Célia Carmo: “O MBA obriga a superar limites”

Célia Carmo procurou o MBA para crescer como gestora e líder, mas durante o programa decidiu mudar dos serviços e telecomunicações para a área industrial. Conheça o percurso da chief financial officer da Grupel e de como se preparou para conciliar o MBA com a sua vida profissional e pessoal.

Célia Carmo é CFO da Grupel.

Ter começado a carreira numa grande consultora marcou o percurso de Célia Carmo, atualmente chief financial officer (CFO) da Grupel. Licenciada em Economia, reconhece que foi na Deloitte que ganhou as ferramentas técnicas essenciais e uma formação intensa que ainda hoje fazem diferença na sua vida profissional. Seguiu-se uma experiência na Alemanha, que lhe mostrou novos métodos de trabalho, e outra em Angola, onde se tornou CFO e aprendeu boas práticas de desenvolvimento de carreira que hoje partilha com as suas equipas. No regresso a Portugal a necessidade de crescer como gestora e líder levou Célia Carmo ao Digital MBA, da Porto Business School. Depois de muitos anos a trabalhar na área de Serviços e Telecomunicações, área de onde não pensava sair, o MBA despertou-lhe o interesse pela área industrial, levando-a à Grupel, fabricante de geradores elétricos, assim que o programa terminou.

 

De que forma ter começado numa grande consultora moldou o seu percurso?

A Deloitte tinha um programa de recrutamento com a NOVA SBE que iniciava com um OpenDay na Deloitte. Depois desse OpenDay fiquei fascinada pela Deloitte. Conseguir fazer parte da equipa de corporate finance foi o melhor ponto de partida para a minha carreira. A Deloitte deu-me as ferramentas técnicas essenciais e uma formação intensa que ainda hoje faz diferença na minha vida profissional.

Recordo-me de iniciar funções na Deutsche Telekom Consulting (DETECON) bastante nervosa, tinha receio de não estar ao nível de exigência alemão, mas poucas semanas depois percebi que a Deloitte me tinha preparado muito bem para o desafio, aliás para qualquer desafio. A Deloitte dotou-me de uma base muito sólida de boas práticas e uma vez consultora para sempre fica a organização e o brio de consultora.

 

Ter trabalhado em diferentes países e em diferentes projetos trouxe-me uma riqueza de vivências que me tornaram uma pessoa mais calma a enfrentar qualquer problema.

 

Trabalhou em várias empresas, diferentes setores e com diferentes mercados. Que principais aprendizagens retirou dessa diversidade de experiências?

O facto de ter trabalhado em diferentes países e em diferentes projetos trouxe-me uma riqueza de vivências que me tornaram numa pessoa mais calma a enfrentar qualquer problema. Trabalhar fora do meu país, fora da minha rede de segurança não foi fácil nos primeiros anos, contudo com essa experiência veio também mais resiliência e enriquecimento pessoal e profissional.

O primeiro desafio veio com a mudança para a Alemanha e para a DETECON. Foi uma fase de crescimento pessoal em ambiente de trabalho. Trabalhar num país com uma cultura muito diferente da minha obrigou a uma adaptação rápida de postura e de posicionamento no dia-a -dia. A passagem pela Alemanha ficou marcada pela grande admiração pela forma como tudo funciona bem e de acordo com os processos estabelecidos, mas também pela adaptação psicológica a um ambiente profissional bastante austero.

A passagem por Angola e pela Unitel foi extremamente importante no campo profissional. Depois de 3 anos muito frios na Alemanha, fui recebida de forma calorosa na Unitel e recordo com muito carinho o tempo que passei em Luanda. Profissionalmente tive a oportunidade de trabalhar com um CFO fantástico que me ajudou a tornar-me CFO.

Nos três anos que trabalhamos juntos garantiu sempre que me colocava fora da minha zona de conforto para maximizar o meu crescimento profissional, mantendo sempre uma postura de mentor e não de chefe. É uma bênção ter um líder que é também um mentor. Retirei desta experiência boas práticas de desenvolvimento de carreira que hoje tento oferecer às minhas equipas.

