A cerimónia da 5.ª edição do Prémio As Mulheres Mais influentes de Portugal decorreu ontem no Salão Dona Maria, da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa. A iniciativa da Executiva, que distingue as 25 personalidades femininas que se destacaram, em 2019, em diferentes áreas de atuação pelo seu trabalho, relevância social e impacto junto ao grande público, tem por base um estudo exclusivo feito pelo jornalista Filipe S. Fernandes.
A cerimónia contou com a presença da Secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade, Rosa Monteiro, além de várias premiadas e dos seus representantes. Coube a Isabel Canha, diretora da Executiva, a abertura do evento com algumas palavras sobre a sua missão. “Este é o único prémio que, em Portugal, distingue a influência das mulheres em várias áreas de atividade, com o objetivo de destacar a excelência do seu trabalho, o talento e o poder que têm de inspirar outras a terem carreiras de sucesso e perceber que é possível ser poderosa e influente e enfrentar as adversidades, seja na economia, na política, nas área cultural ou científica. O nosso objetivo com este prémio é incentivar cada vez mais jovens mulheres a atingirem todo o seu potencial.”
“Os espaços de fala devem ser representativos. Acreditem: as mulheres pensam, executam, lideram e sabem falar”, Rosa Monteiro, Secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade
Rosa Monteiro, Secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade, felicitou a Executiva pelo “trabalho permanente que fazem junto de mulheres profissionais de diversos setores, reforçando o poder, contactos, a partilha de conhecimento e interesses”, bem como ao contributo social das premiadas deste ano, pelo seu papel em “questionar o que é a influência e da liderança”, mas lembrou que o caminho para a igualdade e expressão da voz feminina na sociedade não está ainda consolidado. Referiu a polémica atual que envolve um conjunto de painéis de debate de reflexão, bem como de livros publicados que contam com a presença de especialistas e versam sobre vários temas de relevância sobre os tempos complexos que se vivem, mas “de onde as mulheres estão excluídas. Este é um sinal muito negativo de que os valores da igualdade não estão consolidados por parte de quem decide, que significam mesmo um retrocesso. Os espaços de fala devem ser representativos. Acreditem: as mulheres pensam, executam, lideram e sabem falar.”
Trabalhar pela verdade, “mesmo a mais inconveniente”
A entrega de prémios, patrocinada pela terceira vez pela SEAT e apresentada por Sónia Santos, locutora da Rádio Renascença, teve este ano algumas estreias. A jornalista da RTP, Sandra Felgueiras, responsável pelo programa de informação Sexta às 9, da RTP, foi uma delas, deixando uma incisiva mensagem sobre a importância do jornalismo de investigação no contexto atual. “Quem me conhece sabe que não trabalho para prémios e distinções, mas se este prémio significar ter influência na opinião pública e dizer a verdade todos os dias e semanas, mesmo as verdades mais inconvenientes e que muitos gostariam de ver silenciadas, então ele é para mim um orgulho reforçado e revogado. Ele significa também a continuidade do jornalismo de investigação na RTP e a necessidade do canal público de televisão manter este tipo de formatos.”
“Não trabalho para prémios e distinções, mas se este prémio significar ter influência na opinião pública e dizer a verdade todos os dias e semanas, mesmo as verdades mais inconvenientes e que muitos gostariam de ver silenciadas, então ele é para mim um orgulho reforçado“, Sandra Felgueiras, jornalista.
A jornalista dedicou o prémio, em especial, aos pais e à filha e à sua equipa de trabalho no Sexta às 9. às restantes premiadas dirigiu também algumas palavras “Sinto que são todas mulheres com um papel extraordinariamente importante na sociedade. Nunca calem a vossa voz, porque o que marca a diferença no nosso país são os exemplos de coragem e dizermos sempre o que pensamos, mesmo quando os outros não querem ouvir.”
Outra das 25 distinguidas foi a comunicadora e apresentadora da RTP Filomena Cautela que, não podendo estar presente, enviou uma bem disposta mensagem de voz dirigida à assistência. “Queria agradecer do fundo do coração à Executiva e ao trabalho que está a fazer a agregar mulheres extraordinárias. O futuro está neste entendimento entre todas nós e precisamos de um local onde discutir ideias e onde possamos falar na presença da mulher no mundo do trabalho, neste momento, nas várias diversas áreas, bem como o que podemos ainda fazer para melhorar o nosso trabalho e a nossa presença. Estou a trabalhar para que, no próximo programa, tenha um bocadinho desta missão que vocês também têm na Executiva, bem como todas as mulheres que ganharam este prémio ao longo dos anos, que é transformar este mundo em algo um pouco mais justo, inteligente e mais curioso.”
