Desde pequena que geria a sua mesada como se fosse uma fortuna, e acredita ter sido esse o gatilho que lhe despertou a curiosidade sobre o mundo dos negócios. Com um percurso quase todo dedicado à consultoria de gestão, Catarina Marques começou a trabalhar na Deloitte, ainda antes de terminar a licenciatura em Economia, na Faculdade de Economia do Porto. A vontade de experimentar uma vertente mais tecnológica levou-a a mudar-se para a Logica TI (atual CGI), onde trabalhou em projetos de transformação e implementação de sistemas. Acabou por regressar à consultoria, juntando-se à PwC, onde já está há mais de uma década, tendo assumido este ano um novo cargo de liderança, como diretora na Linha de Serviço do Advisory.
O gosto e a curiosidade em continuar a aprender, aliado à vontade de reforçar as suas competências de liderança e alargar os horizontes, levaram-na a fazer o Executive MBA da Porto Business School. Uma experiência que considera enriquecedora e que a ajudou a “ser mais resiliente, objetiva e focada no longo prazo, mas também a despertar para novas formas de liderança mais inclusivas e próximas das pessoas.” Apesar de ter sido uma jornada intensa e desafiante, nem o facto de ter sido mãe, pela segunda vez, durante o programa, a fez desviar do seu propósito. Orgulha-se de ter feito uma boa gestão dos seus papéis, e garante que a prova disso “foi a conquista do lugar de melhor aluna do MBA.”
Formou-se em Economia, tem uma pós-graduação em Finanças, e tem trabalhado em consultoria. O que a atraiu nesta área e o que mais gosta naquilo que faz?
Desde pequena que geria a minha mesada como se fosse uma fortuna, definia prioridades nos gastos e até uma percentagem para poupança. Diria que foi este o despertar da minha curiosidade relativamente ao modo como os negócios funcionam. Este interesse foi crescendo e acabou por ditar a minha escolha pelo curso de Economia na Faculdade de Economia do Porto. Ainda na faculdade, comecei a assistir a apresentações de várias consultoras e a procurar perceber mais do que era afinal isto da consultoria. Como tinha (e ainda tenho!) medo da monotonia e do afunilamento de conhecimentos, sempre procurei oportunidades que me permitissem abrir horizontes e me proporcionassem diferentes experiências. A área de consultoria parecia ser a opção que melhor se encaixava no meu perfil, e na verdade, a escolha não me desiludiu. A multiplicidade de projetos, clientes, equipas e contextos a que fui exposta enquanto consultora de gestão, permitiram-me obter, não só competências técnicas e de gestão de pessoas, como também me ajudaram a desenvolver um sentido de dinamismo, flexibilidade, resiliência e espírito de equipa, críticos no mercado atual. Hoje, continuo a sentir que o meu trabalho gera valor e impacto, o que me mostra que estou no caminho certo.
Começar uma equipa quase do zero implicou muitos momentos de solidão e insegurança, sobretudo por ter de agarrar temas que não dominava e que estavam sujeitos ao escrutínio interno e de equipas globais da PwC.
Está há mais de uma década na mesma empresa. Qual o segredo da longevidade da sua relação com a PwC?
Confesso que nunca achei que me manteria tanto tempo na mesma empresa, mas tenho de admitir que estes anos foram francamente positivos e me permitiram conhecer e trabalhar com profissionais incríveis que me ensinaram e são uma referência para mim. Mesmo nos momentos menos positivos (que existem em qualquer carreira e em qualquer empresa), sinto que sempre consegui ‘dar a volta’, aprender e evoluir como profissional e como pessoa. Acho que o segredo é mesmo esse, ter a capacidade de enfrentar os desafios, e superar as adversidades sempre com novas aprendizagens. E como não gosto de deixar as coisas a meio, pensava: “fico só até conseguir atingir esta etapa ou superar-me neste projeto”, mas logo depois aparecia um outro projeto, igualmente estimulante e, num piscar de olhos, passaram-se mais de 10 anos!
Desde há três anos que ocupa um novo cargo de liderança. Qual a parte mais desafiante da sua função?
Quando fui convidada a integrar a equipa de Risk & Quality do Advisory sabia que seria desafiante, não apenas pela importância crescente que estes temas assumem nos dias de hoje, mas também porque a expectativa associada a esta função era elevada, considerando o seu objetivo de suporte transversal às diferentes unidades de negócio do Advisory na gestão dos riscos estratégicos e operacionais da sua atividade e contexto macroeconómico. Começar uma equipa quase do zero implicou muitos momentos de solidão e insegurança, sobretudo por ter de agarrar temas que não dominava e que estavam sujeitos ao escrutínio interno e de equipas globais da PwC.
