As 5 macrotendências que vão marcar 2023, segundo Marian Salzman

A conhecida "trendspotter” e senior vice president para a área da Comunicação da Phillip Morris Internacional, Marian Salzman, revela as 5 macrotendências que vão trilhar o nosso caminho este ano.

Marian Salzman é senior vice president da PMI International.

Depois de 2021 e 2022 terem sido anos marcados pelo início daquilo que pareceu um ataque implacável de ocorrências preocupantes — disparo da inflação, crise energética global, disrupções nas cadeias de abastecimento, incerteza económica, ascensão da extrema-direita, eventos climáticos extremos e destrutivos, desinformação em massa e, por último mas não menos importante, uma guerra na Ucrânia—, em 2023, Marian Salzman defende que sentimos necessidade de repensar todas as estruturas que, até hoje, tomávamos por garantidas, e de procurar caminhos alternativos a seguir.

Esta é a previsão de Marian Salzman, conhecida “trendspotter” e senior vice president para a área de Comunicação da Phillip Morris Internacional, que justifica que “enquanto sociedade global, estamos fartos do estado do nosso mundo e mais determinados do que nunca em mudar. Repensamos objetivos de vida, a cultura de consumo esbanjadora em que vivemos e os sistemas nos quais as nossas economias assentam”, explica Marian Salzman. “Rethinking Everything” será, assim, o mote para 2023, apoiado em “esperança e empoderamento” e na procura por propósito e estabilidade numa existência que tantas vezes nos parece “frenética e à deriva”.

Neste artigo revelamos-lhe quais são as principais macrotendências para 2023, segundo Marian Salzman, e de que forma vão moldar a nossa realidade no futuro.

1.Perder o controlo sobre a realidade

Os perigos das tecnologias deepfake, que recorrem a inteligência artificial para criar conteúdos ou identidades falsas, deixaram de ser um medo distante e vieram para ficar. Assim, a grande questão que enfrentaremos em 2023 e nos próximos anos é: “Em quê e em quem podemos acreditar?”. Com o atual cenário da desinformação e fake news, os países e as organizações terão como missão implementar políticas de apoio à literacia digital.

Será também importante não esquecer os riscos que as novas tecnologias acarretam para os cidadãos, como o DPDR (do inglês “depersonalization/derealization disorder” e que numa tradução livre significa “síndrome de despersonalização/desrealização”), um transtorno mental que deixa os indivíduos a sentirem-se distantes ou desligados deles mesmos, mental ou fisicamente, e/ou com um sentido muito reduzido da realidade.

2.”Tudo é uma farsa”

Numa altura em que as pessoas já não aceitam levianamente os cânones tradicionais do trabalho e o valor do ensino superior, também questionam o sistema no qual esses princípios se apoiam: o capitalismo. Este sistema económico que se instalou na Europa no início do século XIX e se difundiu pelo resto do mundo é hoje apontado como “a raiz de todos os males”, desde as desigualdades económicas às alterações climáticas, passando também pelo aumento das perturbações do foro mental.

Em termos laborais, fenómenos como o “lying flat” ou o “quiet quitting” vieram para ficar e é nas gerações mais novas que vemos uma crescente recusa em fazer os sacrifícios que os seus antecessores consideravam ser a norma. Daqui para a frente, subir a escada corporativa deixará de ser uma prioridade.

3.Normalizar a sustentabilidade

Segundo um inquérito da GlobeScan realizado em 17 países ao longo dos últimos 20 anos, a preocupação do público com as alterações climáticas atingiu em 2022 níveis históricos, com 65% dos entrevistados a classificar a situação como “muito séria”. Noutro estudo de 2022 da mesma consultora, realizado em 31 países, quatro em cada 10 entrevistados apontam a mudança climática como impedimento para ter filhos. Assiste-se claramente a uma forte mudança de mentalidades num curto espaço de tempo: com o aumento de eventos climáticos extremos, o que antes era considerado “teoria” ou “ponto de vista” agora é considerado ciência pela maioria das pessoas.

Isto está a impactar a forma como os consumidores tomam decisões de compra, quer nas grandes decisões, como casa ou automóvel, mas também nas mais pequenas. Em 2023 veremos mais inovações a nível de eco-mindfulness, com novos modelos de entrega, rótulos de produtos que indicam a pegada de carbono ou técnicas e produtos de sustentabilidade passiva, como asfalto permeável para áreas propensas a inundações, uma nova tinta ultra branca que reduz a necessidade de ar condicionado e pequenas florestas urbanas que promovem a biodiversidade e reduzem simultaneamente as temperaturas e a poluição. Nas deslocações, prevê-se que cada vez mais pessoas evitem viajar de avião, optando por viagens noturnas de autocarro ou comboio.

4.Aproveitar o poder do som

Mais do que nunca, o som é visto como uma possível solução para, pelo menos, um pouco do que aflige a sociedade moderna. Banhos de som ou mapas sonoros são hoje prescritos para acalmar e reduzir a ansiedade e mais pessoas estão a recorrer ao “ruído castanho” (do inglês “brown noise”, um som mais grave e profundo do que o popular “white noise”) para promover o relaxamento ou melhorar a concentração.

Este ano, continuaremos a explorar novas, mas também antigas, formas de aplicar o som em tratamentos de saúde, como as ligações entre a voz e a doença. Investigadores dos Institutos Nacionais de Saúde estão já a compilar dados de voz para desenvolver uma inteligência artificial capaz de diagnosticar, com base no discurso de uma pessoa, doenças como perturbações neurológicas, autismo ou até cancro.

5.Adaptar os nossos pequenos mundos

As pessoas estão a criar mundos cada vez mais pequenos centrados nas suas casas, que são também frequentemente os seus locais de trabalho. Além de procurar conforto, as pessoas sentem igualmente uma crescente necessidade de proteção contra tudo, desde vírus a eventos climáticos, até à incerteza laboral e à volatilidade das cadeias de abastecimento. A resposta passa por reforçar os lares com tecnologia, armazenar bens e ter muitas opções de entretenimento caso sejam necessárias para nos ajudar numa nova crise que aí venha.

Em 2023, assistiremos à transformação das nossas casas em santuários de saúde e bem-estar. Mais do que segurança ou conforto, que na última década se tem traduzido na adoção dos conceitos escandinavos de “hygge” e “lagoom”, desejamos encontrar empoderamento e autoconfiança. Há empresas que já oferecem experiências multisensoriais como sessões ou terapias aquáticas personalizadas, iluminação, sons e muito mais. A finalidade? Criar “refúgios” e a tão desejada segurança, para esquecermos o caos que continua a imperar lá fora…

 

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