Certificados (OCC) aproveita qualquer tempo morto para responder às dúvidas que qualquer contabilista certificado coloque nos fóruns da OCC, quer esteja no intervalo de uma reunião, em viagem ou mesmo à uma da manhã, em casa. A paixão pelo que faz e o facto de se atualizar diariamente, facilitam a tarefa, mas também o sentido de missão que lhe foi incutido no colégio de jesuítas onde estudou, que a leva a dedicar-se de corpo e alma à função que ocupa, sem, no entanto, descurar a família e os amigos.

Paula Franco, bastonária da Ordem dos Contabilistas Certificados, é uma acérrima defensora da profissão de contabilista, que garante ser a mais importante na área das Ciências Económicas, à qual tem dedicado toda a sua carreira, ao longo de mais de duas décadas. Formada em Gestão de Empresas, com especialização em Fiscalidade, contabilista certificada e consultora fiscal, lidera há seis anos a instituição, depois de ter sido assessora dos dois bastonários anteriores. No novo mandato, que iniciou em julho deste ano, garante que quer continuar a cumprir o objetivo de elevar a profissão a outro patamar e garantir o reconhecimento da classe. Defende que é preciso mudar o paradigma, destacando que “enquanto os contabilistas forem vistos como profissionais com avenças baixíssimas, o tecido empresarial, a economia e consequentemente o nosso país vão continuar a ter dificuldades em crescer.” Fala com orgulho do que conseguiu alcançar, assumindo ser o seu sentido de serviço e de missão aos outros que a distingue. Apaixonada pelo que faz, reconhece que o sucesso da sua liderança, assenta em pilares que considera essenciais: estar focada naquilo que quer, ser-se altruísta, desinteressado e ter valores éticos pessoais e profissionais muito fortes. Atreve-se, por isso, a dizer que o contabilista certificado tem um grande poder na mão: “é a única profissão que escreve todos os dias a história das empresas; podemos ajudar as empresas a sobreviver e a ir para outro patamar”

Reconhecida como uma mulher corajosa, com altos padrões de exigência, que impõe para si própria e para os outros, assume que não é fácil trabalhar ao seu lado, “tenho 150 trabalhadores com quem lidar, 120 órgãos e 68 mil membros, tudo tem de estar organizado e a funcionar na perfeição pois só assim conseguimos manter um serviço de excelência aos membros e à sociedade civil.”.

Garante que a instituição que dirige, leva muito a sério a sua função de interesse público, e os números impressionam. Todos os anos ultrapassam o milhão de formandos e as visualizações dos conteúdos online ultrapassam esses números. Sem falsas modéstias diz que “há poucas profissões que tenham tanta responsabilidade como a dos contabilistas, quando erramos, a responsabilidade que recaí sobre nós é grande e o interesse público da profissão obriga-nos a constantemente prestarmos o maior valor aos nossos clientes, sem contabilistas e sem a contabilidade, o Estado social e a economia como a conhecemos deixa de existir”.

Admite que a marca que gostaria que ficasse dos seus mandatos é ter conseguido o reconhecimento da classe e a união dos profissionais. Acredita que o facto de ser uma mulher bastonária ajudou-a a conseguir essa coesão, talvez pelo seu lado mais maternal, muitos consideram-na a “mãe dos contabilistas.”

 

 

Foi assessora dos dois bastonários anteriores e bastonária nos últimos seis anos. O que é que a levou a candidatar-se a bastonária? Que objetivos tinha em mente, que sonhos é que tinha para realizar, para esta profissão?

Já estou há muito tempo ligada à Ordem. A morte do bastonário que esteve no cargo 20 anos, mudou completamente o percurso da instituição. Havia realmente uma grande preocupação em manter o que de bom foi feito e, de continuar a fazer mais e melhor. Esse foi um dos primeiros pontos que me levou a candidatar. Conhecer a instituição, os objetivos, o caminho que a profissão tinha de levar.

Para além de manter o que de bom foi feito, que é fundamental, herdei, há seis anos, uma instituição segura, com muitos serviços aos membros, que queria melhorar e aumentar, para os servir cada vez mais e, enquanto regulador da profissão, servir também a economia e a nossa sociedade civil.