A Deloitte ofereceu-me as ferramentas técnicas, a DETECON resiliência e a UNITEL proporcionou-me uma imersão profunda nos temas de gestão empresarial e deu-me a experiência on the job.

 

O que a levou a fazer o MBA e porque escolheu a Porto Business School?

Quando regressei a Portugal iniciei a procura do MBA que melhor se adaptava à vida familiar e profissional. Senti que depois dos conhecimentos adquiridos on the job era tempo de voltar a investir na minha formação e elevar as minhas skills como gestora e líder.

Em 2020 a PBS apresentou o Digital MBA, a opção que há muito procurava para conciliar vida profissional, pessoal e o MBA. O programa é muito rico, com um conjunto de disciplinas muito amplo, tem um excelente corpo docente e oferece uma flexibilidade muito interessante. Quando me candidatei a minha filha tinha 7 meses e sabia que precisava de um programa flexível que me permitisse conciliar as aulas com uma eventual recuperação de uma virose ou uma semana mais estressante no trabalho. Depois de ver a brochura preparei a minha candidatura em dois dias e fui a verdadeira early bird do programa. Não podia deixar passar esta oportunidade que a PBS acabava de me proporcionar.

 

Um MBA é uma viagem incrível, porém obriga a superar limites semana após semana. Obrigou-me a passar de organizada para super-organizada.

 

Como conciliou o MBA com a vida profissional e pessoal?

Foi um desafio diário durante 12 meses. Obrigou-me a passar de organizada para super-organizada.

Um MBA é uma viagem incrível, porém obriga a superar limites semana após semana.

Trabalho todos os dias para ter equipas autónomas e motivadas a aceitar o próximo desafio. Quando iniciei o MBA aproveitei para levar alguns elementos da equipa a aceitar novos desafios e responsabilidades. Nos meses entre a confirmação da aceitação da candidatura e do início do MBA apostei muito no desenvolvimento do plano de carreira da minha equipa. Assim, consegui libertar algum tempo e ser apenas rede de segurança em algumas atividades.

Pessoalmente, o meu marido foi um apoio fundamental para a gestão familiar diária. Houve dias que sem um apoio familiar forte seria extremamente difícil cumprir com os deadlines e estudo para exames.

Também muito importante é o companheirismo e o espírito de ajuda que se cria na turma do MBA e que faz com que todos os trabalhos se efetuem.

 

Qual o impacto que o MBA teve na sua carreira e na sua vida?

Iniciei o MBA com o propósito de melhorar as minhas competências e de me tornar uma líder que lidera pelo exemplo, contudo no último trimestre do MBA estava certa de que iria fazer bem mais do que isso.

Após muitos anos a trabalhar na área de Serviços e Telecomunicações, área de onde não pensava sair, o MBA despertou em mim o interesse por outras áreas, em particular a área industrial. No final do MBA decidi abraçar um novo desafio profissional na área industrial e só o consegui fazer com muita segurança devido aos conhecimentos adquiridos no MBA.

Terminei o MBA e voltei-me a colocar completamente fora da minha zona de conforto e iniciei mais uma jornada de aprendizagem.

 

Está há quase dois anos como CFO da Grupel. Quais os principais desafios que a sua função lhe coloca?

Internamente tem sido a retenção de talento. O distrito de Aveiro é conhecido por ser um distrito de pleno emprego, e há uma mobilidade fortíssima dos bons recursos.

A saída de um elemento da equipa implica sempre perda de conhecimento e tem implicado atrasos e adaptações no plano que tenho para o desenvolvimento da área financeira. É preciso reagir rápido, readaptar tarefas e manter a equipa residente motivada. Tem sido um desafio constante dos últimos dois anos.

Externamente, a instabilidade mundial que resultou em subidas exponenciais das taxas de juro, obrigou a repensar os financiamentos, projetos e planos de implementação.

Atualmente a incerteza quanto ao desenrolar dos conflitos mundiais traz mais uma variável para a mesa de trabalho.