“Todos nós sabemos que estamos em tempos muito difíceis, mas particularmente os que estão em grupos de risco, como os idosos, e as mulheres artesãs”, Guta Moura Guedes, presidente da associação cultural ‘experimenta’.
No campo da Cultura, Guta Moura Guedes recebeu pela terceira vez a distinção da Executiva, pelo seu trabalho e currículo enquanto co-fundadora da “experimenta”, da qual é presidente desde 2000, enquanto diretora artística do Lisbon Gallery Design & Architecture, presidente da Associação Comporta Futuro, criado com o objetivo de promover o valor ecológico da região e dinamizar a produção cultural. Este ano tem ainda outro projeto em mãos, a Design Foundation for Women in Crafts, da qual aproveitou para falar na sua intervenção. “Tem uma preocupação cirúrgica com o universo mais fragilizado das mulheres artesãs no mundo inteiro. Todos nós sabemos que estamos em tempos muito difíceis, mas particularmente os que estão em grupos de risco, como os idosos, e as mulheres artesãs. Não só está em risco o seu saber, como a sua própria vida. A missão da Design Foundation for Women in Crafts é conseguir proteger as mulheres, trazer o seu conhecimento para a frente, pensar questões ambientais e de saúde, mas sempre dirigido às mulheres artesãs que estão apavoradas com o tema do Covid e que precisam da nossa ajuda.”
Ana Garcia Martins é outra das repetentes entre as distinguidas deste ano, pelo seu contínuo enquanto influenciadora e por continuar a ser uma das vozes mais expressivas nas redes sociais em Portugal. Já no púlpito e com mais um prémio em mãos, fez um discurso bem disposto sobre a sua incredulidade em integrar mais uma vez este lote de premiadas. “É o quarto ano consecutivo que estou aqui mas continuo com sérias dúvidas do porquê e todos os anos sinto um pouco de vontade de pedir desculpa a todas as outras pessoas que têm trabalhos a sério. Olhando para alguns dos critérios deste estudo, e sem pôr em causa o estudo seríssimo do Filipe Fernandes, diria que não é pelo poder, tenho sérias dúvidas na parte do talento e pela fortuna também não será, de todo. Por isso acredito que beneficiei do tal critério da subjetividade e espero que ele me traga também aqui para o próximo ano.”
“O poder de distribuir amor”
Mais uma vez foi também premiada Isabel Jonet pelo seu trabalho enquanto líder do Banco Alimentar Contra a Fome, que ganha expressão social em ano de pandemia, quando milhares de portugueses enfrentam sérias carências económicas, um cenário que não esqueceu no seu discurso de aceitação. “Se pudesse dizer que tenho alguma influência ou capacidade de poder, diria que é distribuir amor e permitir que outras pessoas o recebam. Nestes tempos estranhos em que vivemos e em que, de repente, muitas pessoas ficaram impedidas de ter qualquer rendimento, lançámos uma ideia nova, a Rede de Emergência Alimentar que, em dois meses, levou comida à mesa de mais 70 mil pessoas. Mas, se calhar, o mais interessante foram as mais de 1300 pessoas que se voluntariaram para colaborar. Esta capacidade de influenciar para o bem é aquilo que vejo aqui reconhecido e que queria partilhar com todas as pessoas que se apercebem que podem fazer a mudança nas áreas que escolhem e a que se dedicam.” Isabel Jonet salientou ainda o apoio decisivo da família, ao longo dos anos, como suporte para o seu papel à frente na instituição que lidera.
“Se tenho alguma influência ou capacidade de poder, diria que o é distribuir amor e permitir que outras pessoas o recebam.” Isabel Jonet, presidente do Banco Alimentar Contra a Fome
Entre a lista das 25 mais influentes do nosso país conta-se também a Procuradora Geral da República, Lucília Gago, que enviou uma mensagem de agradecimento lida por Sónia Santos. “Encaro esta seleção como reconhecimento do papel fulcral do Ministério Público, atentas as suas vastas e relevantes atribuições cuja prossecução pressupõe incessante e árduo esforço coletivo de larguíssimas centenas de magistrados, em prol da comunidade em que se inscrevem e a quem servem. O prémio atribuído está alicerçado nesse esforço coletivo, representando um estímulo pelo sinal de confiança no afinco e na determinação inquebrantáveis a que o Ministério Público saberá continuar a corresponder, sempre numa lógica de aprimoramento da sua intervenção.”