O meu sonho quando me candidatei, e que agora renovo neste novo mandato, que iniciei a 2 de julho, é elevar a profissão do contabilista certificado. No meu ponto de vista a profissão já é a mais importante das Ciências Económicas, no entanto, quero que toda a sociedade se aperceba disso mesmo. A nossa profissão é a base de tudo e ainda assim foi muito desvalorizada ao longo dos anos. Precisamos de mudar este pensamento na sociedade e até nos próprios contabilistas certificados. O meu sonho é mostrar inegavelmente o quão são importantes, porque o são, e com esse reconhecimento levar a que a sociedade civil também os olhe de outra forma. Só assim, teremos um tecido empresarial, economia e sociedade civil mais robusta e desenvolvida.

Nestes seis anos houve mudanças consideráveis. A opinião atual da sociedade civil sobre o contabilista certificado é completamente diferente, mas ainda temos um caminho a fazer. Todas as áreas das Ciências Económicas ‘bebem’ na informação dos contabilistas, a contabilidade é a base de todos os negócios e modelos económicos.

Precisamos de ter o contabilista certificado como um profissional bem remunerado, e este é, sem dúvida, um dos principais pontos negativos da profissão. Como as remunerações praticadas ainda não estão ao nível das profissões mais bem pagas, o problema da atração e retenção de talento jovem também afeta a nossa profissão o que, paralelamente ao problema da demografia e envelhecimento da classe, nos conduz ao real problema de existirem poucos contabilistas certificados a curto/médio prazo.

 

Nos últimos anos deixou de se falar em técnicos de contas para se falar em contabilistas certificados. Qual é a diferença?

A profissão é exatamente a mesma, só mudou de nome. Antigamente, era técnico oficial de contas e decidiu-se mudar estatutariamente para contabilista certificado, também porque, em termos mundiais, não se usa a terminologia técnico oficial de contas. Conseguimos assim, uma harmonização quase plena a nível mundial. Os técnicos de contabilidade são também profissionais com imenso valor e que muitas vezes trabalham lado a lado com os contabilistas certificados, no entanto, não estando inscritos na Ordem, não estão sujeitos aos deveres éticos e deontológicos como, por exemplo, o dever de formação, lealdade e sigilo profissional.

 

“O contabilista certificado é dos profissionais mais completos em termos de conhecimento e informação. E isto diferencia-o dos outros. É uma profissão de interesse público, que acrescenta valor a toda a sociedade civil.”

 

Além do desafio da Ordem e também dos próprios profissionais, que é a dignificação da profissão, que outros desafios enfrentam hoje os contabilistas certificados?

A  par dos problemas já referidos, como abordei anteriormente, um outro desafio que enfrenta a profissão é a atração de jovens e a retenção de talento. Este é um problema transversal às profissões no mundo ocidental e as áreas que têm mais responsabilidade e que não são tão bem pagas, são mais atingidas. É preciso que os contabilistas percebam que a responsabilidade nunca deixará de existir, e sobretudo que os jovens percebam o equilíbrio nesta responsabilidade. Só existe responsabilidade em profissões muito exigentes e essa exigência deve ser sempre encarada com orgulho e como uma oportunidade para se alcançar uma carreira profissional e uma vida pessoal de sucesso. A contabilidade é uma profissão na qual podemos, com trabalho, estudo e dedicação, diferenciarmo-nos e isso é uma  oportunidade ímpar para vivermos uma vida plena.

 

O mundo empresarial sofisticou-se, complexificou-se. Há instrumentos e operações muito diferentes.

Atualmente tudo o que se relaciona com as empresas e com as necessidades das empresas é complexo, altamente especializado e necessita de profissionais qualificados e em permanente atualização técnica. Áreas específicas que são da competência do contabilista certificado, como a informação financeira e fiscal, são grandes desafios, quer para os empresários, quer para os próprios contabilistas que acompanham as empresas. Como a economia está sempre a mudar, as operações alteram-se, surgem novos negócios, novas operações e consequentemente temos de estar sempre atualizados.

Sem dúvida, que neste âmbito, o grande desafio para o contabilista certificado é a legislação fiscal, mais do que a legislação contabilística. As operações podem mudar, ser complexas, mas há sempre uma forma mais objetiva de as encarar, de ter e tomar decisões sobre a forma do seu registo. Por outro lado, a fiscalidade além de complexa, sofre constante alterações legislativas o que cria grande instabilidade, insegurança e a obrigação de um permanente estudo.

