O que mudou quando mudei: Maria Antónia Cadilhe

Há um ano, Maria Antónia Cadilhe decidiu pôr a vida corporativa de lado e regressar a tempo inteiro à escola. Nesta nova etapa, dedica-se à investigação, à docência e, em simultâneo, ao doutoramento.

Maria Antónia Cadilhe é investigadora na Universidade do Porto e docente na Porto Business School.

Depois de 22 anos em que desenvolveu a sua experiência em empresas de diferentes setores de atividade, dimensões e geografias, assumindo a direção das áreas de Gestão e Desenvolvimento de Talento, Cultura e Comunicação na Sonae e Grupo Mota-Engil, e de consultora na Deloitte e Hay Group, Maria Antónia Cadilhe está, há um ano, numa nova fase da sua vida.

Investigadora na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto e docente convidada na Porto Business School e Nova School of Business and Economics, está agora focada no doutoramento em Psicologia. Os principais interesses de investigação estão relacionados com o impacto das alterações demográficas no contexto de trabalho e com a promoção da autonomia do indivíduo na (re)construção de percursos profissionais ao longo do ciclo de vida. É licenciada e mestre em Psicologia pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto e membro da Comunidade de prática Life Design Studio da Universidade de Stanford.

 

“‘Maria Antónia, estás preparada?’

Ouvi esta pergunta vezes sem conta quando comecei a minha experiência profissional na consultoria. Da primeira vez perguntei: ‘preparada para quê?’ E a resposta foi: ‘preparada para mudar, todos os dias’. A partir dessa altura já só respondia com um sinal positivo e aproveitava a energia da pergunta para avançar.

Precisei de mais algum tempo para perceber como é que uma boa pergunta, vinda de um/a bom/boa líder, nos pode ensinar a ter outra perspetiva sobre a nossa vida profissional e, naturalmente, pessoal.

No meu caso, fez-me perceber desde cedo que mudar todos os dias é bem possível e que, com esta disciplina, desenhamos e construímos as maiores mudanças na nossa vida profissional. Fez-me decidir que não delegaria o desenho das minhas potenciais vidas profissionais em nenhuma empresa ou líder, por mais espetaculares que fossem. Permitiu-me constatar que podemos ter vários percursos, uns mais prováveis do que outros e que, antes de decidir, temos a possibilidade de “fazer uma viagem ao nosso futuro profissional” através de conversas com profissionais das áreas que ambicionamos integrar ou investir e, muito importante, que nunca estamos atrasados/as ou adiantados/as nessa mudança.

Ao longo da nossa vida profissional, cada vez mais longa, vamos ter muitos turning points, sejam estes desejados por nós, como o que agora experiencio, ou outros que, inevitavelmente, nos serão impostos.

Recuperei esta história quando recebi o desafio de partilhar o meu testemunho na Executiva em ‘O que mudou quando mudei’, porque o meu primeiro pensamento foi: continua a mudar muita coisa, todos os dias. Mas sim, mudou de forma mais intensa quando, em 2019, decidi deixar as minhas funções corporativas, redesenhar o meu percurso profissional e investir a totalidade do meu tempo na Academia.

Mudou o desafio, agora focado na investigação e docência, e mudou a equipa, agora constituída por jovens investigadores/as talentosos/as e docentes com uma longa e reconhecida experiência académica. Mudou o meu conforto nos temas por voltar a ser uma beginner e na humildade que precisamos de ter para aprender com quem está à nossa volta.

Mantém-se a convicção de que, ao longo da nossa vida profissional, cada vez mais longa, vamos ter muitos turning points, sejam estes desejados por nós, como o que agora experiencio, ou outros que, inevitavelmente, nos serão impostos. Acredito que se mudarmos todos os dias, se liderarmos o desenho e redesenho dos nossos possíveis percursos profissionais, vamos estar mais preparados/as para estes contextos de mudança que vivemos. Se olharmos de forma efetiva para esses mesmos desenhos, alguns deles muito diferentes, vamos descobrir que há um traço que é comum e que esse traço é o que melhor traduz o nosso propósito, transversal aos vários contextos em que trabalhamos e ao que se mantém quando mudamos.

Uma mudança profissional é sempre um risco, mas não é um ato de fé: é antes o resultado de um trabalho diário de aproximação aonde sentimos que queremos estar.

Pessoalmente, um ano depois, não podia estar mais realizada com a minha mudança. Não porque não tenha gostado muito da vida corporativa, dos desafios que me foram lançados e das pessoas que conheci e com quem aprendi, mas antes porque mantive o meu poder de agir e decidi onde quero estar e onde sinto que posso contribuir mais nesta fase da minha vida, tirando partido de tudo o que aprendi nos meus 22 anos de experiência profissional. Sinto também que esta realização foi construída, ou seja, que fui mudando quando decidi experimentar a vida Académica; quando comecei por dar aulas no MBA; quando participei num projeto de intervenção; quando optei por um horário em part-time na Sonae para conciliar/prototipar os dois desafios profissionais.

Uma mudança profissional é sempre um risco, mas não é um ato de fé: é antes o resultado de um trabalho diário de aproximação aonde sentimos que queremos estar. Como referem Bill Burnet e Dave Evans, trata-se de “get good at getting lucky”.

Para aqueles/as que estão com vontade de mudar ou vivem uma mudança imposta, lembrem-se que, mais do que o dia da mudança, há mudanças, todos os dias. A margem que temos, cuja amplitude é diferente em cada um de nós e em diferentes momentos da nossa vida, é valiosa e permite-nos prototipar conversas e experiências sobre o que achamos que gostaríamos de fazer no futuro: às vezes para concluir que queremos continuar a fazer o mesmo, mas com outro significado.

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