Mariana Madeira Rodrigues: “Apaixonam-me as pessoas com quem trabalho”

É a trabalhar na gestão de projetos sociais que Mariana Madeira Rodrigues se sente realizada tanto a nível pessoal como profissional. Falámos com a diretora executiva da Terra dos Sonhos sobre a sua missão à frente da instituição e os desafios que tem enfrentado desde que assumiu funções o ano passado.

Mariana Madeira Rodrigues é CEO da Terra dos Sonhos.

Apesar da breve passagem pelo curso de Engenharia dos Materiais, no Instituto Superior Técnico, foi no mundo das finanças que Mariana Madeira Rodrigues trilhou o seu percurso académico e o início do profissional. Concluiu o curso de Gestão de Empresas na EU Business School e fez uma pós-graduação em Finanças na Universidade Católica, começando desde logo a trabalhar no departamento financeiro da Hill+Knowlton Strategies em Portugal.

Pouco tempo depois, chegou a financial controller da Hill+Knowlton e, mais tarde, a diretora administrativa e financeira dos grupos Artegia SGSP (atual EssenTia) e Dot One SGSP, mas foi ao envolver-se na gestão de projetos sociais, mais concretamente enquanto diretora executiva da Casa dos Rapazes, uma instituição que ajuda crianças e jovens que são retirados pelo Estado às suas famílias de origem, que rapidamente se apercebeu de que era a trabalhar na área social que se sentia mais realizada a nível profissional e pessoal.

Mais tarde, decidiu apostar num MBA e trabalhou temporariamente enquanto freelancer em consultoria de projetos. A Terra dos Sonhos é o mais recente projeto no qual está envolvida e do qual é CEO, desde maio do ano passado, sucedendo a Mariana D’Orey, a sua fundadora. Falámos com Mariana Madeira Rodrigues sobre o legado que tem em mãos e os desafios que tem enfrentado ao comando da Terra dos Sonhos.

Qual é a sua missão à frente da Terra dos Sonhos?
A Terra dos Sonhos nasceu do sonho do Frederico Fezas Vital, que é uma pessoa que me inspira muito com as suas ideias e crenças. Partilho com ele, com a Madalena e também com a equipa toda da Terra dos Sonhos esta ambição de motivar e capacitar a saúde emocional, não só de crianças, jovens e idosos que estão em situações de vulnerabilidade (doença crónica, institucionalização e/ou isolamento), mas também a ambição de promover na sociedade em geral o desenvolvimento, o bem-estar emocional de cada um e a capacidade de sonhar e ir ao encontro do caminho mais feliz que cada vida pode vislumbrar.

Para mim é claro que o meu objetivo particular nesta organização é a de preparar o seu crescimento de uma forma estruturada, onde cada membro da equipa tem a liberdade, o tempo e a oportunidade de se ir conhecendo cada vez melhor, limando os seus pontos menos bons, afinando todas as suas facetas onde pode ser ainda melhor e sendo feliz a fazê-lo.

Em que medida o seu percurso anterior a preparou para assumir esta função?
Acredito que a vida nos vai sempre preparando para o que vamos vivendo e para os desafios que vamos assumindo. Concretamente no meu caso acho que o facto de ter começado a minha vida profissional no mundo empresarial me preparou para levar o profissionalismo, no que de mais positivo podemos tirar desta palavra, para o setor terciário. Similarmente, também o facto de anteriormente ter trabalhado no setor social me dá a vantagem de agora perceber onde se cruzam os dois mundos e o que de melhor se pode tirar de cada um.

Aliás, não me canso de dizer que, na minha perspetiva assumidamente sonhadora, mas com fundamento racional de quem acredita numa solução global para as gerações vindouras, a economia social deveria fundir-se com a economia capitalista… Mas isto seria outra conversa mais longa.

“Sinto a responsabilidade de continuar com ela [Madalena D’Orey] o trabalho que fez sozinha durante algum tempo, de levar o barco a bom porto, e fazê-lo crescer ainda mais na sua missão, sempre com os valores que pautaram o caminho desta Terra desde o momento zero.”

