O meu maior desafio: Maria Gabriela Madeira

Maria Gabriela Madeira, Chief Operating Officer da empresa de cafés Kaffa, uma das mais importantes produtoras de café encapsulado em Portugal e na Europa, partilha os momentos mais críticos da sua carreira.

Maria Gabriela Madeira é Chief Operating Officer da empresa de cafés Kaffa.

Licenciada em Engenharia Civil pelo IST, Maria Gabriela Madeira abraçou a indústria alimentar por mero acaso.  Nunca pensou sair da área da construção, onde começou como fiscal de obras e deixou como administradora, 26 anos depois. A crise profunda que o país atravessava em 2012 levou-a a olhar para outros setores e foi assim que se deixou seduzir pelo projeto da Kaffa, uma das mais importantes produtoras de café encapsulado em Portugal e na Europa. Esta empresa, com 60 anos de atividade e origem na família fundadora dos Cafés A Brasileira, é um projeto 100% português, que tem sabido modernizar-se e que tem hoje uma capacidade de produção instalada de quase 500 milhões de cápsulas por ano, que abastecem o seu próprio sistema Kaffa e, através da produção de cápsulas compatíveis, também outros sistemas de máquinas de café expresso como Dolce Gusto, Nespresso e Delta Q, entre outros.

“Eu sou a verdadeira engenheira civil que ama de paixão a área da construção.  Nunca pensei sair deste setor, onde trabalhei 26 anos, porque tudo o que se vive nas empresas de construção, fascina-me – fiscalizar obras, dirigir projetos, gerir aprovisionamentos, fazer controlo de gestão e liderar os recursos humanos são todas tarefas que me encantam neste setor.  E foi exatamente neste mundo fascinante que vivi o meu maior desafio profissional: estávamos em 2012, em plena crise da construção, e exercia funções de administradora numa empresa do setor, a Opway.  A crise foi muito violenta e, em pouco tempo, uma empresa que tinha obras de Norte a Sul do país e também em países como Angola, Cabo Verde, Argélia e Moçambique, ficou com a sua atividade muito reduzida e com uma equipa de 1000 pessoas para gerir. Não tínhamos hipótese de manter todos os colaboradores e, infelizmente, tivemos de fazer despedimentos muito significativos. Tudo o que envolve a vida dos colaboradores e das suas famílias é para mim muito delicado por isso dediquei-me de alma e coração a acompanhar as consequências e sacrifícios de todos os elementos da equipa que tivemos de dispensar. Felizmente em todo o processo fui acompanhada pela diretora de Recursos Humanos que, de forma muito transparente e correta, geriu todos os dossiers com grande profissionalismo.

Muito recentemente e durante a crise provocada pela COVID-19, lembrei-me bastante deste “episódio”. Agora a trabalhar numa empresa familiar com 100 colaboradores, mas que é um dos mais importantes players em Portugal e na Europa no fabrico de cápsulas de café, e com a responsabilidade de trabalhar e de garantir a segurança de todos.  Desta vez, felizmente, tudo correu muito melhor e todos os colaboradores da Kaffa continuaram, e continuam, a trabalhar. As medidas de reforço de limpeza e higiene que implementámos na empresa permitiram que as equipas necessárias ao fabrico e entrega dos produtos (produção, armazém, torrefação e expedição) mantivessem a fábrica a funcionar e os restantes colaboradores estiveram em casa, em teletrabalho. Na minha função de Chief Operating Officer o mais complicado foi, mais uma vez, gerir as expectativas e a ansiedade das pessoas, desta vez com o desafio acrescido de o fazer de forma remota. Havia muito desconhecimento de tudo e os colaboradores estavam muito preocupados não só com a sua saúde, mas também com a sua situação financeira.

Agora, já com toda a equipa de novo no local de trabalho, o balanço é muito positivo: rapidamente conseguimos adaptar a empresa à nova realidade, coordenados por uma equipa comercial muito motivada e a trabalhar a partir de casa, não falhámos entregas aos nossos clientes e as dificuldades foram totalmente superadas graças à excecional equipa de trabalho, e ao bom ambiente que se vive em toda a empresa, que é gerida por uma terceira geração fortemente empenhada em dar continuidade ao legado que herdou.

Olhando para trás percebo que a minha experiência anterior foi muito importante para superar esta crise. As pessoas revelaram-se, mais uma vez, o mais importante ativo da empresa e quando regressei ao trabalho – depois de gerir a empresa em teletrabalho mais de dois meses – encontrei a equipa empenhada e motivada para agarrar os desafios que este novo contexto ainda pode implicar.”

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