José António de Sousa: Câmara de horrores — um país à deriva por questões ideológicas e falta de decisão

José António de Sousa a propósito do desencontro entre Pedro Nuno Santos e António Costa sobre a localização do novo aeroporto de Lisboa.

José António de Sousa fez a maior parte da sua carreira na liderança de multinacionais no estrangeiro.

José António de Sousa é gestor aposentado depois de quatro décadas na liderança de multinacionais de seguros.

 

Sobre o episódio absolutamente perverso da decisão tomada pelo ministro Pedro Nuno Santos (PNS) em relação à localização do novo aeroporto de Lisboa, à revelia (aparentemente) de tudo e todos, estará tudo dito e escrito, acho eu… mas não tenho bem a certeza, dados os contornos de surrealismo desta história muito mal contada.

Mesmo assim, em tudo quanto é OCS e canais televisivos foi um massacre narrativo e comentarista inusitado (alternado com outro, o do Congresso do PSD…), de tal ordem que acabei por desligar a televisão, e passei 48 horas sem ver noticiários, para poder manter, longe da demagogia e da especulação desenfreada, o equilíbrio e a sanidade mentais.

Este episódio apenas me suscita um par de comentários adicionais, que extravasam o próprio tema em causa.

1) A chegada de “Jotinhas” (todos os partidos, atenção…) carreiristas aos corredores do poder que, já nos seus quarentas, nunca trabalharam na vida real, está a levar a nossa vida política para níveis de mediocridade e surrealismo absolutamente inusitados. Sempre que achamos que já batemos no fundo, e que já não há qualquer forma de poderem surpreender-nos pela negativa, cai mais uma bomba atómica de ridículo superlativo, que esmaga em idiotice, incompetência, desfaçatez e mediocridade absolutamente tudo quanto já tínhamos vivido anteriormente.

2) O caso da localização do novo aeroporto para Lisboa é o mais escabroso “filme” da nossa jovem democracia. Começou a ser estudado nos anos 60, e cobre portanto todo o espectro da nossa democracia. Tivemos Des(Governos) de todos as formas, feitios e cores partidárias a mexer no caldeirão deste tema. Nos últimos 27 anos, dos quais 21 sob a batuta da governação PS, o tema tem andado em bolandas de ridículo em ridículo, sendo que um ministro do PS, o Mário Lino de péssima memória, afirmou taxativamente que nunca (jamais) o novo aeroporto de Lisboa seria na Margem Sul, para uns anos depois outro ministro do PS, o tal PNS sem espinha dorsal, dizer que tinha decidido fazer não um….mas dois aeroportos na Margem Sul! Um deles para ser desativado mal o outro estivesse pronto… Isto num país falido e endividado até ao tutano…

3) O chefe do jotinha PNS, António Costa, o maior animal político que tivemos até hoje no Portugal democrático (dá cartas aos antigos chefes dele, Mário Soares incluído ) vem muito humildemente dizer que a localização do novo aeroporto (que ele, matreiro, já sabe onde vai ser, pois não precisa de ninguém para decidir) tem de ser consensuada com o principal partido da oposição, aquele que PNS queria ostensivamente ignorar. Só que o recém-eleito líder da oposição, que também só pensa nas próximas eleições e no interesse pessoal dele e do partido, e não no interesse coletivo, já disse que não vai ser muleta do PS na decisão. Como o PS tem maioria absoluta, e não precisa de ninguém para decidir, o meu conselho de independente ferrenho (que serei até morrer) a António Costa é que decida de uma vez. Reúna todos os pareceres havidos e por haver dos últimos 50 anos, e não peça por favor mais nenhum, feche-se um fim-de-semana num hotel (ou então empresto-lhe a minha casa de Vilar de Mouros durante o festival, a piscina dá para ouvir o festival com um copo de gin tónico na mão, mas só no final do dia de trabalho!) a fazer um brainstorming com gente reconhecidamente competente na área (temos dos melhores quadros do mundo nas diferentes áreas de especialidade requeridas para o apoiar na toma de decisão), deixe à porta da sala jornalistas, comentaristas e sabujos “yes-men” partidários (incluindo o PNS), ouça a gente séria e competente, e DECIDA de uma vez por todas, homem ! Obrigue os que estiveram em sala a assinar um “confidenciality agreement” duríssimo, que lhes desgrace a vida se prevaricarem, para evitar o falatório e as “falhas de comunicação” que vão parar à mesa do Marques Mendes, dirija-se a S. Bento (arranja-se um local em Vilar de Mouros para o helicóptero aterrar), fale com o Presidente, explique-lhe as bases técnicas e políticas da sua decisão, obtenha o beneplácito, e faça uma comunicação ao país à saída, conjunta com o Presidente. Deixem a vossa imagem pública para a História contemporânea deste país ligada à decisão final sobre o novo aeroporto (Aeroporto António Costa & Marcelo Rebelo de Sousa, eu apoio), e não às trapalhadas místicas de jotinhas ambiciosos. E despeça o seu Diretor de Comunicação, nunca as trapalhadas comunicacionais foram tão grandes como quando ele começou a trabalhar.

4) Acabada a pantomima do aeroporto, e acabado o périplo europeu (a semente para o seu futuro cargo europeu está semeada), por tudo quanto lhe é querido na vida, dedique-se a gerir este país, sobretudo o omnipresente setor público, que está uma verdadeira Câmara de Horrores, tamanho é o caos gerado pela péssima gestão da causa pública. Vamos lá por o SNS e a Segurança Social a trabalhar decentemente, com gestão profissionalizada e que seja responsabilizada (para isso não podem ser boys), vamos acabar com a vergonha e o caos nos tribunais, vamos gerir e aplicar os fundos europeus do PRR com critério e competência onde mais reproduzam valor para o país, vamos acabar com a subsídio-dependência de dezenas de milhares de pessoas que só querem trabalhar uns meses até poderem ir para o fundo de desemprego, ou pedir um subsídio, que depois complementam com trabalho não declarado, podendo ganhar mais a ficar em casa, do que a trabalhar com contrato assinado, vamos desenhar um programa de ensino que prepare os nossos jovens para o futuro, não só nas competências técnicas, mas também como cidadãos do mundo com ética e princípios educativos universais de respeito pelo bem coletivo, e de participação cidadã na vida da comunidade, vamos, vamos, vamos…

Podia continuar a desenfiar o novelo, porque a bóia para evitar que este país se afunde está a crescer a olhos vistos. Mas hoje fiquemos por aqui.

DECIDA! Por favor…

 

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