Por José de Morais Neves, conselheiro Multicare.
A população mundial com mais de 65 anos é superior a 450 milhões de pessoas, prevendo-se que esse valor ascenda a 1500 milhões no ano de 2060. Com o envelhecimento da população assistir-se-á a um aumento das fraturas osteoporóticas. Destas, as fraturas da extremidade proximal do fémur, devido à sua frequência exponencial a partir dos 70 anos, representam um enorme problema socioeconómico. São mais frequentes na Ásia do que na Europa ou nos Estados Unidos e têm uma incidência, variando com o sexo, de 15% nas mulheres para 7% nos homens, sugerindo a existência de outros fatores além da menopausa, como a falta de exercício, a malnutrição e o abuso medicamentoso.
Em Portugal, as lesões traumáticas ocuparam, em 2005, o 3º lugar, quando comparados os internamentos hospitalares em pessoas com mais de 75 anos (30,9 pessoas / 1000 habitantes) e foram classificadas logo atrás das doenças do aparelho circulatório e respiratório. A situação agravar-se-á quando é previsível que, em 2060, o número de pessoas com mais de 65 anos triplique e atinja uma percentagem de 30% contra os atuais 17%. Este efeito é extensível a quase todos os países da União Europeia afetados pela confirmada negatividade demográfica, fazendo com que o continente represente, em 2060, apenas 5% da população mundial e em que a idade média será de 48 anos, com um rácio de dependência entre a população trabalhadora e idosa de 1:1, quando atualmente é de 2:1.
As quedas acidentais são a causa mais frequente das fraturas da extremidade proximal do fémur do idoso.
As quedas acidentais são a causa mais frequente das fraturas da extremidade proximal do fémur do idoso, pois o risco está associado à senescência dos órgãos dos sentidos, aos distúrbios do equilíbrio e da marcha e demais doenças inerentes a esta faixa etária. Apesar do tratamento cirúrgico destas fraturas ser muito eficaz, as complicações atribuíveis ao tempo de espera cirúrgico, ao agravamento das patologias associadas, ao método utilizado e aos procedimentos anestésicos são fatores de morbilidade acrescida, que afetam os índices de recuperação de tal modo que apenas 30 a 40% dos doentes considerados independentes antes da fratura recuperam o seu padrão de atividade diária 12 meses após o acidente. O aumento do risco de mortalidade secundário a este tipo de fractura do fémur varia entre 15 a 35% no fim do 10º ano e está positivamente correlacionado com a idade e a existência de patologias incapacitantes associadas.
O tratamento conservador é excecional e só é utilizado quando coexistem complicações médicas absolutas, o que induz um aumento da morbilidade associada à imobilização prolongada, ao tromboembolismo, às infeções urinárias e às complicações cardiorespiratórias.
O tratamento cirúrgico é a indicação imediata à entrada no Serviço de Urgência, exigindo-se que seja o adequado de forma a restabelecer a anatomia do membro, evitando o alectuamento prolongado, com as inerentes complicações médicas e psiquiátricas. É consensual que estes doentes têm de ser operados nas primeiras 24 horas, pois há um real aumento da mortalidade para além das 72 horas, não se registando alterações significativas quer a anestesia seja geral ou loco regional.
O tratamento cirúrgico é muito eficaz, quer se utilize o encavilhamento com o Cravo Gamma, a osteossíntese com placa e parafuso dinâmico DHS ou a artroplastia total ou parcial, conforme o tipo de fratura encontrada.
Todas estas técnicas utilizadas visam o levante precoce às 24 horas, que condiciona favoravelmente o resultado médico final, pois uma menor hospitalização vai permitir uma mais rápida retoma da atividade. A reabilitação fisiátrica precoce, com início durante o internamento hospitalar, é fundamental para a reinserção do doente no seu ambiente. Torna-se, pois, imperioso o incremento de estruturas de apoio social ou domiciliário para acolhimento destes doentes.
Cerca de 40 a 50% dos doentes com mais de 70 anos vão necessitar de assistência e de apoio social, o que implicará um investimento socioeconómico relevante.
A possibilidade do regresso dos doentes ao domicílio correlaciona-se com a amplitude e autonomia de marcha aos 15 dias de pós-operatório, à existência de um ambiente familiar favorável, a um estado geral de saúde satisfatório em que a idade, o grau de autonomia pré-fratura ou a existência de patologia neuropsiquiátrica são fatores perniciosos.
Cerca de 40 a 50% dos doentes com mais de 70 anos vão necessitar de assistência e de apoio social, o que implicará um investimento socioeconómico relevante. Estudos baseados em várias séries apontam para uma mortalidade aos três anos para doentes com mais de 75 anos de cerca de 42%, sendo que 70% voltam para o seu meio familiar, 61% tornam-se independentes na sua atividade diária, enquanto 52% não retomaram a marcha. O prognóstico está, assim, ligado não só ao estado geral do doente, mas também às condições que quer as famílias quer as instituições possam oferecer.
Se a isto juntarmos que este tipo de fratura representa, para um Serviço de Ortopedia, uma percentagem de internamentos de 8 a 10%, com uma hospitalização média de, pelo menos, o dobro das outras patologias, encontramo-nos em presença de um problema real para a comunidade. Projeções apontam para que, dentro de alguns anos, os hospitais tenham ocupadas cerca de 40% das suas camas com doentes com idade superior a 70 anos portadores de patologia médica ou traumática.
São custos indiretos difíceis de quantificar pelo que, na realidade, é difícil avaliar o custo final do tratamento deste tipo de fraturas. Estudos apontam para que 10 a 15% do total recai sobre o material utilizado, 44% são despesas com o pessoal, 26% são consumíveis e 5% são outras despesas.
Segundo dados da Direcção-Geral de Saúde referentes a 2006, foram registadas, em Portugal, 9 523 fraturas de extremidade proximal do fémur nas quais se gastaram 52 milhões de euros, com mais de 120 000 dias de hospitalização e com uma demora média de 14,2 dias de internamento. Esta situação é ainda mais preocupante se tivermos em conta que, no mesmo período, foi operado um número equivalente de artroplastias totais da anca e de fémur, mas com um custo final inferior a um terço. Toda esta panorâmica, com custos diretos e indiretos relevantes, realça o grave problema socioeconómico, que representam as fraturas da extremidade proximal do fémur, problema que se irá agravar com o aumento da esperança média de vida e para o qual, passado que foi o período agudo do tratamento, apesar da utilização racional dos recursos ortopédicos e médico-sociais, não foram ainda encontrados os meios e as formas que permitam uma reinserção indolor destes doentes na sociedade.
O problema de sermos menos e mais velhos, mas mais produtivos e mais escolarizados, numa sociedade em que se tende a ser velho mais tarde, torna fundamental uma aprendizagem ao longo da vida para que todos em conjunto saibamos encontrar soluções que minimizem esta realidade de hoje e do amanhã.
Sabendo que o tecido ósseo é um composto natural de fibras colágenas e cristais de hidroxiapatita, os cientistas demonstraram recentemente que os nanotubos conseguem imitar a função do colágeno como estrutura para o crescimento de hidroxiapatita no osso.
Leonard Interrante, PH.D., editor do Chemistry of Materials e professor no departamento de Química e Biologia Química no Rensselaer Polytechnic Institute em Troy, N.Y., realça: “este é um exemplo de como a química é usada todos os dias, no mundo inteiro, para desenvolver materiais que melhoram a vida das pessoas.”