“As mulheres passam um terço da sua vida em menopausa”

Ana Fatela, responsável pela consulta de menopausa, da Maternidade Alfredo da Costa, falou sobre o tema da menopausa, e um painel de especialistas e executivas abordou o seu impacto na carreira, na Executiva Women's Health Conference.

Ana Fatela, fundadora e responsável da Consulta de Menopausa da MAC.

Pela primeira vez, a Executiva realizou a Executiva Women’s Health Conference, que reuniu médicas e executivas, para falarem sobre temas da saúde da mulher e como impactam a sua carreira e vida pessoal. A menopausa foi o tema de abertura.

“Cada vez mais, a mulher vive mais tempo em menopausa, passando um terço da sua vida nesta fase, a qual não impacta apenas a mulher, mas todos à sua volta”, começou por dizer Ana Fatela, ginecologista-obstetra, responsável e cofundadora da consulta de menopausa, da Maternidade Alfredo da Costa, na sua talk de abertura da Executiva Women’s Health, com o tema “A menopausa como início, não como fim!”, que decorreu no auditório do Hospital CUF Descobertas.

Não sendo uma doença, antes uma condição, que acontece por volta dos 45 e 55 anos, nem o fim da linha, continua a ser um tema de que pouco se fala. As mulheres são preparadas para a menstruação e para a gravidez, mas ninguém as prepara para a menopausa. Por isso, não é de admirar que seja um desafio, para muitas enfrentar a falta de sono, as falhas de memória e as dificuldades de concentração, os picos de ansiedade, para não falar dos sintomas físicos, como os afrontamentos, as dores musculares e das articulações, e as enxaquecas. E os números espelham bem a realidade, “75% das mulheres sofre com estes sintomas de curto prazo, dos quais 25% se mantém por mais de 5 anos”, salientou Ana Fatela.

Mas os efeitos mais graves, causados pela falta de estrogénio, o escudo protetor da saúde da mulher, antes da menopausa, fazem-se sentir a longo prazo: há maior risco cardíaco e neurocognitivo, a líbido caí a pique e os ossos enfraquecem. “Nos dois primeiros anos pós-menopausa dá-se uma queda da massa óssea, o que vai fazer com que se tenha mais fraturas”, explica Ana Fatela, chamando a atenção para a prevalência da osteoporose: “1 em cada 3 mulheres com mais de 50 anos tem osteoporose, sendo que em Portugal, há 8 fraturas osteoporóticas por hora, e 70 mil por ano.”

Se a osteoporose é uma doença silenciosa, o silêncio associado à síndrome geniturinária (SGU) é marcante, este que é “o segundo sintoma mais frequente da menopausa, e que atinge 60% das mulheres na pós-menopausa.” Falar de assuntos mais íntimos, como secura vaginal, dor sexual ou falta de líbido, causa ainda muitos constrangimentos às mulheres. Ana Fatela sublinha que há muitas ferramentas ao nosso dispor, medicamentosas e não só, para prevenir e contrariar os sintomas, e que se deve olhar para a menopausa “não como o fim de algo, mas como o início, um recomeço.”

 

O impacto da menopausa na carreira

Eugénia Chaveiro, da Clínica CUF Alvalade, Vânia Borges, da Adecco, a executiva Dulce Mota, e Maria Serina, da Executiva.

Eugénia Chaveiro, da Clínica CUF Alvalade, Vânia Borges, da Adecco, a executiva Dulce Mota, e Maria Serina, da Executiva, conversaram sobre o impacto da menopausa na carreira.

