Nelma Fernandes: “O risco é uma forma de crescimento”

Nelma Fernandes é a primeira mulher a assumir a presidência da Confederação Empresarial da CPLP. Natural da Guiné Bissau, está em Portugal desde criança, onde tem um bem sucedido percurso como empresária.

Nelma Fernandes é a primeira mulher presidente da Confederação Empresarial da CPLP.

Ao assumir a presidência da Confederação Empresarial da CPLP, Nelma Fernandes consegue dois feitos: é a primeira mulher no cargo e é também a primeira vez que a Guiné Bissau lidera esta organização.

Nascida na Guiné-Bissau, Nelma Fernandes veio viver com um ano e meio para Portugal, onde se tem destacado no meio empresarial. Fundadora e presidente da Win Coach Academy, Nelma Fernandes foi CEO da Wycon Cosmetics e proprietária e gestora das cinco lojas da empresa do Grupo Calzedonia, sendo as lojas com melhor performance de desempenho a nível nacional, o que lhe valeu vários prémios em Portugal e Itália. Para além de investidora, Nelma Fernandes é ainda vice presidente da Federação Mulheres Empresarias e Empreendedoras CE-CPLP).

 

Licenciou-se em Gestão e trabalhou quase nove anos na banca. Era este o seu sonho?

O meu sonho é construir boas relações com as pessoas, sempre na perspetiva da empatia com o outro. O meu sonho é ajudar África a ter mais pessoas capacitadas de forma a evoluir para a independência económica. A gestão, estratégia empresarial é o meu perfil, o meu dia a dia. É o que amo e é o que sei fazer. Estou a utilizar o meu perfil para trabalhar diariamente e dar o meu contributo para a realização do sonho.

O que a fez deixar um emprego na banca para se lançar nos negócios? 

Acreditar que sou capaz de produzir rentabilidade. Sempre gostei de desafios, sair da zona de conforto. Na minha opinião, é onde temos oportunidade para crescer. O risco é uma forma de crescimento.

Quais os principais desafios que enfrentou e que oportunidades soube aproveitar?

Era muito nova ainda quando tive negócios de cadeias internacionais. Os desafios foram a todos os níveis, não tinha muita experiência e as multinacionais já eram gigantes. Tive de me dedicar a 100% para apreender rapidamente. O que me ajudou foi a disciplina e a vontade de provar que sou capaz. De início foi muito difícil a adaptação ao rigor e ao planeamento. Tudo é pensado ao milímetro. Oportunidades surgem-nos diariamente. A mais valia é ter a capacidade de estar atento e captá-las no momento certo. Quando temos essa capacidade, dizem que temos “sorte”.

 

“Responder ao que se pede está ao alcance de muitos, superar as expectativas apenas de alguns”

Começou com um negócio que não faturava sequer 200 mil euros e 13 anos depois estava acima de 12 milhões. Quais os seus segredos para ter sido tão bem sucedida no mundo dos negócios?

Na verdade é muito simples. Acima de tudo compromisso, estarmos preparados para gerir um negócio, saber especificamente qual é o nosso papel e o nosso know how. Querer fazer e controlar tudo é um grande erro, devemos estar rodeados de profissionais capazes, capacitar as pessoas que trabalham connosco e partilhar ganhos. Há que entender que são parte da família empresarial, apenas motivados e integrados vão dar o seu melhor. É também importante perceber que quem nos paga o ordenado são os clientes, o que significa que merecem um tratamento especial — saber que o cliente para além do interesse no produto final, quer e merece vivenciar uma experiência. Com tanta oferta no mercado se não oferecemos um “plus”, estamos fora. Responder ao que se pede está ao alcance de muitos, superar as expectativas apenas de alguns.

Disse numa apresentação pública que faz a sua cama todos os dias e também as dos hotéis em que fica quando viaja, porque “quem não é disciplinado a fazer pequenas coisas, tb não faz grandes feitos”. Que outras características considera essenciais para fazer o percurso que fez?

Na verdade, pode ser uma outra tarefa. O importante é deixar-nos a sensação de finalizar algo com sucesso, as primeiras tarefas do dia para termos vontade e ânimo de finalizar e concluir mais. A disciplina começa no pequeno detalhe.

Quando e como é que surge a sua ligação à CPLP?

Por convite. Convidaram-me para fazer parte da Federação de Mulheres Empresárias da CPLP e mais tarde para me juntar a Comissão Executiva da Confederação Empresarial da CPLP.

Do que mais se orgulha no seu mandato de quatro anos como vice-presidente da Federação de Mulheres Empresárias e Empreendedoras?

Em primeiro lugar, pelo potencial e abrangência de estar numa comunidade económica de grande potencial, com 9 países membros e vários observadores. Em segundo lugar, orgulha-me a minha característica de fazer acontecer. Não aceito projeto nenhum que não me dedique a contribuir com algo.

