Paula Costa, CEO da ACO Shoes: “Nunca senti qualquer tipo de dificuldade pelo facto de ser mulher, nem facilidade”

Há mais de três décadas que Paula Costa está ao leme da ACO Shoes, empresa de referência na indústria de calçado, com dimensão internacional, fundada pelo pai, quase há meio século. A empresária, que conhece como poucos todos os meandros do setor produtivo, apesar de nunca se ter sentido discriminada, defende que é preciso continuar a mudar mentalidades machistas.

Paula Costa é CEO da ACO Shoes

Paula Costa não tem dúvidas de que o seu maior desafio profissional foi ter entrado no negócio familiar, “onde os homens estavam em maioria.” Ao longo de mais de 30 anos de carreira, a CEO da ACO Shoes, a principal empresa do grupo fundado pelo pai, Armindo Costa, em 1975, percorreu todos os setores da casa-mãe, sediada em Vila Nova de Famalicão, tendo gerido a fábrica de Ponte de Lima, uma das unidades de apoio à produção, no país, a que se juntou uma outra, em Cabo Verde. Quase meio século depois, a empresa de calçado feminino de conforto, exporta a quase totalidade dos sapatos produzidos para mais de 30 países de vários continentes. A formação tem sido uma aposta determinante no percurso desta executiva, que depois da licenciatura e mestrado em Gestão, pela Universidade Lusíada, não esconde o orgulho de ter conseguido concluir, há dois anos, o doutoramento em Ciências Empresariais, pela Universidade Portucalense, “numa fase de reestruturação hierárquica na empresa.” Reconhece que este trajeto de constante agregação de valor “capacitou-me com novos conhecimentos essenciais no mundo empresarial dinâmico e resiliente em que vivemos.”  Paula Costa, que lidera um grupo empresarial onde as mulheres são maioritárias, afirma que não se sente uma role model, sublinhando que “procuro transmitir todos os dias que o meu exemplo seja inspirador para todos os colaboradores, sejam homens ou mulheres.”

 

 Assumir a liderança da ACO Shoes foi um desejo ou antes uma responsabilidade para dar continuidade ao negócio?

Foi um desejo, foi uma responsabilidade, mas foi, sobretudo, algo que aconteceu com naturalidade, em função da minha dedicação a este projeto empresarial familiar de dimensão internacional.

 

Como se preparou para esta missão e quais as principais etapas do seu percurso até chegar a este cargo?

O projeto empresarial da ACO Shoes foi iniciado em 1975, pelo meu pai, Armindo Costa, atualmente com 86 anos de idade, que continua ativo, sendo o presidente do conselho de administração. Foi ele, inclusive, que criou a marca ACO, que deriva das letras iniciais do seu nome e do seu apelido. A empresa nasceu para produzir calçado feminino de conforto e sempre esteve focada no mercado internacional. Meio século depois, a quase totalidade do calçado produzido é exportado para mais de 30 países de vários continentes. Ao longo destes anos, fiz a minha formação académica na área da economia e da gestão, área do meu doutoramento, e ganhei experiência da gestão da ECCO Conforto, em Ponte de Lima, uma das três empresas do grupo ACO Shoes.

 

“A formação académica na área da gestão capacitou-me com novos conhecimentos essenciais no mundo empresarial dinâmico e resiliente em que vivemos.”

 

O que trouxe a sua gestão de novo à ACO Shoes e qual o balanço que faz da sua participação durante mais de 30 anos no grupo fundado por Armindo Costa?

São mais de 30 anos de trabalho e muita dedicação a um projeto que mobiliza toda a família, para além do meu pai, a minha mãe, Fernanda Costa, que também integra o conselho de administração, o meu irmão, Fernando Costa, peça fundamental nas relações com os clientes internacionais. Ao ter percorrido todos os setores da empresa-mãe, a ACO Shoes, e ao ter gerido a empresa de Ponte de Lima, conheci de perto os meandros do setor produtivo. A formação académica na área da gestão capacitou-me com novos conhecimentos essenciais no mundo empresarial dinâmico e resiliente em que vivemos.

 

Quais as competências e características pessoais que têm sido mais importantes neste percurso?

A resiliência face às mutações do mercado; uma cultura de permanente disponibilidade para a criatividade, para a inovação e para os resultados, em função dos objetivos definidos previamente. Além disso, destaco a formação pessoal e profissional e uma cultura de exigência em cada decisão tomada.

 

O facto de ser mulher alguma vez dificultou ou facilitou o seu trabalho?

Felizmente, nunca senti qualquer tipo de dificuldade pelo facto de ser mulher. Nem facilidade.

 

Qual a realidade na sua empresa no que respeita à igualdade de género? O que faz para que mais mulheres ocupem funções de liderança? Sente-se um “role model” para outras mulheres dentro e fora da empresa?

A ACO Shoes é um grupo em que as mulheres são maioritárias. Mas não se trata de qualquer política dos recursos humanos de preferir mulheres em vez de homens. Tanto valorizamos os homens como as mulheres. Trata-se de uma situação natural – que tem a ver com o interesse que as pessoas manifestam para trabalhar connosco –, situação essa que tem sido consolidada ao longo de quase 50 anos da empresa. O mesmo acontece na liderança da empresa. Não me sinto modelo para outras mulheres. O que procuro transmitir todos os dias é que o meu exemplo seja inspirador para todos os colaboradores, sejam homens ou mulheres.

 

“É preciso continuar a mudar mentalidades machistas. Homens e mulheres devem ter as mesmas oportunidades.”

 

Por que é que acha que ainda há tão poucas mulheres na liderança em Portugal?

Há circunstâncias históricas e culturais que explicam o facto de ainda existirem poucas mulheres em funções de liderança. Os estilos de vida, a maternidade ou a forma como a sociedade está organizada também são fatores que inibem muitas mulheres de exercerem mais lugares de liderança. Mas o panorama está a mudar, muitas barreiras estão a ser ultrapassadas, o que é positivo. De facto, há cada vez mais mulheres em lugares de destaque na sociedade portuguesa, o que é muito positivo. O que é preciso é que esta tendência não seja travada. É preciso continuar a mudar mentalidades machistas. Homens e mulheres devem ter as mesmas oportunidades.

 

Qual o maior desafio profissional com que teve de lidar e como o enfrentou? E qual o momento de que mais se orgulha na sua carreira?

O maior desafio foi talvez a minha entrada numa empresa familiar onde os homens estavam em maioria. Do que mais me orgulho foi ter conseguido concluir o doutoramento numa fase de reestruturação hierárquica na empresa.

 

Que conselhos deixa a quem sabe que um dia vai assumir a liderança do negócio da família?

É preciso ser resiliente, e separar a vida da empresa da vida familiar. Também aconselho a maior frontalidade possível, não deixando que as relações laborais se degradem.

 

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