Em simultâneo, as exigências burocráticas para as empresas são cada vez maiores, recaindo a obrigação do seu cumprimento para o contabilista certificado que se vê assim, não raras vezes, fora do âmbito contabilístico e fiscal o que lhe impossibilita ou dificulta a realização do seu trabalho que mais valor acrescenta às empresas.

Este equilíbrio na vida profissional do contabilista certificado é um dos grandes desafios que temos para o futuro, por isso, é importante começar por informar o empresário de quais são as verdadeiras tarefas do contabilista certificado, onde é que ele se deve realmente focar.

 

Nesse esforço de dignificar a profissão, de formar os empresários sobre quais as verdadeiras funções e atribuições de um contabilista certificado, como é que a Ordem materializa isto, que ações desenvolve para ajudar a mudar a perceção sobre a profissão?

Comecemos pela parte legal e sobre quais são as competências do contabilista certificado, ou seja, aquilo que assume e é da sua responsabilidade e que só ele pode exercer. Essas são as denominadas competências exclusivas, que estão no nosso estatuto, no artigo 10.º. Neste âmbito, encontramos a responsabilidade pela elaboração e assinatura das demonstrações financeiras, assim como o cumprimento das obrigações fiscais, relacionadas com a empresa e com as obrigações anuais que existem.

Na Ordem, fazemos muitas sessões de esclarecimento, conferências e eventos que promovam a informação e conscientização dos empresários e da sociedade civil sobre o trabalho e valor dos contabilistas certificados. Desta forma, o empresário e a sociedade civil tem conhecimento daquilo que não é da competência do contabilista certificado.

 

O que mudou com os as novas regras dos estatutos?

Existiram bastantes alterações mas permita-me salientar a referente aos novos modelos de acesso à profissão. A Ordem dos Contabilistas Certificados nunca criou barreiras no acesso à profissão contudo, entendemos que é necessário atualizar procedimentos por isso encaramos de forma positiva as alterações. Assim e através destas novas regras, passam a existir três novas vias de acesso à profissão, permitindo que todos os interessados, melhor encontrem um caminho para ingressarem na profissão. Estes novos modelos, não diminuíram a exigência nem o rigor no acesso à profissão, permitiram apenas, caminhos mais personalizados e que não impossibilitem ninguém de poder aceder à profissão.

 

“Há estudos que dizem que as mulheres são mais rigorosas, mais cumpridoras da legislação, mais resilientes para as tarefas que a contabilidade exige.”

 

Referiu que não está a ser fácil atrair jovens para a profissão, a média de idade está nos 45 anos. Relativamente à representação feminina, os dados indicam que há mais de 70 mil contabilistas, na maioria mulheres, mas dos 31 mil que exercem realmente a profissão, os homens estão em maioria. Como é que tem evoluído a representação feminina na profissão e que desafios específicos se colocam às mulheres?

Tem evoluído muito bem, hoje já temos mais mulheres do que homens na profissão, e isso é um ponto muito positivo. Era uma profissão tradicionalmente de homens, e a entrada de muitas mulheres na profissão tem sido muito positiva e trouxe também grandes vantagens. Há estudos feitos por universidades que dizem que as mulheres são mais rigorosas, mais cumpridoras da legislação, mais resilientes para as tarefas que a contabilidade exige pelo que, esta mudança de paradigma, levou ao natural desenvolvimento dos profissões que hoje, estão em níveis muito próximos da plena excelência profissional.

Mas também é verdade que, apesar de já existirem mais mulheres contabilistas, verificamos que quem assina demonstrações financeiras, quem exerce efetivamente e assume a responsabilidade, continuam a ser maioritariamente homens.

 

Porque é que isso acontece? As mulheres fazem o trabalho nos bastidores e algum chefe de gabinete assina?

Pode ser uma das razões. A evolução foi muito rápida e apesar de haver muitas mulheres na profissão a serem responsáveis, ainda não conseguimos inverter a percentagem de mais mulheres a assumir a responsabilidade, mas está quase e isso acontecerá com naturalidade a curto/médio prazo.

Durante muitos anos a profissão era cinzenta mas felizmente conseguimos inverter esse paradigma tendo as mulheres contribuído muito para essa positiva mudança.

 

“O contabilista só vai servir melhor o país e a sociedade e as empresas, se conseguir ter melhores avenças e menos clientes, para assim lhes dedicar mais tempo, e também para ter um melhor equilíbrio entre a sua vida profissional e pessoal.”