Atualmente, com uma equipa estruturada e que apoia mais de 400 colaboradores, as “lutas” são bastante diferentes. O facto de assumirmos um papel de relevo na tomada de decisão exige que estejamos sempre a par e a estudar as tendências de mercado e novas tecnologias, antecipando o seu impacto no negócio e no plano estratégico. Por outro lado, é necessário balancear a pressão dos timings comerciais com os requisitos da rede internacional, repensando constantemente processos e tornando-os mais ágeis. Já para não falar na complexidade da gestão dos riscos tecnológicos numa cultura altamente digital. Nunca tenho um dia de trabalho igual, o que é muito positivo em termos de motivação, mas também exigente em termos de preparação.
Quais as principais etapas do seu percurso profissional e que mais-valias retira de cada uma dessas experiências?
Iniciei o meu percurso profissional na Deloitte na área de Consulting, tendo sido recrutada ainda antes de terminar a licenciatura. Mais tarde e com vontade de experimentar uma vertente mais tecnológica mudei para a Logica TI (atual CGI), onde trabalhei em projetos de transformação e implementação de sistemas em empresas de utilities. Acabei por regressar a uma consultoria mais tradicional quando entrei na PwC, movida pela vontade de voltar a trabalhar em setores de atividade e tipologias de projetos mais diversificados.
É inegável que todas estas experiências me enriqueceram, permitindo obter um conjunto de competências técnicas e transferíveis que me definem enquanto profissional. A multiplicidade de empresas, desde startups a cotadas, e setores de atividade em que trabalhei possibilitaram-me compreender várias problemáticas e realidades organizacionais, enquanto a necessidade de apresentar resultados rápidos me obrigaram a desenvolver estratégias de trabalho mais eficientes e de gestão do tempo. Por fim, a possibilidade de gerir diferentes equipas e lidar com vários interlocutores, desde o CEO ao operador de fábrica, forçou-me a desenvolver competências sociais e comportamentais, fundamentais num mundo que se quer cada vez mais empático.
Nunca senti que [ser mulher e mãe] fosse nem uma vantagem, nem um fator de exclusão, pelo menos, nos momentos decisivos da minha carreira. A título de exemplo, durante este ano, mesmo grávida da minha terceira filha, fui promovida a diretora.
Que competências, hábitos e atitudes a ajudaram a chegar à posição que hoje ocupa? O facto de ser mulher alguma vez dificultou ou facilitou o seu trabalho?
Olhando em retrospetiva, acredito que é imprescindível sermos os nossos maiores críticos. Num mundo em mudança, só podemos ser diferenciadores se formos curiosos e empreendedores, independentemente do género, da função ou posição. A capacidade de irmos além do que são as nossas competências de formação e interesses é fundamental para sermos profissionais mais completos e versáteis. Temos de estar atentos ao que nos rodeia, ter a capacidade de antecipar as novas tendências tecnológicas, a evolução do mercado, as exigências do capital humano ou mesmo a disponibilidade de recursos.
Quanto ao facto de ser mulher ou mesmo mãe, nunca senti que fosse nem uma vantagem, nem um fator de exclusão, pelo menos, nos momentos decisivos da minha carreira. A título de exemplo, durante este ano, mesmo grávida da minha terceira filha, fui promovida a diretora. No entanto, tenho de admitir que a minha experiência está muito condicionada pelo meu contexto e integração numa empresa que promove uma política igualitária. A consciência de que muitas mulheres ainda veem o acesso a oportunidades profissionais limitado pela vida familiar levou-me a juntar ao Women in Business (WiB) da PBS, um clube inspirador que pretende alertar para a desigualdade de género no contexto empresarial, promovendo atividades de sensibilização junto da comunidade alumni.
Qual o projeto de que mais se orgulha na sua carreira?
Considero-me uma sortuda, porque tive o privilégio de participar ativamente em vários projetos dos quais me orgulho pelo impacto, inovação ou mesmo pelo reconhecimento obtido. Mas se tiver de selecionar apenas um, posso dizer que sinto um carinho especial pela equipa que integro e que ajudei a criar na PwC, pelo facto de, num curto espaço de tempo, ter atingido o reconhecimento do seu valor a nível nacional e internacional na PwC.
Porque decidiu fazer o Executive MBA e porque escolheu a Porto Business School?