 

“Temos de ser sérios no que ambicionamos e temos de mostrar resultados no que nos confiam”

O que significa para si ser a primeira mulher presidente da Confederação Empresarial da CPLP?

Significa muita responsabilidade. Temos de ser sérios no que ambicionamos e temos de mostrar resultados no que nos confiam. Significa que eu própria vou fazer questão de trabalhar arduamente e monitorar o impacto dos resultados que vão ser alcançados. Obviamente, é um motivo de grande orgulho, no entanto, pessoalmente considero que a competência não é de género, mas sim de capacidade. Estou imensamente grata e feliz pela confiança.

Qual a missão que lhe foi confiada para o seu mandato? 

A Confederação Empresarial da CPLP nasce da vontade política no sentido de apoiar o desenvolvimento económico dos 9 países que compõem esta comunidade, através da dinamização do setor privado. Significa que é o parceiro privilegiado da CPLP para encontrar soluções que possam contribuir para o desenvolvimento do pilar económico dos Estados Membros, tais como a captação de investimento.

Por outro lado, apoiar o tecido empresarial privado, os nossos associados a expandir o seu negócio, quer através de novas parcerias e/ou a encontrar mercados mais vastos que permitem um alcance além fronteiras, sendo a CE-CPLP uma rede empresarial presente em 9 países. Igualmente no apoio para construção de projetos válidos, bem como na busca de financiamento para os mesmos. São alguns aspectos do que fazemos.

Tendo sido vice-presidente comissão executiva da CE da CPLP já conhece bem a organização, os pontos fortes e os pontos a melhorar. Que mudanças pretende fazer e que marca quer deixar no fim do seu mandato?

A CPLP é das comunidades económicas com maior potencial. Pela sua diversidade geográfica de pertencer a quatro continentes, pela riqueza de mar, terra fértil e recursos naturais, o potencial turístico, etc. São estes os motivos pelos quais tantos outros países querem aderir enquanto observadores. São estes os pontes fortes, para além de uma rede empresarial que abrange 9 países, está também inserida, através dos estados membros, noutras seis comunidades económicas: ASEAN, CEDEAO, CEEAC, MERCOSUL, SADC, UE. No entanto ninguém vive apenas do potencial. Há que pegar no potencial e entrar em ação para o transformar em realidade.

As prioridades deste mandato são: espelhar em concreto as oportunidades que os estados membros têm entre si dentro dos setores e fomentar a concretização do relacionamento comercial; apoiar no sentido de conseguir o maior número possível de pessoas capacitadas; dar passos mais firmes na questão da mobilidade; estar muito mais próximos dos nossos associados para trabalhar melhores respostas para as sua necessidades.

 

“Está ao meu alcance mostrar a outras mulheres que quando queremos e trabalhamos arduamente, tudo é possível”

Melhorar a situação das mulheres e acelerar a igualdade de género na liderança está entre as suas prioridades? O que está ao seu alcance fazer neste sentido?

Este tema é comum a todos nós. O equilíbrio nesta questão é fundamental para o desenvolvimento global. Considero dois aspetos a trabalhar em simultâneo. Um é estar sempre atento para que as oportunidades salariais e de postos de trabalho sejam partilhadas de forma igualitária. Na minha opinião, a questão de fundo reside na oportunidade. O outro é fazer entender a maioria das mulheres, que muitas das vezes o bloqueio reside em nós e não nos outros. Obviamente existem algumas culturas que ainda têm um longo caminho a percorrer. No entanto, também existem alguns casos em que inconscientemente ou não, torna-se mais fácil apelar á questão do género enquanto condicionador de algo, do que simplesmente ir à luta e exigir que a avaliação seja apenas pela competência. Está ao meu alcance falar e mostrar a outras mulheres que quando efetivamente queremos e trabalhamos arduamente, tudo é possível. E faço questão de falar e apoiar nesse sentido constantemente.

Que mensagem deixa às jovens da CPLP que ambicionam chegar a funções de liderança?

Os jovens hoje em dia podem tudo. Está tudo ao seu alcance. Vivemos numa era em que temos acesso a todo o tipo de informação a distância de um clique. O desafio é como gerir, assimilar tanta informação e, em simultâneo, manter o foco. A juventude de hoje são os futuros governantes e líderes de amanhã. Acho que temos todos de fazer um grande esforço para minimizar o grande fosso que se está a sentir atualmente. Ter uma visão jovem numa experiência já adquirida é garantidamente a fórmula bem sucedida. Ambos são necessários. A mensagem é dar sempre o nosso melhor no que nos propomos fazer e ter abertura para acolher outros pontos de vista igualmente válidos.

 

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