 

Ainda assim, continua a ser uma profissão extremamente exigente em termos de tempo.

É uma profissão muito exigente a nível de conhecimento, e dos tempos de trabalho. E é isto que temos de mudar. Por isso, reforço muito a questão das remunerações e das avenças, porque o contabilista só vai servir melhor o país e a sociedade e as empresas, se conseguir ter melhores avenças e menos clientes, para assim lhes dedicar mais tempo, e também para ter um melhor equilíbrio entre a sua vida profissional e pessoal.

 

É vista como uma mulher corajosa, grande defensora da profissão, muito bem preparada tecnicamente, boa comunicadora também. Quais as competências e traços de personalidade que considera fundamentais para o cargo que ocupa?

Diria que fundamental é a dedicação e o gosto por aquilo que se faz. Defendo os contabilistas, porque acredito na profissão e acho que eles têm de ser reconhecidos.

Para assumir esta liderança é muito importante estar completamente focada nesta função, naquilo que se quer, e não pensar no lugar seguinte, que é uma coisa muito comum em cargos que são por eleição e onde se está a prazo. É preciso ser muito honesto e íntegro, porque estas entidades têm muitos interesses. Esta Ordem tem imenso poder, e obviamente quem está num cargo destes tem de ter integridade e valores muito fortes. O resto vem por acréscimo.

 

“Todas as quartas-feiras temos a sessão de maior sucesso no país. É em direto, em vários canais, durante cinco horas. [Durante a pandemia da Covid-19] realizámos estas sessões, onde esclarecíamos todas as medidas, e era a única entidade que o fazia. Chegámos a ter 12 mil pessoas em direto. Agora temos 3 a 4 mil pessoas em direto, o que continua a ser imenso.”

 

Diz que não é fácil trabalhar consigo. O que é que exige e valoriza às pessoas que a rodeiam?

Sou muito exigente, mas sou acima de tudo exigente comigo própria, o que implica uma dedicação muito grande. Quando me levanto de manhã tenho 150 trabalhadores, 120 órgãos e 68 mil membros com que lidar. É um desafio diário, pois alguém destes universos vai ter problemas e eu vou ter de geri-los. O resultado de sucesso destes seis anos de mandato tem a ver com isso, com a dedicação, com o foco, com o tempo que lhes dedicamos.

Os números do trabalho que sai desta instituição ao serviço dos membros, e consequentemente, ao serviço da sociedade, é enorme. Respondemos a milhares de pareceres. Os números, só deste primeiro trimestre, mostram que no consultório técnico prestámos 19 752 esclarecimentos, por via telefónica, presencial e escrita. Durante o primeiro semestre, respondemos a mais de 12 400 questões escritas e atendemos 19 000 telefonemas. Atingimos todos os anos 2 milhões de formandos e as visualizações no Youtube ascendem aos 7 milhões. São números impressionantes. Todas as quartas-feiras temos a sessão de formação de maior sucesso no país. É em direto, em vários canais – Youtube, Linkedln, e no nosso canal interno -, durante cinco horas prestamos, gratuitamente, apoio técnico aos contabilistas certificados e damos formação por técnicos altamente especializados. Durante a pandemia, foi isto que salvou o país. Lembram-se quando diziam que os contabilistas e a Ordem salvaram o país? Realizámos estas sessões, onde esclarecíamos e orientávamos os profissionais sobre as mais recentes medidas e apoios. Chegámos a ter 12 mil pessoas em direto.

A Ordem é uma instituição que leva muito a sério a sua função de interesse público por isso o apoio que prestamos aos membros e à sociedade civil tem de se orientar pelos mais elevados padrões de rigor, isenção e qualidade.

 

Mesmo em fóruns, também responde às pessoas diretamente. Como é que arranja tempo para tudo isto?

Com muita dedicação e gosto. Tudo na vida se faz com muito amor e dedicação. Com paixão, como costumo dizer. Sem isso não se faz nada. Se tenho 5 minutos disponíveis, estou nos fóruns e respondo. Estou sempre muito atenta, e todos os dias, uma das primeiras coisas que faço de manhã é ver o Diário da República e a legislação. Faço a minha própria análise de tudo, ainda que a Ordem também a faça, o que me permite estar sempre dotada do conhecimento para poder ajudar as pessoas.

 

Como é a sua vida para além do trabalho?

