Falta a energia para continuar, o trabalho perde o sentido e passa a ser visto como uma penosa obrigação. O Burnout é o síndroma do esgotamento profissional. Para lhe escapar é imperativo saber valorizar outros aspetos para além dos quantitativos e dos resultados a alcançar e lembrar-se de que a vida não é só trabalho. A saúde física e mental tem de ser poupada e as empresas devem adotar atitudes mais profiláticas. Uma opinião defendida pelo psicólogo clínico, psicanalista e coach, João Sevilhano, em entrevista à Executiva.
Como identificar os sintomas?
Os sintomas não diferem muito dos que surgem em quadros ansiosos e depressivos: modificações do apetite, perturbações do sono, dificuldade em socializar, alterações de humor, dificuldades de concentração, problemas digestivos e respiratórios, cefaleias, fadiga extrema e constante.
Há diferenças entre géneros na forma de lidar com o stresse?
Cada um vive e resolve (ou não) os desafios de acordo com a sua forma de ser, mas acredito que as mulheres têm de lidar com pressões culturais e sociais maiores que as dos homens. Ainda se notam preconceitos no que diz respeito às mulheres no mundo do trabalho, na questão do assédio, nos estigmas associados à gravidez e à maternidade. As estratégias que homens e mulheres encontram para os enfrentar são moldadas pelas estereótipos sociais e culturais.
O burnout é um estado em que o stresse é de tal forma intenso e duradouro que se torna disfuncional e em sofrimento.
E como distinguir o burnout do ‘simples’ stresse?
A principal distinção está na frequência, na constância e na intensidade do que se sente. Pode ver-se o burnout como o estado em que o stresse é de tal forma intenso e duradouro que se torna disfuncional e em sofrimento. A distinção torna-se evidente com a incapacidade de recuperar de um estado de stresse circunstancial, de encarar situações que eram consideradas banais como indutoras de stresse, de não conseguir encontrar uma saída para esse estado, a dificuldade ou impossibilidade de encontrar um sentido.
Há formas de o evitar?
Do lado das empresas é importante não olhar as pessoas apenas como recursos – os “recursos humanos”. Creio que é imperativa uma humanização do e no mundo do trabalho, valorizando os aspectos afetivos, subjetivos e humanos, pelo menos da mesma forma como se valorizam os aspetos quantitativos e os resultados a alcançar. Do lado dos colaboradores é fundamental que adotem algumas atitudes positivas como estar atento à saude física e psíquica, evitar o isolamento, procurando apoio em terceiros e também considerar a ajuda profissional se forem excessivas as manifestações dos sintomas.
Como continuar a investir na carreira sem prejudicar a saúde?
É importante adotar uma postura de reflexão que permita encontrar sentido no que se faz profissionalmente, separar a pessoa que “é” daquilo que “faz”, e procurar uma integração harmoniosa entre as duas dimensões. Há que encontrar estratégias, formas de pensar e de sentir que permitam lidar com as incontornáveis frustações que a vida traz e conseguir encontrar um equilíbrio, sabendo que isso implica lidar com aspetos desagradáveis ou dolorosos e que ele não se alcança apenas na realização e na satisfação imediata dos desejos.
Grande parte dos problemas humanos nas organizações deve-se à fraca qualidade (humana) das chefias.
Os superiores hierárquicos podem ser responsáveis por este problema?
Em muitos casos, sim. Grande parte dos problemas humanos nas organizações deve-se à fraca qualidade (humana) das chefias. Tenho lidado com pessoas que enfrentam ambientes profissionais de verdadeiro terror e de violência extrema muito por responsabilidade do comportamento das chefias. Mas também tenho conhecido quem, apesar dos ambientes muito stressantes, desenvolveu recursos para boas integrações profissionais, e aqui as chefias contribuiram positivamente.
Ficam sempre marcas?
Sim, se o problema ficar mal resovido a probabilidade de um episódio semelhante se repetir é elevada. Mas com ajuda e desenvolvendo recursos de qualidade, essas marcas podem ser positivas e servirem até de aprendizagem.
SINAIS DE ALERTA
- Falta de motivação para trabalhar
- Frustração de dificuldade em lidar com ela
- Exigência desmesurada
- Culpabilidade
- Sensação de perda de capacidades físicas, cognitivas, relacionais e técnicas