Como se lida com a responsabilidade de suceder a Madalena D’Orey, fundadora da instituição?
A Madalena, juntamente com outros amigos, acompanhou o Frederico desde início e conhece melhor do que ninguém “os cantos à casa”. Assume há uns anos atrás o papel de liderança da Terra dos Sonhos, numa altura particular em que foi preciso a sua coragem para que, num curto prazo, se atingissem os objetivos ambiciosos a que se propôs e sem os quais a Terra dos Sonhos não teria chegado aonde chegou.

Não considero que esteja a sucedê-la, uma vez que a Madalena continua muito ativa ainda que não em direção executiva. No entanto, sinto, sim, a responsabilidade de continuar com ela o trabalho que fez sozinha durante algum tempo, de levar o barco a bom porto, e fazê-lo crescer ainda mais na sua missão, sempre com os valores que pautaram o caminho desta Terra desde o momento zero, os quais destaco por tanto acreditar neles: a autenticidade, a cooperação, a criatividade, a paixão e a determinação.

Quais os principais desafios que tem enfrentado como diretora executiva da Terra dos Sonhos?
Assumi o desafio de diretora executiva na Terra dos Sonhos posteriormente a ter também agarrado o desafio de desenvolver e estruturar o projeto WeGuide, um projeto com grande potencial e que precisa de muito trabalho para crescer e ganhar forma. Este é, consequentemente, o maior desafio pessoal: a falta de tempo para tudo o que há a fazer – um desafio com o qual certamente me uno a muitas mulheres e mães de família de hoje em dia.

Constato adicionalmente um desafio noutro âmbito, que considero ser um dos maiores desafios de qualquer organização que esteja a crescer como está a Terra dos Sonhos: a definição de funções e tarefas de cada recurso e a implementação de processos operacionais que, se forem em excesso, limitam a autonomia e a criatividade da equipa, mas que se forem inexistentes tornam o trabalho em equipa mais confuso, ineficiente, prejudicando, sem dúvida, o médio-longo prazo da organização – isto quando os efeitos negativos da ausência desta estrutura bem definida não se revelam logo no imediato.

“Apaixonam-me os dias em que vemos no terreno o sorriso das crianças doentes ou institucionalizadas, dos idosos ou de quaisquer outras pessoas cuja vida é tocada pelo trabalho da Terra dos Sonhos.”

O que mais a apaixona naquilo que faz?
Várias vertentes me apaixonam no trabalho que desempenho atualmente. Por um lado, apaixonam-me os dias em que vemos no terreno o sorriso das crianças doentes ou institucionalizadas, dos idosos ou de quaisquer outras pessoas cuja vida é tocada pelo trabalho da Terra dos Sonhos. Acredito que esta é a principal motivação de todos os que fazem parte desta equipa. Podemos estar muito cansados, mas o nosso coração vai sempre muito cheio para casa quando testemunhamos a razão de ser do nosso esforço.

Por outro lado, apaixonam-me as pessoas com quem trabalho. O seu entusiasmo com os desafios que se vão desenhando, a sua abertura à ideia de que todos podemos sempre fazer mais e melhor, a partilha da convicção de que podemos trabalhar felizes uns com os outros, apesar de sermos tão diferentes, e assumindo-nos responsáveis também pelo crescimento de todos com os quais convivemos.

Por último, apaixona-me particularmente o desenvolvimento de um novo projeto incubado no Laboratório dos Sonhos. O WeGuide, que visa acompanhar pessoas diagnosticadas com doença oncológica e, mais tarde, qualquer doente com uma doença crónica. É um projeto com muito potencial e é muito gratificante ver uma visão a crescer, a tomar forma concreta no terreno, a ser co-construída por tantos parceiros de peso.

Que conselho deixaria a uma jovem que ambicione vir um dia a dirigir uma instituição deste tipo?
Primeiro diria que vale a pena! Que não deixe de sonhar fazê-lo e de concretizar o sonho. Que não existe nenhum outro caminho em que o salário emocional seja tão alto e em que o nosso trabalho seja tão recompensado – às vezes, um simples sorriso dá sentido a todo o esforço de um longo período! Mas diria também que não é um caminho fácil. É um caminho muitas vezes sem condições de trabalho, sem recursos mínimos, sem uma remuneração que se equipare minimamente ao mundo empresarial. É um caminho que até pode parecer por vezes frustrante se virmos o tanto que há a fazer, mas é um caminho muito bonito e de grande crescimento pessoal. Um caminho que só percorre quem tem a palavra “perseverança” inscrita no coração.

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