 

Enche-me de orgulho que todos vejam a área financeira como um apoio e não como a área das burocracias e que para gestão da empresa consigamos dar informação on time para a tomada de decisão.

 

Quais os skills mais importantes que um CFO deve ter?

Para além das competências financeiras e contabilísticas para as tarefas base de uma área financeira, quando se é CFO de uma PME outras competências têm que estar associadas ao perfil. Numa PME em crescimento o CFO torna-se também o líder dos processos de mudança e um assessor dos seus peers.

No atual VUCA world, o CFO tem que ter a disponibilidade para auxiliar todas as áreas e garantir que a área financeira não está só a cumprir com as obrigações fiscais e com os reportes de performance passada. O CFO tem que ser um agente interno facilitador dos processos a decorrer e que ajuda na criação de valor.

Assim, competências pessoais como a capacidade de comunicação ou a empatia pelos problemas das outras áreas da empresa são a chave que quebra barreiras e agiliza processos.

 

Qual o projeto profissional de que mais se orgulha e porquê?

Esta questão é difícil dado que tenho muito orgulho de todas as equipas com quem trabalhei e recordo com grande alegria os vários projetos onde estive envolvida. No entanto, a transformação que realizei na área financeira da Grupel em menos de um ano deixa-me muito orgulhosa.

É verdade que iniciei na Grupel imediatamente após o MBA, cheia de vontade de aplicar os recentes conhecimentos adquiridos, obviamente que essa motivação extra ajudou a acelerar o processo.

Encontrei uma área financeira fechada e organizada de acordo com o calendário fiscal. Atualmente a área financeira criou pontes de ligação a todos os departamentos da empresa, incute agilidade aos processos e tornou-se o piloto do projeto de transformação digital. Foi trabalhoso, mas valeu todos os desafios, enche-me de orgulho que todos vejam a área financeira como um apoio e não como a área das burocracias e que para gestão da empresa consigamos dar informação on time para a tomada de decisão.

 

O equilíbrio entre ser mãe e C-level não é diário, haverá dias que serei mais mãe e dias em que estarei mais dedicada ao trabalho, mas no final do mês tenho que sentir que a balança está equilibrada.

 

Que objetivos tem para o seu futuro profissional?

Como mãe de duas meninas pequenas, uma de 4 anos e uma de 5 meses, o meu objetivo é trabalhar numa empresa que me permita ser uma profissional de excelência que inspira e motiva as suas equipas, todavia em simultâneo consegue também ser um exemplo para as suas filhas.

O equilíbrio entre ser mãe e C-level vai ser a minha estrela polar para o meu futuro profissional. O equilíbrio não é diário, haverá dias que serei mais mãe e dias em que estarei mais dedicada ao trabalho, mas no final do mês tenho que sentir que a balança está equilibrada.

Para uma mulher este objetivo é ainda um desafio! Trabalho todos os dias para mostrar que é possível.

 

Que conselhos deixa a uma jovem que queira fazer carreira na sua área?

Tenho atualmente uma jovem de 22 anos recém-licenciada em Economia na minha equipa. No primeiro dia, após as boas-vindas disse-lhe que também eu iniciei a carreira aos 22 anos e que a partir daí tem sido um crescendo de desafios, metas alcançadas e progressão.

Pedi-lhe que abraçasse os desafios que lhe fossem dados, mesmo quando parecem aborrecidos ou difíceis, aprendendo sempre o máximo possível. É importante viver muitas experiências, conhecer muitas pessoas, para saber o que nos faz feliz e gostamos verdadeiramente de fazer.

Muitas vezes irá sentir que as tarefas que lhe são dadas são básicas, mas será necessário dominar as básicas para evoluir e pouco a pouco tomar mais responsabilidades. Assim, sem dar conta, um dia será ela a ensinar as tarefas básicas, a contar uma história de como um dia teve de resolver um problema semelhante e a inspirar outra jovem recém-licenciada em economia.

 

Leia mais entrevistas de carreira com mulheres inspiradoras

Parceiros Premium
Parceiros