Dezembro chegou! Na nossa agenda habitam inúmeros convívios de Natal. De mãos dadas com as iguarias natalícias, a descontração do momento pode levar a que seja adotada uma postura relaxada e descontextualizada no âmbito profissional.
Neste artigo, recordo os principais comportamentos ou escolhas que, quando adotados, vão aniquilar a sua imagem de profissional de excelência.
Não respeitar o traje do evento
Tal como partilhei no meu artigo “Como se apresentar no almoço ou festa de Natal da empresa”, é fundamental que o traje indicado para o evento seja respeitado.
Assim que receber o convite, certifique-se que interpreta, devidamente, o grau de formalidade do evento. De seguida, adeque o traje não só ao grau de formalidade mas, respeitando, também, a tipologia, o local do evento e a hora em que o mesmo se irá realizar.
Este tema pode ser, particularmente sensível quando estão em causa convites redigidos noutra língua, uma vez que os “falsos amigos” estão presentes nesta matéria (ainda se lembra do que significa “frac” em castelhano e qual a correta tradução para português? Ou qual deverá ser o traje a observar caso, num convite em inglês, seja mencionado como dress code: informal? A tradução literal destes termos vai determinar a escolha do traje incorreto. A título de exemplo, recordo-lhe que a tradução correta, para português, do código de vestuário mencionado em inglês “informal” não é traje informal mas sim fato escuro com gravata!
A maquilhagem, assim como os acessórios, deve estar em sintonia com o grau de formalidade do evento. Recordo, mais uma vez, que os eventos noturnos permitem a escolha de uma maquilhagem mais sofisticada; por sua vez, ao almoço, opte por maquilhagem discreta e elegante, assim como acessórios discretos.
Caso não esteja segura da interpretação que faz do convite (seja do grau de formalidade do evento, seja do traje esperado), aconselho a que entre em contacto com o departamento de recursos humanos/marketing para que não faça a escolha errada e se sinta como “um peixe fora de água”.
Abordar temas proibidos ou inadequados para o contexto
Dominar, com mestria, a tarefa de estabelecer e manter conversa de circunstância é uma arte. Em eventos profissionais mais “descontraídos”, como é o caso dos convívios de Natal, facilmente se pode cometer o pecado capital de abordar temas proibidos ou temas inadequados para o contexto.
Se o evento decorre no contexto profissional, temas da esfera pessoal (saúde, família, estado da relação) não devem ser abordados nem questionados.
Recordo-lhe que os clássicos temas proibidos, a saber, política, religião, dinheiro, futebol, opções sexuais, etc., podem funcionar como uma verdadeira bomba atómica e só poderão ser abordados com quem tenhamos abertura para tal..
Por fim, também deverá coibir de efetuar qualquer pergunta cuja resposta envolva um número, em particular “Quanto custou esse vestido?” ou uma pergunta que possa colocar o outro numa posição desconfortável: “Onde comprou esse vestido?” .
Opte por abordar temas neutros (os chamados temas seguros) como cinema, arte, literatura, exposições, o local onde decorre o evento, a ementa do mesmo, etc). identificando pontos comuns com o interlocutor que lhe permitam ter uma conversa agradável e sem constrangimentos durante o evento.
Estar “à vontadinha”
Por mais informal que possa parecer (e ser) um evento profissional, o contexto profissional no qual se insere não é compatível com uma postura “à vontadinha”. Como tal, a informalidade das atitudes, conversas, abordagem para com os outros deve sempre respeitar a linha vermelha que separa o contexto profissional do contexto pessoal.
Evite, em especial, ter uma postura relaxada à mesa, mesmo depois do café ter sido servido, pois, reforço, o evento ocorre no contexto profissional e a sua imagem, como um todo, deve refletir o contexto em que atua.
Informalidade com chefias
Na sequência do ponto anterior, por maior que possa ser o grau de informalidade do convívio de Natal, está, verdadeiramente, vedada uma atitude de informalidade com chefias.
Assim, tenha particular cuidado com a forma como se dirige às chefias, os temas que aborda e como os aborda. Por sua vez, continue a respeitar a fórmula de tratamento que, desde início, lhe foi indicada. Este ponto é particularmente difícil de respeitar em eventos noturnos, pois a descontração que reflete a boa disposição das iguarias servidas, poderá condicionar o discernimento e a perceção do contexto em que o mesmo ocorre.
Não saber estar à mesa
Por fim, e porque nunca é demais relembrar que não saber estar à mesa funciona como um péssimo cartão de visita, é fundamental que saiba navegar, com elegância, à mesa de refeição.
Saber estar é, muito mais, do que reconhecer todos os utensílios (talheres, copos, guardanapos) e saber utilizá-los devidamente. Saber estar é saber dominar a arte de bem conversar à mesa; é saber respeitar o ritmo de degustação dos vários comensais; é saber não deixar o outro desconfortável com uma atitude; é não cometer o crime “roubando o pão do vizinho” ou “o guardanapo do outro vizinho”; é saber fazer a leitura do momento; é saber esperar; é saber brindar; é saber discursar (se for o caso); é saber respeitar as opções gastronómicas dos outros, evitando efetuar perguntas que podem deixar o outro desconfortável:
“Não bebe vinho, porquê?” Está grávida?!”
“Não come sobremesa?! Aposto que está de dieta!”
“Nunca lhe ensinaram a manusear os talheres?!”
“Sabia quem tem salsa nos dentes?!”
Esperando que as minhas reflexões sejam úteis para o seu sucesso profissional, permita-me que lhe deseje um feliz Natal e um ano 2025 repleto de sucessos!
Joana Andrade Nunes é consultora de protocolo, etiqueta e comunicação, membro da Associação Portuguesa de Estudos de Protocolo, colaboradora no programa “Praça da Alegria”, na RTP 1 e autora da rubrica “Etiqueta Profissional”, na Executiva. Mestre e Licenciada em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, iniciou a carreira profissional como docente universitária nesta instituição e, até 2017, conciliou a atividade de docência com a prática de advocacia de negócios. Em 2014, foi distinguida com Menção Honrosa no âmbito do V Prémio Wolters Kluwer de Artigos Jurídicos Doutrinários. O seu livro Quatro Gerações à Mesa foi considerado o melhor livro de culinária de Portugal, pelos Gourmand World Book Awrads (2016) e o 3.º melhor do mundo, pelos gourmand World Book award, 2017. Desenvolve a atividade de consultoria e formação junto de prestigiadas equipas e organizações.
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