O contributo das cientistas num “ano bizarro”
A cerimónia prosseguiu com intervenções das premiadas no campo da Comunicação e da Ciência, não esquecendo as portuguesas mais notáveis do mundo dos negócios e das empresas.
“Estou muito feliz por estar aqui e por a Executiva ter mantido o prémio neste ano bizarríssimo que nos fez sair da nossa pele e da nossa moldura”, Júlia Pinheiro, apresentadora e diretora da SIC
“Estava a pensar a quem vou dedicar este prémio, este ano. Não tenho novidades para dar, não tenho um novo projeto ou programa novo, tenho boa vontade e estou muito feliz por estar aqui e por a Executiva ter mantido o prémio neste ano bizarríssimo que nos fez sair da nossa pele e da nossa moldura”, comentou Júlia Pinheiro, apresentadora e diretora da SIC. “Por isso, devo endereçá-lo a todas as mulheres, e também aos homens, que este ano e em circunstâncias tão difíceis estiveram a pontuar ao mais alto nível da sua capacidade de performance, não só das atividades profissionais mas sobretudo da vida das famílias e do suporte às crianças, bem como aos que conseguiam continuar a cuidar dos mais idosos. As mulheres são intérpretes extraordinárias na adversidade mas, este ano, os homens estiveram connosco.”
“Não queria deixar de homenagear todos os meus colegas cientistas, homens e mulheres que, neste ano da pandemia, mostraram tão bem como todos podemos colocar todas nossas capacidades, conhecimento ao serviço da comunidade”, Maria do Carmo Fonseca, cientista e professora
Maria do Carmo Fonseca, cientista, investigadora na área da genética e professora catedrática, distinguida com o Prémio Pessoa em 2010, marcou também presença neste evento da Executiva, que mais uma vez distinguiu o seu papel relevante na Ciência em Portugal. “Não queria deixar de homenagear todos os meus colegas cientistas, homens e mulheres, que trabalham lado a lado e que, neste ano da pandemia, mostraram tão bem como, de imediato e com planeamento, todos podemos colocar todas nossas capacidades e conhecimento ao serviço da comunidade e resolver problemas concretos, como foi o caso da falta de ventiladores ou da falta de testes.”
“Queremos fazer uma Ciência de excelência a pensar em vocês porque são os vossos impostos que nos permitem que nós, nas universidades e centros de investigação, possamos investigar”, Elvira Fortunato, cientista, professora e vice-reitora da Universidade Nova
Outra das cientistas que integra a lista das portuguesas mais influentes é Elvira Fortunato, que se distingue no campo da Engenharia dos Materiais e da eletrónica transparente e é vice-reitora da Universidade Nova. A investigadora e professora universitária lembrou que ainda há muito caminho a percorrer na Ciência e Academia em termos de igualdade de género. “No âmbito das Nações Unidas e dos seus 7 objetivos de sustentabilidade, um deles é exatamente a igualdade de género e a Academia está ciente disso. A Universidade Nova integra um projeto europeu que visa criar ferramentas neste sentido.” Depois de dedicar o prémio à sua equipa e à família, referiu: “Queremos fazer uma Ciência de excelência a pensar em vocês porque são os vossos impostos que permitem que nós, nas universidades e centros de investigação, possamos investigar.”
Já descrita como “a rainha das redes sociais” e uma das caras mais queridas dos portugueses no domínio da ficção, a atriz Rita Pereira foi também uma das premiadas deste ano. “Mesmo que não consiga influenciar os milhares de seguidores que tenho nas redes sociais para a igualdade de género, sei que há uma mini pessoa lá em casa que um dia vai crescer e saber que ‘a woman’s place is everywhere’ [mensagem inscrita na t-shirt da Executiva que a apresentadora Sónia Santos usou durante a cerimónia].
Cristina Ferreira, que ao longo dos cinco anos deste prémio tem liderado sempre a lista das mulheres mais influentes de Portugal, fez-se representar desta vez por Inês Mendes da Silva, da Notable, que justificou que a ausência da apresentadora pelas exigências acrescidas que a sua mudança recente da SIC para a TVI têm implicado na sua agenda.
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Veja o vídeo da cerimónia na íntegra aqui.