Tenho uma vida muito completa e uma família muito alargada à qual sou muito dedicada e muito presente. Tenho dois filhos, marido, e sobrinhos, que são como filhos, e tento estar sempre presente. Os meus amigos verdadeiros, os de sempre, são do tempo do colégio, estamos sempre presentes e acompanhamo-nos uns aos outros. Por vezes, a família queixa-se, mas é uma questão de equilíbrios. Com dedicação, conseguimos fazer tudo. Temos é de fazer tudo com qualidade.

Quando estou em casa e com a família, estou com qualidade. Quando estou na Ordem, estou com qualidade, e quando estou no meu escritório de contabilidade, estou com qualidade.

 

“Sou mais feliz como bastonária [do que como CEO da minha empresa] porque a minha forma de estar na vida é de missão, de serviço aos outros.”

 

Onde é que se sente mais feliz ou mais confortável, como CEO do seu escritório ou como líder aqui?

Sou mais feliz como bastonária, por uma razão: a minha forma de estar na vida é de missão, de serviço aos outros. Tenho uma educação num colégio jesuíta, e o espírito dos jesuítas é de serviço e de missão aos outros. Aqui sinto-me a realizar esse espírito, de me poder dedicar aos outros e ajudar.

 

E foi esse espírito de missão que a levou a candidatar-se ao cargo?

Podemos exercer esta função de várias maneiras. Claramente, tenho um cunho muito especial, que é este sentido de serviço e de missão. Acho que é o que me distingue. Os membros sentem que está sempre alguém do lado de cá a acompanhá-los. Se estão com um problema, sabem que têm aqui uma linha direta para mim.

 

Como é que se equilibra?

Com a família e com os amigos. Tenho uma estrutura familiar muito equilibrada, que me permite poder dedicar-me aos outros. Faço o pino, como costumo dizer, para estar num evento de um contabilista no Porto, ou para estar num aniversário de uma amiga. Às vezes, não é fácil, apetece-me ficar a descansar, mas não posso, tenho de estar. Faço-o sempre com gosto, nunca com sacrifício. Nenhuma das tarefas que faço atualmente é com sacrifício. A única coisa de que não gosto é lidar com os problemas e as contingências que temos no dia a dia, aquilo que sai fora da normalidade, mas fazem parte da vida, e temos de lidar com elas. O resto faço tudo com gosto.

 

Que marca é que gostaria que ficasse dos seus mandatos na Ordem?

O maior reconhecimento dos contabilistas certificados. Essa é a grande marca, assim como a união dos profissionais. Acho que estamos num ponto completamente diferente. Era uma profissão que não tinha rigorosamente nenhuma união, era cada um por si. E hoje já não está assim. Destacaria, por isso, esses dois pontos: o reconhecimento da sociedade e a união dos profissionais.

 

O facto de ser uma mulher bastonária ajudou-a a conseguir essa união? 

Ajudou, talvez por ser mais maternal. Muitos dizem que sou a ‘mãe dos contabilistas.’

 

Nota-se no seu estilo de liderança, um cuidar, o que é atribuído a uma característica feminina.

Não quer dizer que seja, mas normalmente é mais comum nas mulheres. Por exemplo, à 1 da manhã vejo uma pergunta e podia ignorá-la, mas não sou capaz, cuido.

 

“Esta é uma profissão que vai ter muito sucesso no futuro, porque é muito necessária. Podemos ajudar as empresas a sobreviver e a ir para outro patamar.”

 

Acha-se um role model para outras mulheres, até para atrair mais mulheres para a profissão?

Acho que sim. Nota-se, em relação às mulheres, que tem sido marcante na vida delas o facto de estar uma mulher a liderar a instituição e esta forma muito particular tem feito a diferença.

 

É uma forma genuina…

É sim, é natural.

 

O que diria a uma jovem que pondere entrar nesta profissão?

É uma profissão que vai ter muito sucesso no futuro, é muito necessária e, acima de tudo, é uma profissão que nos dá um prazer enorme, pelo conhecimento e por aquilo que podemos aplicar. Podemos ajudar as empresas a sobreviver e a ir para outro patamar. Poucas profissões têm este poder na mão. Diria às contabilistas uma frase que considero muito importante: só os contabilistas certificados é que têm um grande poder na mão, o de escrever a história das empresas todos os dias. É a única profissão que escreve todos os dias a história das empresas.

 

 

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