Com o aumento da presença das mulheres no mercado de trabalho, as grandes impulsionadoras do crescimento da força laboral da última década, a menopausa já não é apenas um tema pessoal, passou a ser um tema de empresas. Em Portugal, há atualmente 1,2 milhões de mulheres em menopausa e metade assume mal-estar nesta fase, revelou um estudo recente da Medis. Não há como ignorar esta condição das mulheres, que terão ainda cerca de 20 anos de trabalho pela frente, enquanto enfrentam os efeitos negativos da menopausa, que impactam a sua carreira e vida pessoal. Afrontamentos, distúrbios do sono, ansiedade e outros sintomas da menopausa, custam quase 2 mil milhões de dólares em tempo de trabalho perdido nos Estados Unidos, segundo os resultados de uma pesquisa da Mayo Clinic.

Para Vânia Borges, diretora de Recursos Humanos da Adecco Portugal, a menopausa ainda é um tema tabu, de que não se fala abertamente na empresa onde trabalha. “A nossa realidade é que nem todas as mulheres se sentem confortáveis a conversar sobre o assunto. Quando o fazem, referem que sentem que perderam capacidades e mostram-se inseguras para executarem um trabalho que sempre fizeram”, explica esta executiva na sessão “Menopausa e o impacto na carreira.”  Esta perda de potencial, sentida pelas mulheres no local de trabalho, foi determinante, afirmou, para “trazer o tema para dentro de casa” e criar uma rede de apoio específico durante esta fase. “Abrimos sessões de esclarecimento a todas as pessoas, e temos homens presentes – o que mostra que querem aprender e entender mais -, reforçámos o nosso plano de saúde com exames médicos periódicos a partir dos 40 anos, damos suporte psicológico gratuito, consultas de nutrição, e tudo o que possa apoiar a mulher a conhecer-se e a saber como pode cuidar de si.”

Nesta mesa-redonda, Eugénia Chaveiro, ginecologista-obstetra do Hospital CUF Descobertas e Clínica CUF Alvalade, partilhou o caso de uma paciente que perante sintomas como falta de concentração e de memória, que não relacionou com a menopausa, achou que já não tinha condições para continuar nas funções de responsabilidade que exercia e optou por formar uma pessoa que a substituísse, a quem cedeu o seu lugar de topo, passando para um cargo menos importante. “Isto fez-me pensar quão impactante a menopausa pode ser na vida da mulher”, reconheceu, adiantando que há empresas que já começam a encarar esta fase da mulher com outros olhos, pois outra paciente que trabalha em Londres, e que também está nesta fase, conseguiu que a empresa lhe reduzisse a carga horária. “Mas, se hoje já se olha de maneira diferente para a menopausa, nem sempre assim foi, em grande parte devido a um estudo bombástico, The Women Health Initiative, iniciado em 1993 nos Estados Unidos, que apontou riscos graves à terapia hormonal de substituição (THS), “gerando uma hormonofobia, quer dos médicos, quer das senhoras em menopausa, e mesmo depois de serem feitos outros estudos que asseguravam ser seguro fazer esta terapêutica, o medo persistiu e a percentagem de mulheres a usá-la desceu de 29%, entre 1999 a 2002, para 4%, em 2010, nos EUA”, recorda Eugénia Chaveiro, enfatizando que o envelhecimento é normal, o que devemos é garantir que “temos de envelhecer saudáveis.”

Por sua vez, Dulce Mota, administradora da Lisgarante, Norgarante e REN, que foi uma das primeiras mulheres com funções de liderança no Grupo BCP, orgulha-se de nunca ter recusado nenhum desafio profissional durante essa fase da sua vida, “a menopausa não deve diminuir a nossa grandeza, e profissionalmente temos de ter uma atitude muito transparente, e sobretudo não aceitar que sejamos humilhadas ou chamadas à atenção.” Considerando que a mulher “carrega um estigma muito forte sobre este tema, ao contrário do homem”, a menopausa acontece “numa fase relativamente mais tranquila da nossa vida, com mais maturidade e com menos necessidade de acudir aqui e acolá.” E acrescenta: “muitas de nós, estão no ponto mais alto da sua carreira, a liderar equipas ou a coordenar, ou, se não fizemos essa opção, estamos mais conscientes sobre o que fazemos, e retiramos o que de melhor há nessa fase.”

 

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