Num momento de reflexão de carreira, cheguei à conclusão que pretendia consolidar as competências de liderança e atualizar conhecimentos de gestão, estratégia e empreendedorismo. Em conversa com a minha coach da PwC, consideramos que um MBA seria a melhor opção não apenas pela diversidade formativa, mas também pela possibilidade de estabelecer networking. Como não pretendia deixar de trabalhar, nem de prestar suporte à minha família, o Executive MBA da Porto Business School apresentava-se a escolha natural, uma vez que me permitia não só aceder a uma escola credenciada e bem posicionada nos rankings internacionais, como conciliar com as restantes dimensões da minha vida.
Para além do feedback que recebi de amigos e colegas que tinham frequentado o programa ser muito positivo, também o perfil dos alunos do Executive MBA era mais próximo daquilo que procurava em termos de networking: profissionais bastante experientes e provenientes de vários sectores. A decisão final acabou por ser assim bastante fácil.
O Executive MBA superou largamente as minhas expectativas. Enquanto profissional, ajudou-me a ser mais resiliente, objetiva e focada no longo prazo, mas também a despertar para novas formas de liderança mais inclusivas e próximas das pessoas.
Como é que o MBA contribuiu para definir e implementar o seu propósito e atingir os seus objetivos profissionais? Onde ambiciona estar daqui a cinco anos?
Honestamente, o Executive MBA superou largamente as minhas expectativas. Enquanto profissional, ajudou-me a ser mais resiliente, objetiva e focada no longo prazo, mas também a despertar para novas formas de liderança mais inclusivas e próximas das pessoas. Por outro lado, o acesso a um corpo de docentes inspirador e a partilha de experiências permitiram-me abrir horizontes e contactar com novas ferramentas de trabalho, áreas de interesse, como o GenAI ou a economia verde, ou mesmo estratégias de transformação e crescimento sustentável que irão ditar o futuro das organizações.
Em termos pessoais, tive ainda a sorte de conhecer colegas incríveis que contribuíram para tornar esta jornada mais leve e enriquecedora. Posso dizer que fiz amigos para a vida!
Quanto ao futuro, digo sinceramente que hoje não penso tanto no “onde”, mas mais no “como” quero trabalhar. Garantidamente, quero continuar a sentir-me realizada no que faço, independentemente da empresa, função ou cargo. Se continuar a chegar ao final do dia a sentir que continuo a evoluir e que o meu trabalho cria valor e gera impacto, estarei garantidamente feliz!
Como conciliou o MBA com a sua vida profissional e pessoal?
Apesar de intensa e muito desafiante, a jornada do MBA acabou por ser mais fluída do que esperava. Mesmo tendo sido mãe pela segunda vez durante o curso, consegui manter o foco nos resultados e a motivação para aproveitar ao máximo esta experiência, o que incluía não só a componente académica, como também os momentos de networking e atividades promovidas pela PBS. Para tal, foi fundamental fazer uma gestão ótima do meu tempo, definindo prioridades claras e dizendo ‘não’ ao que era dispensável ou não urgente. Para ser mais eficiente, os meus dias eram meticulosamente divididos em blocos temporais de foco em cada uma das dimensões da minha vida. Apesar de ter perdido alguma espontaneidade durante este período, este planeamento dava-me tranquilidade por saber que estava preparada para gerir imprevistos e fluxos de trabalho.
Também a camaradagem e entreajuda entre colegas foram decisivos para manter a motivação alta (‘If everyone is moving forward together, then success takes care of itself’). E claro, nada seria possível sem o suporte incondicional da minha família que me ajudou a aliviar a minha ausência e o peso na consciência, sobretudo nos momentos de maior stress. No cômputo geral, sinto que consegui fazer uma boa gestão dos meus papéis. Prova disso, foi a conquista do lugar de melhor aluna do MBA, assim como a atribuição do prémio Carlos Barral pelos meus colegas de curso.
Que conselho deixaria a uma jovem executiva que queira fazer carreira na sua área?
Primeiro, que as carreiras não podem ser vistas como um percurso linear de ascensão, como uma escada; mas sim como um conjunto de ciclos com avanços e retrocessos que nos permitem um processo interno de transformação como pessoas e profissionais. Com isto em mente, e independentemente da área de especialização, que deve investir nas chamadas competências transferíveis. São essas que lhe permitirão ser flexível e darão confiança para abraçar diversos desafios, independentemente da empresa, setor de atividade ou função. Segundo, que não deixe que as suas escolhas sejam limitadas por inseguranças, ideias pré-concebidas ou preconceitos. As adversidades podem ser também momentos de crescimento e sobretudo auto-conhecimento, obrigando-nos a inovar e a ‘pensar fora da caixa’.
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